Diário do Alentejo

Hotelaria alentejana “afundou” mais de 80 por cento

03 de maio 2021 - 17:30

No Alentejo, em fevereiro de 2021 houve 40 433 dormidas em unidades turísticas, das quais 17 617 nos hotéis da região. São números que traduzem uma quebra acentuada face ao mês homólogo do ano passado, o mês anterior ao confinamento provocado pela covid-19. E que espelham o ano de crise que se abateu sobre as empresas do setor turístico.

 

Texto Marta Mouro

 

Em fevereiro de 2020, já com os efeitos da pandemia de covid-19 a fazerem sentir-se a nível mundial mas ainda sem registo de casos positivos em Portugal, o turismo “dava cartas” no Alentejo: 168 mil dormidas nas unidades da região, 90 mil das quais em hotéis e as restantes em unidades de turismo rural, alojamento locais, entre outras.

 

Passado um ano, e de acordo com uma análise feita pelo “DA” a dados disponibilizados pelo Instituto Nacional de Estatística, a realidade é bem diferente: menos 127 mil dormidas. Nos hotéis da região ficaram alojadas 17 617 pessoas, uma quebra de 81 por cento. Números que acompanham a tendência nacional:  “Desde o início da pandemia, fevereiro foi o terceiro mês com maior redução do número de dormidas, tendo sido apenas ultrapassado por abril e maio do ano passado”, refere o INE.

 

Vítor Silva, presidente da Entidade Regional de Turismo (ERT) do Alentejo explica que estes números são apenas o “espelho do princípio do ano” de 2021 e recorda que os meses de janeiro e fevereiro de do ano passado “foram os melhores anos de sempre” no que diz respeito “ao número de dormidas” no Alentejo. 

 

Para o presidente da ERT, o “primeiro trimestre deste ano está completamente perdido e com perdas impressionantes no que diz respeito ao alojamento, na região, e no país”. Apesar destas quebras, “as perdas no Alentejo são inferiores” às das outras regiões.

 

“Neste momento, a situação pandémica em Portugal está controlada. Já fomos o pior país da Europa, mas neste momento, somos o melhor”, portanto, “penso que se a situação não se agravar e se o processo de vacinação continuar a correr bem, é expectável que a partir de maio comecemos a ter uma retomar da atividade turística, mas apenas para turismo interno”.

 

Para o Verão, “ainda que seja difícil fazer previsões”, Vítor Silva espera um “Alentejo completamente esgotado, mas, com turistas nacionais, como aconteceu no ano passado”.

 

As adversidades colocadas pela pandemia têm prejudicado as unidades hoteleiras da região. O proprietário do Beja Parque Hotel, João Rosa recorda que o “turismo tem sido das áreas de negócio mais afetada”. Ainda assim refere que as “zonas no interior não têm sido tão prejudicadas como o litoral”, porque os maiores “picos de infeção e de contágio têm-se verificado em zonas como o Algarve, Lisboa ou Porto”. Outro aspeto a considerar é que cerca de 80 por cento do mercado turístico no Alentejo “é português” e, por isso, não se encontra tão dependente dos mercados externos. O que faz a diferença numa altura em que as fronteiras continuam encerradas e há restrições aos voos entre diversos países.

 

No caso concreto do Beja Parque Hotel, “além da redução das taxas de ocupação”, a pandemia refletiu-se “na não realização de eventos” – desde há um ano que não é alugada qualquer sala para a realização deste tipo de iniciativas.

 

Em relação a 2019, o Beja Parque Hotel teve uma quebra na faturação, em 2020 de “700 mil euros”. Foi necessário “fazer várias adaptações para tentar sobreviver”. Até ao momento “não foi preciso despedir ninguém”.

 

Não sendo esta a “primeira crise” que atravessa, João Rosa diz que os apoios provenientes do Estado têm sido fundamentais para ajudar as empresas a ultrapassar esta situação. “Continuamos a sentir muitas dificuldades. Os primeiros meses de 2021 estão a ser iguais aos de grande parte do ano anterior. A retoma vai ser demorada, vão ser precisos vários anos para que o turismo volte aos níveis de 2018 e 2019”.

 

“RECUPERAÇÃO LENTA E GRADUAL”

 

Em declarações ao “Diário do Alentejo”, Cristina Cameirinha, proprietária do Hotel Melius, em Beja, fala “numa recuperação lenta e gradual” que começou a ter “melhores dias no mês de abril”. O primeiro semestre do ano passado teve uma quebra de 40 por cento, em relação ao ano anterior. O hotel fechou 2020 com menos 30 por cento que em 2019.

 

Esse valor está a ser “gradualmente recuperado”, assegura a empresária, acrescentando que “devido à falta de turismo e ao confinamento dos fins de semana, o hotel tem estado a trabalhar a um terço da sua capacidade”, tendo o ‘lay-off’ ajudado a cumprir que os compromissos financeiros “Os próximos meses são uma incógnita, que depende da responsabilidade das pessoas em cumprir ou não as normas exigidas pelo Governo e pela Direção Geral da Saúde”.

 

TURISMO RURAL ATRAVESSA FASE COMPLICADA

 

O turismo rural também está a atravessar uma fase complicada, no que diz respeito aos turistas internacionais. Proprietária da Casa do Roxo, um turismo rural na Mina da Juliana, Carla Santos diz que, apesar de tudo, em 2020 não sentiu “grandes quebras” na procura pois, nos meses de Verão, a taxa de ocupação “foi igual à dos outros anos”, A grande diferença foi na escassez de turistas estrangeiros e nas reservas serem “todas feitas em cima da hora”.

 

“Não está a ser fácil, mas o dinheiro que fizemos de Verão está a servir para pagar as despesas correntes que são surgindo”. O espaço fechou em novembro do ano passado, já tendo reservas para os próximos meses de maio e agosto. Sem turistas, a Casa do Roxo aproveitou as fragilidades provocadas pela pandemia para criar uma marca de cosmética e chás naturais.

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