A rápida escalada dos casos e a aparente incapacidade do lar para conter a disseminação do vírus até à comunidade começou a gerar no início de julho as primeiras críticas na resposta ao surto. Foi então que se multiplicaram as tomadas de posição em torno do caso: do Governo à Ordem dos Médicos (OM), passando pela Administração Regional de Saúde (ARS) do Alentejo ou a autarquia de Reguengos, sem esquecer o próprio conselho de administração da FMIVPS.
Hoje, a Comissão de Trabalho e Segurança Social da Assembleia da República aprovou a chamada ao parlamento da ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, e da ministra da Saúde, Marta Temido, para serem ouvidas sobre os surtos de covid-19 registados em lares, como o que ocorreu em Reguengos de Monsaraz. A comissão aprovou, por unanimidade, requerimentos do PSD, CDS-PP e Pessoas-Animais-Natureza (PAN) que solicitam a audição das governantes e também da diretora-geral da Saúde, Graça Freitas.
Em 12 de julho, já depois de o Ministério Público (MP) assumir que estava a “proceder a averiguações” sobre o caso, a OM anunciou, em nota publicada no site oficial, a designação de “uma comissão de inquérito para avaliar todas as circunstâncias clínicas relacionadas com esta situação”, por considerar que “as decisões que têm sido tomadas no caso do lar de idosos da FMIVPS de Reguengos de Monsaraz não aparentam ser as mais corretas”.
No mesmo dia, a ARS do Alentejo disse que “fez e continuará, dentro do quadro legal, a fazer o possível para garantir os cuidados considerados necessários, no espaço que foi atribuído aos utentes da Estrutura Residencial para Idosos (…) que necessitam de vigilância, mas que não têm critérios para internamento hospitalar”, num comunicado enviado à Lusa, após a polémica criada em torno da mobilização de médicos de outras unidades para aquele lar.
As conclusões da auditoria da OM foram conhecidas em 06 de agosto, com o relatório a revelar que não era possível cumprir “o isolamento diferenciado para os infetados ou sequer o distanciamento social para os casos suspeitos”, que os “recursos humanos foram insuficientes para a prestação de cuidados adequados” e que “o processo de governança clínica” falhou, atribuindo a responsabilidade à Autoridade de Saúde e à ARS do Alentejo.
Imediatamente no dia seguinte, a Procuradoria-Geral da República (PGR) confirmou a existência de um inquérito sobre o surto no lar de Reguengos de Monsaraz, o qual corre termos no Departamento de Investigação e Ação Penal (DIAP) de Évora.
Foi só em 11 de agosto, quase dois meses após a notificação do primeiro caso, que a FMIVPS se pronunciou sobre o surto. O conselho de administração da instituição explicou que “não foi ouvido nem teve qualquer oportunidade de se pronunciar por escrito” no âmbito da auditoria efetuada pela OM e garantiu que “todas as decisões que envolveram os utentes desta resposta social respeitaram integralmente as instruções técnicas da Autoridade de Saúde Pública (ASP) e restantes autoridades de saúde e Segurança Social”.
A controvérsia em torno deste caso ganhou outros contornos quando a ministra do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, Ana Mendes Godinho, afirmou, numa entrevista ao Expresso, em 15 de agosto, que a dimensão dos surtos em lares “não é demasiado grande” e evitou comentar as conclusões da auditoria da OM. Ato contínuo, sucederam-se as críticas e, inclusivamente, pedidos de demissão da governante por parte dos partidos da oposição.