A ANA – Aeroportos de Portugal, responsável pela gestão do aeroporto de Beja, classifica o investimento da Mesa como um “bom exemplo do resultado da estratégia de desenvolvimento seguida e o reconhecimento das potencialidades” da infraestrutura do Baixo Alentejo “na vertente industrial, gerando postos de trabalho na região”.
A ANA afirma que “dirigiu o posicionamento” do aeroporto para a captação de outras atividades aeronáuticas, “com elevada relevância no setor, como as atividades de natureza industrial, nomeadamente a manutenção de aeronaves”, e também o estacionamento de média-longa duração. “O aeroporto de Beja tem realizado atividade diversa, principalmente nas áreas do estacionamento de média-longa duração e da manutenção de aeronaves”, dedicando-se também ao segmento de aviação privada, aos voos ‘charter’ e a voos de carga.
Ao mesmo tempo, a ANA sublinha que “mantém o aeroporto de Beja preparado para receber o transporte de passageiros” e que está a trabalhar “ativamente para o desenvolvimento” desta vertente. “A ANA reafirma o seu empenho no desenvolvimento do aeroporto de Beja”, que “é, decididamente, um fator adicional de competitividade e deve ser encarado como uma oportunidade de desenvolvimento”.
Inaugurado há 10 anos, o aeroporto de Beja está mais consolidado na vertente industrial, assente na manutenção e estacionamento de aeronaves, segundo o município e empresários locais, que reclamam tempo para “voos mais altos” da infraestrutura. “O aeroporto já começou a ser utilizado para uma das valências identificadas” pelo grupo de estudos que definiu o potencial da infraestrutura, diz o presidente da Câmara de Beja, Paulo Arsénio, aludindo à componente industrial.
A aposta tem sido “a manutenção de aeronaves, com a criação expectável de 150 postos de trabalho”, dos quais “cerca de 50 já criados e com um investimento de 30 milhões de euros executado”, aponta, referindo-se à empresa de manutenção aeronáutica Mesa, do grupo Hi Fly, e ao seu novo hangar, a operar desde o início do ano. Para o autarca, esta “é uma prova de que o aeroporto é útil e faz sentido no território”, onde “cria emprego qualificado”. E, acrescenta, “lateralmente, pode ter uma atratividade que ainda não conseguiu desenvolver em pleno, mas que está a começar a desenvolver, ao fim de 10 anos” de existência.
“São empregos remunerados acima da média e altamente qualificados, que fixam pessoas no território e passam a ser contribuintes líquidos. E até podem desenvolver-se pequenas indústrias laterais. Agora, isto demora algum tempo, não é da noite para o dia”, argumenta Paulo Arsénio.
Para o presidente da Associação Empresarial do Baixo Alentejo e Litoral (Nerbe-Aebal), Filipe Pombeiro, “não se fazem balanços de aeroportos a 10 anos”. São equipamentos que precisam de tempo para se afirmarem. Filipe Pombeiro acredita que a carga também pode ser “bastante importante” no aeroporto, “à medida que a região ganhar mais capacidade exportadora”, podendo apostar nos produtos do Alqueva, “altamente transacionáveis”. A valência que lhe parece estar “mais atrasada”, e que a região tem vindo a reivindicar há anos e da qual não abdica, é a ligada ao transporte de passageiros.
“Houve umas incursões no início”, nos primeiros anos, com voos entre Beja e Londres ou entre Beja e a Alemanha, que acabaram por não vingar, mas “em 2018 houve outras experiências que me pareceram positivas, com voos ‘charter’ para as ilhas Baleares (Espanha), no verão”, recorda. E é “essa aposta que o aeroporto terá que ir fazendo”, no seu entender: “Poderá não se justificar haver voos regulares o ano inteiro, mas no verão a região pode perfeitamente ter voos regulares”.
Crítico das expectativas iniciais criadas em torno do aeroporto, “sobrevalorizadas” pelo então Governo de José Sócrates, o presidente da Aebal considera que, partindo dessa premissa, “o balanço fica aquém dessas mesmas expectativas”. Mas, olhando para a realidade, “é um balanço positivo” e o aeroporto “não será um equívoco e fará o seu caminho - com tempo”. Após um investimento de 33 milhões de euros, o aeroporto, fruto do aproveitamento civil da Base Aérea n.º 11, começou a operar em 13 de abril de 2011, quando se realizou o voo inaugural.
Mesa pode triplicar número de funcionários
A empresa de manutenção aeronáutica Mesa, que possui um hangar e quer construir um centro logístico no aeroporto de Beja, prevê passar dos atuais 40 para “cerca de 100/120” trabalhadores na infraestrutura, em dois anos. Em esclarecimentos prestados à agência Lusa através de correio eletrónico, o presidente da Mesa, Paulo Mirpuri, destacou o novo hangar de manutenção de aeronaves da empresa, do grupo Hi Fly, inaugurado em 12 de janeiro deste ano, após um investimento de 30 milhões de euros. A juntar a este projeto, já em plena atividade, a empresa tem previsto investir mais 10 milhões de euros num centro logístico na zona do aeroporto. “Assim, a Mesa dá um passo substancial em frente, fica dotada de mais capacidade técnica e este projeto implica também o alargamento dos seus quadros”. Atualmente, passadas “apenas algumas semanas desde o início da atividade” do novo hangar, “já estão a trabalhar” no aeroporto “cerca de 40 pessoas, entre técnicos de manutenção e quadros de apoio”, sendo que, deste total, “30 são da região de Beja”, um número que a Mesa espera “subir substancialmente” no futuro. “Com o tempo, com novas atividades de formação, com o desenvolvimento da atividade, a chegada de novos equipamentos e ferramentas, acreditamos que, num horizonte de 24 meses, será possível alargar o horário de funcionamento do hangar”, referiu Paulo Mirpuri. A Mesa nasceu para prestar “serviços de manutenção de linha à Hi Fly”, ou seja, os “necessários no dia-a-dia da operação de um avião”, como inspeções antes do voo, pós-voo, trocas de motores, inspeções ao interior do motor ou reconfigurações do interior, mas, “a partir de determinada altura”, ganhou a ambição de efetuar “ações de manutenção de base”, as que efetua agora no novo hangar também no aeroporto do Baixo Alentejo.