Três perguntas a Luís Mestre, fundador e coordenador do projeto MeteoAlentejo – Associação de Meteorologia
Texto José Serrano
Comemora-se este ano o décimo aniversário da MeteoAlentejo. O que significa, para si, a celebração de uma década de existência deste projeto meteorológico?
Estes 10 anos da MeteoAlentejo representam um marco na história da meteorologia em Portugal e, em particular, no Alentejo. Ao longo deste período, este projeto mostrou que a persistência, o empenho e a proximidade com a população permitem criar iniciativas de valor para a comunidade e que, no interior do país, há pessoas com capacidade e ideias, que colocam o seu melhor ao serviço dos outros, não podendo ir, por vezes, mais além devido às limitações de se habitar no Alentejo. Durante esta década, percorremos centenas de quilómetros, pelo Alentejo profundo, e deparámo-nos com constrangimentos que muitas pessoas, que vivem nas grandes cidades do litoral, nem fazem ideia que existem, como por exemplo a deficiente cobertura da Internet que, em algumas localidades onde temos estações meteorológicas, é um autêntico pesadelo.
Qual a importância desta associação de meteorologia para as comunidades do Alentejo onde se encontra instalada?
Ao dia de hoje temos, instaladas, 25 estações meteorológicas, em 21 concelhos dos quatro distritos que integram a região Alentejo. Estes equipamentos permitem disponibilizar informações fidedignas às populações, em tempo real, ajudando nas mais diversas atividades do dia-a-dia, desde a agricultura ao desporto. É também um meio importante para o trabalho das diversas corporações de bombeiros, nossas parceiras, e uma mais-valia para as câmaras municipais.
As condições climáticas que se têm feito sentir no Alentejo, este início de ano, com muita precipitação e queda de neve em algumas localidades, revela um ano perfeitamente atípico ou o tempo está mesmo a mudar?
De facto, no início deste ano, assistimos a condições meteorológicas que não são muito usuais na nossa região, como a queda de neve, a cotas baixas, e um inverno chuvoso. A meteorologia é feita de ciclos. Nos últimos 10 anos apenas três invernos foram chuvosos – 2010, 2018 e agora 2020/2021 –, portanto, não se trata de o tempo estar a mudar mas sim das próprias dinâmicas da atmosfera. Onde podemos, de facto, dizer que está a haver um efeito das alterações climáticas é no aumento das temperaturas, no verão – que se tem tornado, também, mais longo.