Diário do Alentejo

Alentejo com menor risco de transmissão de covid-19

16 de outubro 2020 - 18:40

Apesar do aumento continuado do número de casos, o Alentejo é a região do país com menor risco de transmissibilidade para a covid-19. DGS refere “estabilidade na progressão” da epidemia.

 

Texto Marta Louro

 

O risco de transmissibilidade (Rt) da covid-19 no Alentejo é de 0,86. Apesar do aumento do número de casos de infeção nas últimas semanas, trata-se do Rt mais baixo do país. Em Portugal, o risco de transmissibilidade é, em média, 1,09. Graça Freitas, diretora-geral da Saúde, explica que os “valores muito próximos de um indiciam, apesar de tudo, uma estabilidade na progressão da epidemia, com uma tendência ligeiramente crescente, como se pode verificar pelos números e pela curva, mas mesmo assim com valores bastante inferiores àquilo que já tivemos em meses passados” e que se verificam atualmente noutros países.

 

“O facto de ser um Rt abaixo de um, se tudo corresse bem faria com que a doença tivesse tendência para se eliminar. A grande questão é que provavelmente, com o surto que temos, até a nível nacional, isso dificilmente vai corresponder à realidade”, refere Ricardo Mexia, presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, em declarações ao “Diário do Alentejo”.

 

Numa altura em que se aproxima a época de gripes e constipações, as preocupações dos médicos de saúde pública prendem-se, principalmente, com os grupos mais vulneráveis e de risco. Entre eles, está a população idosa, os doentes crónicos e as pessoas com o sistema imunitário comprometido. No entanto, o responsável salienta que “o Alentejo [apesar] de ser uma das regiões do país com a população mais envelhecida, tem uma baixa densidade [populacional] e um distanciamento social importante”, o que “de alguma forma pode funcionar como um fator protetor”. Ainda assim, “é fundamental” ter em conta “as cautelas genéricas que já todos ouvimos falar dezenas de vezes, entre as quais a higienização das mãos, etiqueta respiratória, distanciamento físico e utilização da máscara”.

 

É importante estar alerta para “o surgimento” de possíveis “sintomas”. Nesses casos, explica Ricardo Mexia, “deve evitar-se o contacto com outras pessoas, até pelo menos se esclarecer a situação” através da realização de um teste de despistagem à covid-19. Este ano, segundo refere, mais do que nunca é “importante” fazer a vacinação contra gripe, não só para prevenir, mas também para que se “reduzir as idas às urgências” e em particular porque “ajuda a lidar melhor” com as queixas respiratórias. “As medidas implementadas contra a covid-19 são também úteis para reduzir a incidência de outros vírus respiratórios”, salienta o presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública.

 

Pedro Vasconcelos, presidente do conselho sub-regional de Beja da Ordem dos Médicos, esclarece que o facto de o risco de transmissibilidade, no Alentejo ser 0,86 é “mais cómodo” do que “se fosse superior a um”. Ainda assim, “não podemos abrandar na adoção das medidas [para que o Rt] não suba, ou se subir – o que é provável que aconteça dada a situação nacional – não aumente tanto, para não apresentar um motivo de maior preocupação”, salienta o responsável.

 

Segundo Pedro Vasconcelos, a antecipação da toma da vacina da gripe deve ser tida em conta pois “é mais uma arma contra [possíveis] consequências negativas que a gripe possa vir a trazer”. Numa situação que se “assemelhe ou possa ser covid”, acrescenta o especialista, a população deve “recorrer à linha Saúde 24” e só depois “se for essa a indicação” – deverá dirigir-se a um serviço de saúde. “Há sintomas que são tão específicos e, no entanto, são comuns a tantas outras coisas, que estarmos a divulgar pode criar confusão e pânico, em situações que às vezes não têm nada de grave”, acrescenta.

 

HOSPITAL PREPARADO

Contatada pelo “DA”, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) considera que as “preocupações” nesta altura são idênticas às de sempre: dar a melhor resposta. “Sendo esta uma situação desconhecida, temos de estar preparados para dar a resposta mais adequada. Por isso, a maior preocupação é a criação de condições de atendimento e internamento para as necessidades, uma vez que é previsível o aumento de casos”.

 

Tal como a Direção-Geral da Saúde (DGS), a Ulsba “também recomenda a vacina da gripe, tendo já preparada a sua calendarização de administração” de acordo com as orientações das autoridades de saúde. “Os conselhos a seguir são aqueles que anualmente se difundem para a época da gripe, desta vez com maior ênfase face à situação de pandemia da covid-19 que vivemos. Devem por isso ser cumpridas as medidas básicas de controlo de infeção, existir um recurso responsável às Instituições de Saúde, privilegiando os contatos com os cuidados de saúde primários, e recorrer à linha Saúde 24”, reforça a mesma fonte.

 

QUADRO CLÍNICO HETEROGÉNEO

Presidente da Associação Nacional de Médicos de Saúde Pública, Ricardo Mexia explica que o quadro clínico de covid-19  é muito “heterogéneo” pois “existem manifestações clínicas muito versáteis”. Há pessoas que apenas “têm perda de olfato e queixas intestinais. Outras apresentam os sintomas mais típicos como “tosse, febre e dificuldade respiratória”. O mesmo responsável aconselha a que “todos façam a sua parte para que se consiga controlar a situação. Tem de haver também um reforço dos meios por parte do Governo de maneira a que se consiga ter uma resposta em tempo útil para o previsível aumento das solicitações”.

 

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