Diário do Alentejo

Fim das corridas de toiros na RTP lança polémica

03 de junho 2021 - 00:00

As touradas vão deixar de fazer parte da programação da RTP já este ano. O novo contrato de concessão não permite que sejam transmitidas mais corridas de touros na televisão pública.

 

Texto Marta Louro

 

Pedro do Carmo, presidente da Comissão Parlamentar de Agricultura e Mar, diz que o Estado “deve assegurar serviços públicos universais nas áreas vitais para os cidadãos e para o país”, criticando a exclusão das corridas de toiros da programação televisiva. “O país é plural, diferenciado e não pode estar sujeito a lógicas de circunstância ou de segregação como acontece com a proposta de contrato de concessão do serviço público de rádio e de televisão em consulta pública. Excluir a possibilidade de transmissão de touradas no serviço público significa dizer que todos pagaremos o serviço com os nossos impostos, mas a programação despreza parte dos contribuintes. As touradas são parte da diversidade do país, das tradições de muitas comunidades e um pilar importante do mundo rural e das economias locais”.

 

Para o também deputado do PS eleito por Beja, “não é possível construir uma sociedade democrática, plural e inclusiva com manifestações arbitrárias de segregação de parte da população, impondo uma ditadura de gosto, uma visão parcelar, maniqueísta, sem cuidar que há um mundo rural que existe, precisa de viver e em relação ao qual nem sempre há a atenção e o investimento adequado”.

 

“Um serviço público parcial, intolerante com algumas expressões da sociedade, não é democrático. É incompatível com a visão de Abril e com a Constituição, não pode ser aceite pelos democratas porque encarreira nas práticas de outros regimes”, acrescenta Pedro do Carmo. “As touradas existem, são parte da diversidade da sociedade portuguesa. Não é possível persistirem num ataque permanente e intolerante a expressões do mundo rural, sem que, em algum momento, tivessem estado preocupados com a necessidade de assegurar mínimos de qualidade de vida a quem vive nesses territórios, longe dos corredores do poder, das pseudo-elites urbanas e de quem não tem noção da vida concreta do país fora dos grandes centros urbanos”.

 

Trata-se de uma opinião partilhada por Joaquim Grave, proprietário da ganadaria Murteira Grave, segundo o qual foi com “absoluta estupefação” e “alguma revolta” que recebeu a notícia, “por constatar a total prepotência e despotismo de quem nos governa sem qualquer respeito por uma faixa enorme de portugueses”.

 

Em seu entender, as touradas “não definem a cultura de um povo, fazem parte da cultura dos povos mediterrânicos de que Portugal faz parte. Se nos focarmos somente em Portugal, é fácil ver as audiências e ‘shares’ que apresentam as transmissões de touradas”. Acabar com elas, refere, é estar a “prejudicar” a própria televisão pública.

 

“O que pode ser feito é banir quem toma estas decisões e colocar [no lugar] alguém que tenha a noção, por exemplo, do benefício ambiental que a criação do toiro bravo aporta ao ser criado em sistemas de produção extensiva, onde as explorações agrícolas onde vivem são das raras que têm um ‘superavit’ ecológico, contrariamente à maioria que ostentam um deficit ecológico (consomem mais recursos que aqueles que produzem)”.

 

Também Vítor Besugo, presidente da Junta de Freguesia de Beringel, e aficionado, alinha no coro de críticas: “Trata-se de um canal que é pago por todos os contribuintes do país, e por isso, também [os aficionados] têm direito a ter uma opinião e a verem os programas que gostam”.

 

“Estamos a falar da tauromaquia, que é uma arte e uma cultura que caracteriza muitos povos e é uma cultura que está muito enraizada em certas regiões do país, como é o caso do Alentejo, onde desde pequenos, os miúdos assistem e participam nas largadas e garraiadas à alentejana”, acrescenta Vítor Besugo.

 

“TRADIÇÕES DEVEM SER RESPEITADAS”

 

“As touradas são um espetáculo secular e as tradições devem ser respeitadas”, diz o cavaleiro Tito Semedo, que manifestou ao “DA” o seu “total desacordo” pelo fim das corridas de toiros na RTP. “Não é a ministra da Cultura que é anti-taurina, mas sim o primeiro-ministro, António Costa, que é contra este tipo de atividade cultural”. Tito Semedo acrescenta que, com esta medida, a atividade tauromáquica “pode enfrentar uma grave crise” pois, a transmissão das corridas de toiros na televisão constitui uma “publicidade forte” ao setor. “O Governo sabe que ao não deixarem transmitir, a divulgação do espetáculo é muito menor”, conclui.

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