Diário do Alentejo

Tauromaquia exige apoio contra prejuízos de 5 milhões

17 de junho 2020 - 19:00

A ProToiro - Federação Portuguesa de Tauromaquia alertou para os impactos que a pandemia de covid-19 está a causar no setor, com o cancelamento de cerca de 70 espetáculos, num prejuízo de quase cinco milhões de euros.

 

"A maior parte dos espetáculos tauromáquicos não é recuperável. Estamos a falar de cerca de 70 espetáculos cancelados até agora e de cerca de cinco milhões de euros de prejuízo só de receita, sem tirar todos os custos diretos e indiretos do setor", diz o secretário-geral da ProToiro, Hélder Milheiro, acrescentando que por inevitabilidade da pandemia da covid-19, o setor está a sofrer um impacto interno económico e financeiro "muito drástico" de há dois meses para cá, porque "há pessoas em situações muito críticas", pelo facto de a atividade estar parada.

 

"A sazonalidade da tauromaquia - entre março e outubro - faz com que, se estes artistas não têm receitas nestes meses, ficarão completamente sem receitas até ao ano que vem. Não trabalhando nestes meses, é uma perda irrecuperável", observou.

 

Apontando para inexistência de apoios para o setor, Hélder Milheiro disse que as ajudas definidas pelo Estado não se aplicam à tauromaquia. "Até agora não houve nenhum apoio e é esta a realidade", realçou, acrescentando que deve haver um "apoio de emergência à receita perdida e à emergência económica do setor e dos artistas", bem como medidas fiscais que "possam compensar de alguma maneira a atividade".

 

Em declarações ao “Diário do Alentejo”, o ganadeiro Joaquim Grave recorda que a inexistência de espetáculos “deixa classes profissionais completamente paradas, como são os toureiros e todos os que gravitam em seu torno”. Por outro lado, os ganadeiros debatem com problemas “ainda piores” pois “para além de não venderem, continuam com os custos inerentes à manutenção dos animais e de toda a estrutura das explorações que detém”.

 

“Como repercussões a curto/médio prazo, teremos em primeiro lugar um abate de toiros sem serem lidados uma vez que muitos ganadeiros não conseguirão mantê-los. Não esqueçamos que os toiros são um produto perecível e ficam fora de prazo quando atingem seis anos de idade. Esta situação para um ganadeiro que sinta com paixão a criação e seleção destes animais supõe um murro no estômago com consequências inimagináveis a todos os níveis, psicológico incluído”, acrescenta Joaquim Grave, acrescentando que o excesso de oferta no próximo ano “provocará uma queda no preço dos toiros, assim como no cachet dos artistas”.

 

Cavaleiro e ganadeiro, Tito Semedo refere que os prejuízos provocados pela covid-19 na tauromaquia “são incalculáveis” e dá um exemplo: “Temos 30 toiros, 40 novilhos, que seriam toureados este ano… Estamos muito preocupados, pois este ano não haver turismo e na praça de Albufeira, por exemplo, realizam-se 25 corridas por ano”. Segundo Tito Semedo, os apoios à tauromaquia devem ser idênticos aos anunciados para outros setores, incluindo a criação de linhas de crédito. “Honestamente, sinto que a tauromaquia está a ser marginalizada, não só pela ministra da Cultura como pelo próprio Governo”.

 

Também António Brito Paes diz que, para já, os prejuízos na tauromaquia “são impossíveis de quantificar”. Mas a conta começa a subir: “Para já temos a perda para a lide dos animais que deixam de poder ser lidados por fazerem seis anos. Na temporada passada lidámos em outubro, o que nos obrigou a ficar com três toiros de cinco anos que já não vão ser lidados”.

 

Um teria seguido para o concurso de ganadarias em Moura. Outros na corrida de Almeirim, inicialmente marcada para abril. E outros três toiros, de quatro anos, estavam destinados á Ovibeja. Todas as corridas foram canceladas. “Sob o ponto de vista económico o impacto é grande , mas como aficionados e criadores temos pena de não vermos o comportamento em praça destes animais”.

 

O ganadeiro não tem dúvidas sobre a inevitabilidade de “sacrificar um número significativo” de toiros: “Há que encontrar um canal de escoamento a preços razoáveis e não especulativos nem que seja com uma ajuda monetária ao abate a bem da sobrevivência do setor e da mão de obra que ele alimenta, em detrimento de carnes importadas”.

 

Por outro lado, acrescenta António Brito Paes, “deveria ser posto de parte o fundamentalismo dos canais de televisão, quer públicos, quer privados, de modo a poderem ser transmitidas corridas, ainda que sem público [na praça], em que todos os agentes da festa estivessem empenhados”.

 

O ganadeiro recorda que o setor depende de dois ministérios: o da Agricultura e o da Cultural. “Na parte produtiva, embora tenham sido tomadas algumas medidas de carácter geral como o pastoreio em pousios, nada foi feito a favor do setor tauromáquico. Na parte do espetáculo dependemos do Ministério da Cultura e aqui todos sabemos quais são as posições e os gostos da ministra. Seguramente está muito contente com as dificuldades do setor esquecendo-se que são os portugueses que lhe pagam o salário e que o gosto por este espetáculo faz parte da cultura portuguesa e é do agrado duma elevada percentagem de portugueses”, conclui.

 

REGRESSO DAS CORRIDAS

Para o secretário-geral da ProToiro, o regresso dos espetáculos tauromáquicos é “urgente” e deverá acontecer ainda este mês: "Vamos estar muito vigilantes às medidas, e vamos começar a agir de forma muito mais drástica do que até agora, porque não vamos tolerar o censuro [do Governo]", afirmou. Segundo Hélder Milheiro, a ministra da Cultura, Graça Fonseca, “mentiu” ao parlamento quando disse que as atividades tauromáquicas teriam início em 1 de junho. "Disse que não havia nenhuma diferença na reabertura do setor da cultura, incluindo a tauromaquia. Mas, ao contrário do que disse, mentiu aos deputados, mentiu ao parlamento e, quando saiu a resolução do Conselho de Ministros nesta sexta-feira, veio com toda a área da cultura aberta, com exceção da tauromaquia", acusou.

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