Diário do Alentejo

Beja: Uma em cada cinco lojas em risco de encerrar

27 de dezembro 2020 - 11:00
Foto | Arquivo

Associação Comercial diz que mais de 20 por cento dos pequenos estabelecimentos comerciais do distrito deverá fechar por causa da pandemia

 

Texto Marta Louro

 

Até ao final do ano, “cerca de 20 por cento a 30 por cento dos pequenos estabelecimentos comerciais, do distrito de Beja poderão fechar portas, devido à crise provocada pela pandemia da covid-19”. A estimativa é feita pela Associação do Comércio, Serviços e Turismo do Distrito de Beja.

 

A situação do comércio tradicional e da restauração no concelho e no distrito de Beja é “semelhante” à que se verifica por todo o país, agravada pela interioridade: “As empresas estão a sobreviver com dificuldades, sentindo necessidade de se adaptar às exigências impostas por toda esta situação”, diz Anabela Guerreiro, coordenadora geral da associação. “Os comerciantes queixam-se da ausência de pessoas, há muito menos clientes a visitar os estabelecimento e, consequentemente, o volume de vendas tem sido bastante mais baixo do que o habitual”.

 

Para tentar enfrentar os problemas financeiros, alguns empresários tiveram de reinventar o negócio. “Uma grande maioria das empresas criou novas estratégias comerciais e passou a adotar as novas tecnologias, quer seja através da loja ‘online’, quer através da exposição dos seus produtos nas redes sociais. Outras começaram a trabalhar através do serviço de entregas ao domicílio e do serviço de ‘take away’, no caso dos restaurantes”. Mesmo assim, a quebra da faturação ameaça o futuro de muitas empresas.

 

Anabela Guerreiro esclarece, que tendo por base as empresas que integram a Associação Comercial de Beja, “pode referir-se que o número das que encerraram atividade é ainda pouco expressivo” e que a causa implícita a essa decisão não esteve diretamente relacionada com a pandemia da covid-19: “A principal razão ficou a dever-se ao envelhecimento dos próprios empresários que se viram incapacitados, pelo imperativo da sua condição física e de saúde, de dar continuidade ao negócio”.

 

“Para já não dispomos de dados que nos permitam concluir se algumas das empresas que se encontram em dificuldades e em risco de fechar possam vir a encerrar a atividade até ao final do ano. Porém, para que isso não se verifique, é determinante que o Governo crie mecanismo de apoio ao comércio local, por que são estas empresas que impulsionam a economia da região”. Por outro lado, defende a dirigente associativa, “se não existir redução efetiva nos encargos fiscais e consequentemente um aumento significativo do volume de vendas que compense as quebras existentes nos meses de ‘lay-off’ e seguintes, não será possível alavancar e dar continuidade a muitas das empresas que todos os dias lutam arduamente para se manterem abertas”.

 

Desde sempre que o comércio tradicional compete com as grandes superfícies. No entanto, certo é que, para a associação o “comércio tradicional tem o seu lugar bem definido. Esta situação de pandemia, veio reforçar isso mesmo e demonstrou que o consumidor tem mais segurança em adquirir as suas compras diárias no comércio tradicional, do que nas grandes superfícies. O comércio local oferece ao consumidor confiança, produto diferenciado, de qualidade e com garantia, preço acessível e atendimento personalizado. As grandes superfícies, não reúnem todas estas características, o que leva à escolha preferencial do consumidor pelo comércio local e tradicional”.

 

Neste momento, e face aos dados conhecidos, Anabela Guerreiro está convencida que “nem as compras de Natal irão compensar as quebras ocorridas durante os nove meses do ano, até porque os empresários afirmam que os consumidores estão retraídos relativamente às compras que poderiam realizar nesta época festiva. Foi um longo período com uma elevada quebra de vendas, que deixou pegadas nefastas”.

 

Para tentar “salvar” a situação, o Governo implementou um conjunto de medidas de apoio às micro e pequenas empresas, incluindo um perdão de 50 por cento das rendas comerciais entre abril de 2020 e março de 2021 e a atribuição de um apoio a fundo perdido às empresas com quebras de faturação e que atuem nos setores afetados pelas medidas excecionais de mitigação da crise sanitária. São medidas que a Confederação do Comércio considera insuficientes.

 

Embora prevendo que os próximos tempos “sejam difíceis, principalmente no próximo ano”, Anabela Guerreio tem esperança que a retoma “não seja lenta e demorada e que a confiança regresse ao quotidiano das famílias e das empresas”. Para que 2021 possa ser um ano muito diferente do que agora termina.

 

PANDEMIA DESTRUIU E CRIOU OPORTUNIDADES DE NEGÓCIO

Aida Galhofa Salvador decidiu no início deste ano, antes de saber que a pandemia da covid-19 traria consequências nefastas para a economia local, abrir um café, mesmo no centro da cidade de Beja, no Centro Comercial do Lidador. Abriu portas a 5 de março. “Depois, o Governo obrigou-nos a fechar quando o país entrou de quarentena. Como todos os outros pequenos empresários tive de obedecer. Só voltei a abrir no dia 4 de setembro”. Aida tentou segurar o negócio, mas a pandemia atraiçoou-a: “Encerrei definitivamente a 18 de setembro”. A partir dai, a pequena empresária voltou a “agarrar com unhas e dentes” aquela que, até então era apenas uma ocupação de tempos livres. Criou o “Salgados e Doces” onde, como o próprio nome diz, confeciona salgados e doces para fora. As encomendas são recebidas por telemóvel ou através das redes sociais. Agora, com o aproximar do Natal e do Ano Novo, confessa que “não tem mãos a medir”.

Comentários