Diário do Alentejo

Nova campanha arqueológica no Outeiro do Circo

22 de julho 2021 - 10:35

A última campanha do projeto arqueológico Outeiro do Circo (PAOC) vai realizar-se entre os próximos dias 2 e 27 de agosto e pretende concluir os trabalhos desenvolvidos desde 2019, que permitiram a descoberta de um troço da muralha da Idade do Bronze e novos dados relacionados com a ocupação do sítio durante a Idade do Ferro.

 

As escavações arqueológicas irão incidir numa área da muralha que revelou um bom estado de conservação, detetando-se um muro em pedra, rampas de barro cozido e um possível fosso, e que permitiu a recolha de grande quantidade de cerâmicas e restos faunísticos da Idade do Bronze Final. Esta campanha será a última do projeto, dando-se por terminado um ciclo de investigação sobre o Outeiro do Circo e que incluirá a realização, até final do ano, de um colóquio em Beja de balanço e encerramento dos trabalhos realizados ao longo dos últimos 13 anos

 

A equipa científica, coordenada pelos arqueólogos Miguel Serra, Eduardo Porfírio e Sofia Silva, contará com estudantes de arqueologia das universidades de Coimbra, Évora e Santiago de Compostela, para além de participantes de outras áreas de formação e arqueólogos profissionais.

 

Devido à situação pandémica, a equipa do Projeto Outeiro do Circo decidiu não realizar o ciclo de conferências que habitualmente organiza nestas datas, mas irá manter as ações de formação destinados aos voluntários. De igual forma não serão desenvolvidas as atividades de educação patrimonial dirigidas a grupos de jovens em férias, mas haverá a possibilidade de receber pequenos grupos em visitas guiadas aos trabalhos arqueológicos, sendo asseguradas todas as medidas de proteção necessárias.

 

O Projeto Outeiro do Circo conta com o financiamento da Câmara Municipal de Beja e com o apoio da União de Freguesias de Santa Vitória e Mombeja e da empresa de arqueologia Palimpsesto.

 

Recorde-se que o “principal destaque” da campanha de 2020 foi a descoberta de um troço de uma muralha da Idade do Bronze, que “já era conhecida de trabalhos anteriores”, tendo sido igualmente “documentada a presença de vestígios” da Idade do Ferro junto à muralha, “maioritariamente” materiais cerâmicos, incluindo diversas peças decoradas e alguns recipientes fragmentados e elementos de adorno metálicos. “Estes indícios não permitem ainda esclarecer a natureza da ocupação do Outeiro do Circo durante a Idade do Ferro, período em que já estaria abandonado, mas continuaria ainda a ser frequentado pelas populações que habitariam sobretudo nas zonas de planície envolventes”, explicou o diretor científico das escavações, o arqueólogo Miguel Serra.

 

O Outeiro do Circo, que terá sido o grande centro de poder regional antes da cidade de Beja, que se desenvolveu a partir da Idade do Ferro, no século VII a.C., tem sido alvo de trabalhos arqueológicos desde 2008. Os trabalhos do projeto de investigação que termina este ano têm como principal objetivo “clarificar a ocupação do espaço interior do povoado, documentando os aspetos do seu quotidiano e a respetiva articulação com as muralhas que o rodeavam na totalidade, e conhecer melhor as ocupações de períodos posteriores à Idade do Bronze, sobre as quais têm surgido alguns indícios nos últimos anos”.

 

Na região onde se insere o povoado do Bronze Final do Outeiro do Circo, a agricultura e a pecuária sempre moldaram a paisagem e os ritmos da atividade humana. Do seu cimo, a meros 276 metros de altitude sobre a vasta planície circundante, assiste-se hoje a uma transformação agrícola de larga escala, com a monocultura intensiva de olival a ocupar toda a terra. Em simultâneo observa-se a regressão dos anteriormente vastos campos cerealíferos, a teimosa resistência de algumas manchas de montado, a escassez da floresta mediterrânica no cimo de algumas colinas e os ténues bosques ripários nas secas linhas de água que sulcam os terrenos de barro preto. Há três mil anos, este território era a base de exploração de um regime agropecuário que permitiu a emergência e consolidação de uma comunidade capaz de construir as muralhas complexas de um dos mais vastos povoados conhecidos no sudoeste ibérico, durante a última etapa da Idade do Bronze.

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