Diário do Alentejo

Ulsba com carência de médicos em 15 especialidades

27 de agosto 2020 - 16:55

Anestesia, ortopedia, ginecologia, pediatria e radiologia entre as especialidades mais carenciadas. Administração hospitalar diz que listas de espera “não apresentam tempos excessivos”.

 

Texto Carlos Lopes Pereira

 

De acordo com um despacho ministerial publicado em “Diário da República”, especificando áreas carenciadas em médicos, a Unidade Local de Saúde do Baixo Alentejo (Ulsba) tem carências em 15 especialidades, que são identificadas.

 

O conselho de administração da unidade, presidido por Conceição Margalha, explicou ao “Diário do Alentejo” que “anualmente é publicado um despacho que define as zonas geográficas carenciadas por especialidade médica e por estabelecimento de saúde”. Neste despacho, e para o ano de 2020, “foram identificadas 15 especialidades hospitalares, a área de saúde pública da Ulsba e a área de medicina geral e familiar da Administração Regional da Saúde do Alentejo (ARSA)”.

 

Dentro das especialidades identificadas, revela, “as mais críticas são, a nível hospitalar, as especialidades de anestesia, ortopedia, ginecologia/obstetrícia, pediatria e radiologia, e, na área de cuidados de saúde primários, a medicina geral e familiar e a saúde pública”. Embora existam dificuldades “na contratação de médicos em todas as especialidades e daí terem sido identificadas”.

De acordo a administração hospitalar, “as faltas destes profissionais têm sido colmatadas ao longo dos anos pela enorme dedicação dos profissionais que trabalham na Ulsba, com recurso a trabalho extraordinário destes profissionais e contratos de prestação de serviço, sobretudo para a área da urgência e de médicos para os centros de saúde”.

 

“As nossas listas de espera não apresentam tempos excessivos, garantindo a resposta dentro dos tempos máximos de resposta garantidos (TMRG), exceto nas especialidades de ortopedia e cardiologia, as quais estão em processo de recuperação através de produção adicional dos profissionais do quadro da instituição, prevendo-se a sua resolução até ao final do ano”, garante.

 

Os incentivos atribuídos a estes profissionais que queiram trabalhar em hospitais do interior contemplam apoios financeiros, aumento dos dias de férias e autorização especial para participação em atividades de investigação ou desenvolvimento de competências. “Apesar disso”, acrescenta o conselho de administração da Ulsba, “verificamos que os concursos ficam desertos numa grande percentagem de casos, sendo-nos relatado sobretudo dificuldades no emprego do conjugue, de habitação e a pouca atratividade da região”.

 

"INCENTIVOS INSUFICIENTES"

“A carência de profissionais médicos no Serviço Nacional de Saúde tem sido exacerbada nos últimos tempos, fruto das sucessivas políticas de que tem sido alvo. Esta carência prende-se com a falta de atratividade gerada pela degradação das condições de trabalho para exercer a profissão médica com a devida qualidade. Nas zonas mais periféricas, a carência de médicos é ainda maior e reflete um desinvestimento das entidades responsáveis em oferecer, não só os meios adequados, como promover o desenvolvimento dos serviços”.

 

A opinião é de Guida da Ponte, médica psiquiatra, dirigente do Sindicato dos Médicos da Zona Sul (SMZS). Para ela, “a legislação referente aos incentivos é, de forma visível, manifestamente insuficiente”. E isso “deveria obrigar o Ministério da Saúde a levar a cabo negociações com os representantes dos seus trabalhadores médicos que efetivamente procurassem soluções”. Lembra que o SMZS – estrutura da Federação Nacional dos Médicos (FNAM) – “sempre esteve disponível para a negociação e sempre denunciou a falácia deste despacho referente aos incentivos”.

 

Para Guida da Ponte, “a falta de médicos traz consequências para os cuidados de saúde e o Governo e as suas políticas ministeriais terão de se responsabilizar pela sua conduta no que diz respeito à saúde dos portugueses”. E lembra que “o direito à saúde é um direito fundamental do cidadão e tem de ser assegurado pelas entidades responsáveis”.

 

A FNAM, federação à qual o SMZS pertence e estrutura presente nas negociações ministeriais, “defende um investimento adequado no SNS que permita o desenvolvimento dos hospitais especialmente os mais periféricos bem como uma adequada valorização dos seus profissionais, e não uma sucessiva suborçamentação”, afirma Guida da Ponte. Mais: “Numa altura de pandemia, não é compreensível que o Ministério da Saúde continue a apostar em medidas que sabidamente não terão resultados”.

 

Quanto à política dos incentivos, Guida da Ponte entende que “esta terá de demostrar uma real valorização dos médicos, seja por recurso a incentivos remuneratórios, seja também, de forma importante, a não remuneratórios”. E considera que, tal como é crucial atrair novos médicos para o SNS, “é essencial manter aqueles que já lá estão e que são aqueles que mantêm os serviços a funcionar”.

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