Diário do Alentejo

Crónica de José Lopes Guerreiro: Aeroporto de Beja, agora ou nunca

31 de maio 2024 - 12:30
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

 

O recente anúncio da decisão do Governo de ter optado pela localização do novo aeroporto de Lisboa no Campo de Tiro de Alcochete veio abrir uma grande janela de oportunidade para o aproveitamento do aeroporto de Beja como complementar do atual Aeroporto Humberto Delgado e não só.

 

Todos – Câmara Municipal de Beja, deputados, partidos políticos, movimentos –, se têm vindo a manifestar favoráveis a essa possibilidade, embora alguns façam tanta questão de evidenciar dificuldades e obstáculos à sua concretização, que se levantam dúvidas relativamente à sua genuína convicção de que é uma solução possível e, mais ainda, à sua disposição para lutar por ela, aproveitando esta oportunidade.

 

São interessantes e positivos os comentários feitos por todos. Mas dos responsáveis políticos exige-se mais. Exige-se ação. E do que li e ouvi até agora, só o Beja Merece + avançou com um pedido de reunião com o ministro das Infraestruturas para apresentar os argumentos em defesa do aproveitamento do aeroporto de Beja, afirmando que “Beja tem um papel muitíssimo importante a desempenhar durante este período” e que é importante “não esquecer os quatro polos que Beja pode servir, nomeadamente, Lisboa, Algarve, Sines e Espanha”.

 

Não podem ficar-se pelos comentários favoráveis. É preciso e é urgente lutar pela criação de condições para o aproveitamento do nosso aeroporto. E este é o momento. Exige-se a todos que o façam. Naturalmente que uns têm mais responsabilidades e obrigação de o fazer. É o caso da Câmara Municipal de Beja, onde se localiza esta infraestrutura e que mais tem a beneficiar com ela. Porque não promove, o mais depressa possível, um encontro com todos os interessados, para analisar esta nova grande oportunidade que se criou e delinear as ações a desenvolver, com o maior consenso possível, com vista a assegurar o seu necessário aproveitamento?

 

A decisão do Governo de ampliar o Aeroporto Humberto Delgado, de forma a melhorar as condições de operação e aumentar significativamente o número de voos por hora, tendo em conta a previsão da construção do novo aeroporto demorar pelo menos 10 anos, parece de muito difícil concretização e de não ser a mais adequada às necessidades, pelos constrangimentos espaciais, ambientais, a duração e o impacto das obras, os elevados custos para investimentos de curta duração, entre outros.

 

Tal como a ZERO afirma, o aumento de capacidade do Aeroporto Humberto Delgado, anunciado pelo Governo, está para além das recomendações da Comissão Técnica Independente sobre o novo aeroporto, o “que faria agravar o flagelo a que muitos cidadãos de Lisboa são... expostos devido ao sobrevoo intenso de aviões na cidade”, pelo que este anúncio parece ter sido precipitado, porque devido à “envergadura dos prejuízos envolvidos, a ZERO crê que qualquer pedido de licenciamento de aumento de capacidade será indeferido pelas autoridades ambientais”.

 

É verdade que o aproveitamento do aeroporto de Beja para o número de voos necessários ao seu funcionamento complementar ao de Lisboa exige investimentos e obras, mas nada que se pareça com o que terá de ser feito na Portela. E, neste caso, com a agravante de serem feitos para um curto prazo de utilização, quando os efetuados em Beja servirão para o futuro.

 

Esta será certamente uma questão que importará à ANA – Aeroportos de Portugal, a quem competirá fazer os investimentos e obras, por ser a concessionária da rede aeroportuária nacional. E ainda importa não esquecer a coesão nacional. Enquanto o investimento em Beja tem um impacto positivo nesse objetivo, o investimento na Portela só contribuirá para acrescentar mais e novos problemas aos que já existem.

 

Parece, pois, existirem argumentos suficientes que permitam acreditar que a decisão de ampliar o Aeroporto Humberto Delgado, pelo menos no respeitante ao aumento do número de voos, poderá ter sido precipitada e ter de ser revisitada, obrigando a optar pelo aproveitamento do aeroporto de Beja. Esta hipótese, por mais remota que possa parecer a alguns, deve obrigá-los, pelas funções que exercem, a mexerem-se, a tudo fazerem para tentar que todas as potencialidades do aeroporto de Beja sejam aproveitadas, para bem de Beja, da região e dos que nela vivemos. E também do País, que precisa de aproveitar melhor os recursos existentes, designadamente, toda a rede aeroportuária nacional. Fica o repto. Espero que seja aceite.

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