Diário do Alentejo

Qual a importância das presidenciais para a região?

22 de janeiro 2021 - 21:45

O “Diário do Alentejo” ouviu vários agentes económicos, políticos, sociais e culturais da região sobre este ato eleitoral, qual a sua importância para a região e o país e tudo mais que lhes fosse na alma.

 

Texto Aníbal Fernandes

 

O produtor cultural Jorge Barnabé, o ex-autarca de Moura, José Maria Pós-de-Mina e o presidente da ACOS – Agricultores do Sul, Rui Garrido, estão de acordo: as eleições presidenciais são muito importantes, desde logo, porque têm como objetivo eleger alguém que jurará, depois de eleito, cumprir e fazer cumprir a Constituição da República Portuguesa. “Considerando o surgimento de ideias e lideranças populistas, nacionalistas e radicais, mais urge mobilizar os cidadãos para estas eleições. Nos últimos 46 anos nunca fez tanto sentido a necessidade de eleger um(a) presidente moderado(a) e consciente das suas funções na proteção do estado de direito”, defende Jorge Barnabé acrescentando que “podemos olhar para este fenómeno como uma impossibilidade, mas na verdade pode ser o início da construção de uma alternativa extremista e fascista que ameaça o normal funcionamento da democracia. É, nessa perspetiva, importante para o país e para os portugueses reforçar a participação eleitoral e recusar esmagadoramente essa pretensão de ataque à democracia”.

 

Para Jorge Barnabé, para o desenvolvimento do país e da região “é igualmente importante escolher uma presidência moderada e empenhada nos valores humanistas e sociais, que afirme sempre a coesão do território e que se dedique à unidade dos portugueses em torno de causas e no combate às desigualdades”.

 

Já José Maria Pós-de-Mina defende que o presidente eleito deveria contribuir para efetivar a Constituição e, consequentemente, levar avante a regionalização do país. “Sabemos que foi Marcelo Rebelo de Sousa, enquanto presidente do PSD, que negociou com o PS a necessidade de um referendo para a institucionalização da regionalização, mas independentemente da sua opinião pessoal, ele jurou cumprir a Constituição”, relembra.

 

Para Pós-de-Mina, “os eleitores da região que defendem a regionalização devem votar nas candidaturas que a defendem, de forma a dar força à sua concretização”. Assim, diz o ex-autarca, “defendendo a Constituição, estamos a defender o desenvolvimento” do território onde vivemos.

 

Também Jorge Barnabé recorda este e mais alguns desígnios constitucionais, acrescentando que nestas eleições “não está em causa escolher uma figura, está em causa eleger um(a) presidente competente e com sentido de defesa da Constituição e anular quaisquer pretensões que atentem contra a democracia”.

 

BOM SENSO E AUTORIDADE

 

Para Rui Garrido, quem for eleito como primeira figura do Estado “deverá exercer com bom senso e autoridade as respetivas funções, como cumprir e fazer cumprir a constituição, ser um regulador da atividade do governo e das instituições, atuar em conformidade e ser firme sempre que as situações assim o exijam”.

 

Tal e qual “um árbitro do bom funcionamento da democracia”, diz o presidente da ACOS, desejando que o próximo Presidente da República “tenha sensibilidade para a agricultura, que se interesse pelo setor primário, enquanto garante da soberania alimentar”, já que os agricultores “têm de sentir” que têm no residente do Palácio de Belém “um parceiro”, o que tem acontecido, nomeadamente em relação à Ovibeja e outras iniciativas, quer pelo presidente em exercício quer pelos anteriores.

 

Voltando à pandemia, Rui Garrido considera que o primeiro magistrado da nação “deverá ter uma atividade interventiva e pressionante junto da governação, sempre que situações de calamidade ocorram, como está a acontecer agora e como também aconteceu no passado”.

 

DEFESA DA VIDA

 

Manuel Narra diz que uma eleição disputada sob uma pandemia é “limitadora da vontade de participação das pessoas” e “faz-nos refletir sobre o que serve e defende melhor a democracia”. Para o ex-presidente da Câmara da Vidigueira, “o principal pilar da democracia deverá ser sempre a defesa da vida” e, assim sendo, “não existe nenhum vetor da liberdade, nem nenhum artigo da Constituição, que se possa sobrepor a isso”.

 

No entanto, não defende o adiamento deste ato eleitoral, pois “não irá mudar o sentido de voto que os portugueses já têm formado na sua consciência e que, segundo as sondagens, dá maioria absoluta a Marcelo Rebelo de Sousa logo na primeira volta”, cenário que considera “importante [para] que a estabilidade entre Presidência da República, Governo e Assembleia da República se mantenha, porque a próxima década vai ser fundamental para reerguer o país”.

 

Para Manuel Narra, “o vazio criado pela ausência de um candidato de esquerda, com o perfil unificador que se exigia para fazer frente a Marcelo Rebelo de Sousa, fez aparecer candidatos com agenda própria que nada vêm acrescentar à possibilidade de alternância que a democracia precisa” e, assim, “a exemplo de outros segundos mandatos presidenciais, espera-se, com certeza, maior turbulência nas relações entre o Presidente e o Governo, e se as sondagens sofrerem alterações significativas, podemos assistir ao fim antecipado desta legislatura”.

 

ATO IMPORTANTE

 

A subida da abstenção, devido a fatores como a pandemia ou a ideia generalizada de um vencedor antecipado, leva Filipe Pombeiro a considerar que “um ato eleitoral é sempre de extrema importância, desde logo por todos aqueles que lutaram pelo direito ao voto, que hoje damos como adquirido e que, talvez por isso, tantos optem por não o exercer”.

 

O presidente do Nerbe lembra que o Presidente da República “pode e deve ser o fiel da balança, exercendo o seu direito de veto, sempre que as leis sejam contraproducentes a uma economia que se pretende forte, para promover o investimento e com isso a criação de emprego”, o que considera “especialmente relevante para uma região como a nossa, fortemente influenciada pela sua interioridade e fraca densidade populacional, o que normalmente se reflete na pouca importância que os governantes nos dão ao nível dos investimentos públicos estruturantes, que invariavelmente são feitos nos grandes centros e litoral do país”.

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