Existem no distrito de Beja centenas de coletividades de recreio, da cultura e do desporto, abarcando milhares associados, que nas cidades, vilas e aldeias desenvolvem atividades em prol da população. “O associativismo popular tem um papel importante no aglutinar das pessoas em torno de necessidades comuns. Em muitas localidades do distrito de Beja, é o movimento associativo, parceiro importante do poder local, que organiza as festas locais, promove a cultura, dinamiza o desporto. Em alguns casos, o único espaço de que a população dispõe para conviver é a sede da associação – é o ponto de encontro. Fecharam o posto médico, a junta de freguesia, os correios, as lojas, mas as coletividades mantêm a sua presença”, lembra José Baguinho.
Quanto à reabertura das sedes e ao recomeço das atividades associativas, “isso dependerá das medidas de desconfinamento” em curso, mas há o receio de que nos próximos tempos “será tudo muito condicionado”: “Os santos populares, com a realização de mastros populares e marchas em junho, os bailes, as festas de verão – mais de uma centena por todo o distrito – dificilmente se realizarão, pelo menos nos moldes habituais. Desporto associativo, filarmónicas, grupos de teatro, quase tudo está parado”.
Presidente do Centro Social, Cultural e Recreativo do Bairro da Esperança, na cidade de Beja, José Baguinho fala da situação da coletividade: “A pandemia fez com que tivéssemos de cancelar a atividade cultural e recreativa. Porque também somos uma IPSS, mantivemos o serviço de refeições e outros apoios pontuais a utentes e associados. Fechamos a creche ‘O Espaço é teu’, que promovia atividades juvenis, e o ‘Espaço Sénior’, para os mais idosos”.
Os apoios não têm faltado: “Tomámos medidas para controlar os impactos financeiros, tivemos apoios da Câmara de Beja para o pagamento da água e um reforço no subsídio anual. A União das Freguesias de Beja (Salvador e Santa Maria) também nos tem apoiado e, felizmente, recebemos por completo o valor dos acordos com a Segurança Social”.
Quanto à retoma, existem ainda muitas incógnitas: “A creche reabriu no dia 18, com um número reduzido de crianças. Esperamos que tudo corra bem e que em junho haja condições para estarmos a funcionar em pleno. Em relação a atividades com a população, com os jovens e os idosos, ainda não sabemos o que irá acontecer. Mas temos de encontrar as melhores formas de ultrapassar a presente situação, o que não é fácil”.
À ESPERA DA RETOMA
“Com os dados disponíveis, neste momento, podemos calcular por baixo um prejuízo de 2103 euros em média por cada coletividade em dois meses (março e abril), faltando ainda recolher indicadores associativos com base nos resultados contabilísticos a aprovar, os quais, naturalmente, farão subir aquela média”. A estimativa é de Victor Carapinha, da direção da Cpccrd e coordenador do seu Gabinete Sul, com sede em Beja e cobrindo os distritos de Portalegre, Évora, Beja e Faro.
Faz notar que as atividades culturais, recreativas e desportivas foram todas suspensas ou canceladas, entre março e maio: “Em geral, ficaram todas pelo caminho, uma vez que o associativismo parou as atividades e encerrou as sedes em março. Considerando apenas uma média de três ações associativas por coletividade, estaremos em presença de cerca de 7710 iniciativas canceladas em definitivo, sendo menor o número de eventos recuperáveis”, realça.
Segundo Victor Carapinha, a retoma gradual das atividades vai depender da decisão do Governo e da Direção-Geral da Saúde quanto ao desconfinamento, e esse recomeço não deverá ocorrer antes de 31 de maio. Por sinal, quando se comemora o Dia Nacional das Coletividades.