Diário do Alentejo

Alqueva: Banco financia centrais fotovoltaicas

03 de maio 2021 - 16:00

O plano para a instalação de 10 centrais fotovoltaicas flutuantes nas águas do Empreendimento de Fins Múltiplos do Alqueva (EFMA) foi, inicialmente, anunciado em outubro de 2019, mas a conjuntura obrigou a que fosse adiado. Agora, segundo a Empresa de Desenvolvimento do Alqueva (EDIA) estão reunidas as condições para o processo avançar.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

O maior projeto fotovoltaico flutuante da Europa vai mesmo para a frente. Segundo informações recolhidas pela “DA” junto da EDIA, “os trabalhos preparatórios estão realizados e foi também conseguida a aprovação de um empréstimo de 45 milhões de euros junto do Banco de Desenvolvimento do Conselho da Europa (CEB) para o financiamento da construção”. Aguarda-se, apenas, “a publicação da portaria de extensão de encargos (autorização multianual de despesa) para o lançamento do concurso público”.

 

O projeto permitirá “um ‘cash-flow’ positivo de cerca de 3,5 milhões de euros por ano” na aquisição de eletricidade”, mas mantém “os custos decorrentes da operação e manutenção das centrais, da extensão das garantias dos equipamentos e do financiamento”.

 

Parecem, pois, estar reunidas as condições para, da parte do Governo, se concretizar a aposta neste tipo de produção de energia, depois de a pandemia de covid-19 “ter contribuído para um aumento da pressão sobre o Orçamento de Estado e sobre a dívida pública nacional, atrasando a emissão da portaria de extensão de encargos”, acredita a EDIA.

 

DEZ CENTRAIS

 

O investimento, estimado em 50 milhões de euros, prevê a construção de 10 centrais fotovoltaicas flutuantes no maior lago artificial da Europa, destinadas ao autoconsumo, e serão instaladas junto às estações elevatórias da rede primária do EFMA, ocupando uma área total de 50 hectares flutuantes, com cerca de 127 mil painéis, o que permitirá, segundo a EDIA, a redução da emissão de dióxido de carbono em cerca de 30 mil toneladas por ano.

 

Este projeto é “determinante para a sustentabilidade do projeto Alqueva”, uma vez que a energia “é a principal fonte de custos variáveis na distribuição de água”, sendo a “diminuição sustentada dos encargos energéticos nas operações de exploração do EFMA” o objetivo a alcançar nos próximos anos, explica a EDIA.

 

Neste momento existe em funcionamento uma central fotovoltaica flutuante no reservatório de Cuba Este, com uma potência instalada de 1 MW, e outra no solo, junto à barragem da Lage, ambas construídas no âmbito do Plano Nacional de Regadio.

 

As 10 centrais a instalar – a maior ocupará 28 hectares junto à Estação Elevatório dos Álamos - vão ter uma potência total de 50 megawatts-pico (MWp) e uma produção anual de energia estimada em 90 gigawatts-hora (GWh), o que seria “suficiente para abastecer cerca de dois terços de toda a população do Baixo Alentejo".

 

Segundo dados da Associação Portuguesa de Energias Renováveis (APREN), Portugal gerou 4.252 GWh de eletricidade da qual 88,5 por cento tiveram origem renovável. A energia hídrica (43 por cento) produziu a maior parte, seguida da eólica com 25 por cento. A energia solar aparece apenas em sexto lugar com 3,3 por cento. Este cenário é incompreensível uma vez que, por exemplo, a Alemanha, com muito menos dias de exposição solar, tem 4,8 GW de energia solar instalada.

 

BENEFÍCIOS

 

O projeto aparece num contexto em que a Europa decidiu acelerar a metas para a descarbonização da economia, com objetivos a atingir em 2050.

 

Para a EDIA, esta forma de produzir energia tem vários benefícios, nomeadamente, “a não competição por uso alternativo da terra, em particular na zona de Alqueva onde existe muita pressão para utilizar a terra na agricultura ou floresta” e “uma produção fotovoltaica maior face às instalações em terra devido ao efeito refrescante do plano de água sobre os painéis, já que um painel mais fresco produz mais que um painel mais quente”.

 

Por outro lado, acrescenta a empresa, a cobertura dos reservatórios “reduz o seu aquecimento e, consequentemente, a evaporação destes planos de água, o que contribui para o aumento da eficiência hídrica do sistema”, além de que menor incidência solar no plano de água “reduz o crescimento das algas o que contribui para uma redução das limpezas de filtros”.

 

A EDIA diz ainda que não existe “qualquer evidência” que aponte para a “redução do oxigénio dissolvido na água motivado por estas centrais, pois existe uma grande circulação de água nos nossos reservatórios. Monitorizamos este e outros parâmetros como o pH, a temperatura ou a condutividade em tempo real em vários locais”.

 

José Paulo Martins, representante da associação ambientalista ZERO no Baixo Alentejo, disse ao “Diário do Alentejo” que tem defendido “como princípio” a instalação de pequenas centrais fotovoltaicas e a “produção descentralizada”, o que neste caso parece acontecer.

 

VALE D’ÁGUA CONTRA CENTRAL

 

A população de Vale d’Água, Santiago do Cacém, com cerca de 600 habitantes, está contra a construção de uma central fotovoltaica com 1260 hectares, dos quais 800 estão dentro da Reserva Ecológica Nacional. Nos últimos dias surgiu uma petição contra o projeto que, dizem, prejudica o “ambiente, a saúde e o turismo”. O documento reclama um parecer negativo ao empreendimento luso-espanhol por parte da Agência Portuguesa do Ambiente (APA). A ser construída, esta central fotovoltaica seria a maior do mundo, explicou o presidente da Câmara de Santiago do Cacém, Álvaro Beijinha, garantindo que a autarquia só aprovará a sua construção caso seja aceite pela APA. Os ambientalistas da Quercus já se manifestaram contra a central por esta “entrar quase dentro da aldeia, ficando apenas a 30 ou 40 metros das habitações”. Para além disso, Paulo do Carmo, dirigente regional da Quercus, afirma que existem estudos que apontam para a morte de 2500 aves – sobretudo aquáticas - por ano e para a destruição da flora e espécies endémicas, denunciando que estão a ser abatidas muitas árvores. Segundo o “Expresso” trata-se de um investimento de mil milhões de euros, suportados pela empresa Sunshining e que se propõe produzir energia com baterias da Tesla. Álvaro Beijinha revelou que parte da central ficaria instalada num atual eucaliptal e que, durante a fase de construção, o número de trabalhadores poderia atingir os 2000 por dia.

Comentários