Diário do Alentejo

Crise da restauração: Casa do Alentejo em risco de fechar

22 de novembro 2020 - 20:40

A Casa do Alentejo está a “fazer tudo” para não fechar em 2021, mas precisa de “discriminação positiva” nos apoios do Estado, admitiu o presidente da associação que gere aquele espaço de referência na baixa de Lisboa.

 

João Proença explicou que, devido à pandemia de covid-19, a “vertente da gastronomia”, responsável pelas receitas do restaurante e do bar, está “completamente parada”. As atividades culturais mantêm-se, mas “estão comprometidas se não houver algo a fundo perdido” que possa ajudar a associação. “É isso que reclamamos, não para o imediato, mas para 2021: Precisamos mesmo de ter um sinal de que é possível [encontrar] apoio para esta associação, que é centenária”.

 

Nesse sentido, a direção da Casa do Alentejo está já em contacto com “alguns grupos parlamentares da Assembleia da República” e com a Câmara de Lisboa e acredita que as diferentes entidades irão “corresponder às suas preocupações e ajudar” a manter aberto este espaço de referência da capital.

 

“Não tenho ainda dado como [certo que] a Casa do Alentejo possa vir a fechar, mas também digo que, se não houver, de facto, uma correspondência, [fecha]. Já não estamos em condições de recorrer a mais empréstimos. Recorremos a um de 400 mil euros que começa a ter de ser pago já em junho. A situação não está clara, para nós, que se possa resolver sem apoio a fundo perdido”.

 

Com 34 trabalhadores e despesas que atingem “40 ou 50 mil euros mensais, sem muito esforço”, a Casa do Alentejo já recorreu a todos os expedientes “que foram possíveis para atenuar as dificuldades”, nomeadamente “ao ‘lay-off’ para os trabalhadores” e às linhas de crédito “para reforço da tesouraria e pagar aos fornecedores”.

 

Porém, o prolongamento da pandemia deixou a instituição na iminência de entrar em 2021 “com uma situação ainda muito precária” e João Proença refere que é chegada a hora de o Estado apoiar uma entidade que tem “os impostos e tudo em dia” e que contribui com receitas para o Orçamento do país.

 

“No endividamento, aquilo que está disponível pelo Governo e pelos bancos, cremos que está esgotado. Queremos, no ano 2021, ter mais certeza de que podemos continuar abertos. Nós só queremos isso e só o vemos [possível] se houver apoios a fundo perdido. Porque se houver com endividamento, não é lógico nem mesmo um ato de boa gestão endividarmos mais a Casa do Alentejo”, sustentou o presidente.

 

Os ordenados dos 34 trabalhadores são uma das principais preocupações da associação que “precisa mesmo é de um reforço de tesouraria” para fazer frente às despesas mais imediatas. “Ter esta porta aberta, como sempre tivemos, com toda a possibilidade de a casa ser utilizada pelos sócios e pelos turistas de Lisboa, carece de um tratamento que consideramos justo e com uma discriminação positiva. É uma casa de referência, com tradição e história. Pretendemos ser discriminados positivamente por tudo o que é conhecido desta casa.

 

A vereação da Câmara de Lisboa já esteve na Casa do Alentejo para se inteirar dos problemas e João Proença deposita bastante esperança no município, que até “já anunciou apoios para a área da hotelaria e da restauração”, embora as medidas sejam, muitas vezes, “difusas” e de difícil acesso. “Nós nunca sabemos como é que as coisas se tratam. São anunciadas, mas depois são pouco claras e até pouco acessíveis por quem tem de as utilizar. Por isso, estamos a contactar com os responsáveis, a falar com eles e a saber como podemos ter acesso a essas medidas que estão a ser anunciadas”, concluiu.

 

A Casa do Alentejo, fundada em 1923, é uma associação que contribui para a “dinamização, promoção e preservação da cultura alentejana” na Área Metropolitana de Lisboa, atuando como um “espaço cultural polivalente” onde acolhe várias vertentes como apresentações de livros, sessões de poesia, conferências temáticas e semanas dedicadas aos concelhos do Alentejo, entre outras atividades. Situada num palácio do séc. XVII, na Rua das Portas de Santo Antão, na baixa de Lisboa, tornou-se num espaço de referência cultural e gastronómica do Alentejo na capital, na qual se destacam o seu restaurante, a taberna típica e o Espaço Alentejo, onde decorrem as várias atividades culturais apoiadas pela associação.

 

“A NOSSA VIDA NÃO ESTÁ FÁCIL”

Já em setembro, nas páginas do “DA”, João Proença alertava para as dificuldades da Casa do Alentejo em resultado da pandemia de covid-19: “Para além do funcionamento normal (restaurante, taberna e cervejaria), tínhamos reservas para mais de 30 mil refeições até ao final de dezembro, ligadas às agências de turismo e movimento de estrangeiros. Somos muito procurados por este público… infelizmente, esta clientela só funcionou até ao final de fevereiro. A partir de 10 de março começámos a ter anulações”. As receitas mensais na ordem dos 120 mil euros por mês – a despesa era equivalente, com encargos com o pessoal e pagamento a fornecedores – praticamente desapareceram, o que obrigou a associação a contrair um empréstimo bancário de 400 mil euros, para ajudar a pagar salários e saldar contas com fornecedores. “A nossa vida não está fácil”, resume João Proença.

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