GRAVIDEZ DE RISCO
Tudo começou em 2017, com uma gravidez de risco. Para Rute Caleiro, foram sete meses em casa, longe do trabalho que gostava e com o coração atormentado pela memória de um aborto recente. Os exames médicos diziam que tudo estava a evoluir bem e, aos cinco meses, contrariaram a crença dos pais... Rute e o marido acreditavam que iriam ser pais de uma menina, mas o destino trocou-lhes as voltas: afinal, era um rapaz que se preparava para vir ao mundo.
A 2 de janeiro de 2018, com 39 semanas de gravidez, lembra a mãe, tudo se precipitou: "Senti que algo não estava bem. Estava ansiosa e preocupada, e só me apetecia chorar”. No hospital de Beja o diagnóstico é claro: o bebé revelava uma frequência cardíaca preocupante, o que torna imperiosa a realização de uma cesariana. Gonçalo nasceu nesse mesmo dia, sendo de imediato levado para o serviço de neonatologia.
Poucas horas depois, na sequência de uma convulsão, é transferido para o hospital de D. Estefânia, em Lisboa, com um prognóstico muito reservado e com poucas probabilidades de sobreviver, de acordo com a opinião médica. "Foi uma dor horrível. Fiquei ali, sozinha... e o meu bebé a ser levado”.
Ressonâncias magnéticas e eletroencefalogramas nada revelaram. Mas o tónus muscular apresentava uma rigidez anormal. Uma punção lombar identificou a falta de vitaminas essenciais para o desenvolvimento e mobilidade. E faltava uma explicação para as descidas de saturação de oxigénio e de frequência cardíaca que aconteciam constantemente e que o deixava com uma tonalidade cinzenta.
Só passados cinco meses é que teve alta médica. Foi o fim de uma etapa e o começo de muitas outras, onde se incluíram diversos internamentos, em resultado de infeções provocadas pela acumulação de saliva, e uma paragem cardiorespiratória que o obrigou a utilizar, todas as noites, um modo ventilatório não invasivo, um respirador mecânico utilizado no tratamento de doenças pulmonares conhecido como BiPap.
TRATAMENTOS DE REABILITAÇÃO
Rute Caleiro diz que a partir desse momento, depois de o filho "ter melhorado bastante da parte respiratória", surgiu a necessidade de se avançarem com tratamento de reabilitação. "O Gonçalo, com dois anos, não se senta, não anda, não fala e não come pela boca". Foi-lhe "desenhado" um programa adaptado às suas necessidades específicas - "uma nova esperança" - que incluiu um tratamento intensivo numa clínica em Lisboa, com um custo superior a cinco mil euros e sem qualquer comparticipação por parte do Serviço Nacional de Saúde. “O ideal é que este tipo de tratamento seja repetido a cada três ou seis meses, dependendo sempre da criança e da sua condição após o final de cada um deles,” refere a mãe.
O primeiro ciclo de tratamentos decorreu em julho. E com resultados positivos. "Conseguiu adquirir mais flexibilidade, muito importante para uma próxima fase no gatinhar. Conseguiu ainda estar sentado sozinho com o apoio dos braços. Adquiriu mais força nos braços e no controlo cefálico. Como é óbvio, queríamos muito mais, mas tem de ser ao ritmo dele e de acordo com as suas capacidades. Melhorou muito no que diz respeito aos cuidados diários, ou seja, a rotina. Tem completa noção do que é para fazer e isso refletiu-se no trabalho que foi feito pela terapeuta da fala. Aprendeu a distinguir as cores e as partes do corpo”.