Diário do Alentejo

“A tarefa deste blogue é ter intervenção cívica”

09 de julho 2021 - 11:15

O “Praça da República” comemora 18 anos de existência. O “Diário do Alentejo” falou com João Espinho, criador e administrador deste blogue bejense.

 

Texto José Serrano

 

Qual a principal tarefa que o “Praça da República” tem desempenhado?

 

Criei o blogue num período em que a cidade de Beja “sofria” as obras do programa Polis, onde tudo se destruía, em nome do futuro, mas sem a participação dos cidadãos – que viam as transformações avançarem sem que lhes fosse pedida uma opinião. Nas sessões públicas a que assisti, tudo era já apresentado como definitivo, sem que as nossas opiniões fossem tidas em conta. A destruição da icónica Praça da República levou-me a criar um blogue que servisse de plataforma de debate sobre o que estava a acontecer, na nossa cidade. Obviamente que os detentores do poder autárquico e os seus fiéis apoiantes não gostaram de uma “coisa” que não sabiam o que era, nem podiam controlar. Mas o “Praça da República” foi crescendo na sua, quase diária, intervenção. A tarefa deste blogue, que deverá ser a de qualquer cidadão, é questionar, apontar erros, transmitir sugestões, ter intervenção cívica.

 

Quem são os principais frequentadores desta “mesa de café”, onde, como diz, se discute a cidade de Beja?

 

Não tenho dúvidas de que são os bejenses, e os que aqui residem, quem mais visita e intervém no blogue. Sei que os detentores de cargos públicos locais também são assíduos visitantes. O cidadão comum é, porém, quem mais participa com comentários, por vezes inflamados, que tento moderar, não publicando algumas ofensas, se assim as considerar.

 

O poder político tem convivido bem com estas “tertúlias”?

 

Claro que preferiam que não existisse esta tertúlia, pois não a podem controlar e não a podem calar, apesar de diversas tentativas. Dou como exemplo um blogue, “anónimo”, que foi exclusivamente criado para me atacar, lançando publicamente infâmias e injúrias, com o intuito de me calar. Quando foi revelada a identidade da criadora anónima, o blogue fechou, o que revela a hipocrisia de algumas pessoas – incapazes de dizer as coisas, olhos nos olhos. Vivia-se no tempo em que o Partido Comunista dominava a cidade. Passados alguns anos, agora com o Partido Socialista a ser o “dono” da cidade, as tentativas para calar o blogue são mais sofisticadas, mas trouxe ao “Praça da República” mais comentadores, incomodados com o que ali se escreve.

 

Agora, após atingida a maioridade, qual o caminho que almeja para o “Praça da República”?

 

Gostaria de ter mais tempo para dedicar ao blogue – vivemos, em Beja, tempos estranhos, onde muita coisa se faz sem nada se fazer. A cidade atingiu um ponto em que só se olha para o imediato, não havendo projetos que visem o futuro de quem aqui nasceu, que se vê obrigado a abandonar uma inútil capital de distrito, governada ao sabor de políticas de ocasião. Espero que o blogue possa prosseguir o caminho do debate e, sempre que necessário, de denúncia de práticas que em nada contribuem para inverter o caminho do marasmo.

Comentários