Diário do Alentejo

Crónica de Ana Paula Figueira: Carta a um filho no dia do seu aniversário

27 de agosto 2023 - 19:00
Ilustração | Pedro E. SantosIlustração | Pedro E. Santos

Neste dia esbraseante de Agosto

fazes trinta anos.

Queria falar-te de Vida e de Amor

e da importância de procurares ser,

sempre,

o obreiro do teu próprio Tempo.

 

Lembro-me de, quando pequenino

e antes de adormeceres,

contar-te estórias

que inventava para ti.

“E depois? E depois?”

perguntavas

quando percebias que

o resto ia ficar para o dia seguinte.

“Amanhã é outro dia. Logo se vê”

respondia eu, querendo mostrar-te que

a Vida soma, um dia atrás de outro,

numa caminhada em direcção a casa.

Prenhe de acontecimentos prováveis

e muitos outros, imprevistos.

Em todos é preciso saber esperar

ao mesmo tempo que

é essencial fazer acontecer.

Essa colecção de momentos por ti vividos,

doces e brandos

amargos e brutais,

conta a tua estória.

Inacabada.

Que agora se cruza com a minha,

mas que um dia

estará para além da minha.

Que Deus o queira!

 

Entretanto, sem que o soubesses,

foste tu que me ensinaste

a olhar para o meu “avesso”,

a reconhecer e a aceitar

a minha imperfeição.

Ensinaste-me

a acatar a fluidez da vida,

sem descuido, mas com uma certa leveza;

ajudaste-me a descobrir

a beleza de cuidar

de quem amamos

e a perceber que este compromisso

de ternura, de afecto e de bem-querer

que me liga eternamente a ti,

é impossível ser escrito em linha recta,

sendo que nele triunfará, sempre, o Amor

e a certeza de que és,

a todo o tempo,

a Luz e o Sol da minha vida.

 

Creio estar na altura de dar realce

e de solenizar a entrega que agora te faço

deste meu testemunho:

Fazer trinta anos

é ver a Vida com mais nitidez,

é, com destreza, saber lidar com o que te é hostil,

é perceber que deves focar-te em viver a tua essência,

é aprender que amares e seres amado

é a tua maior conquista

e o teu maior presente,

é aprender a ouvir o coração em todas, mas todas,

as decisões que tomares,

é entender que, cada dia, tudo muda

e a busca pela felicidade é constante.

Acredita que as transformações vão continuar

e tu vais seguir, mudando, descobrindo novos caminhos,

conhecendo novas etapas

desta grande e maravilhosa experiência

que é a tua Vida!

 

Não te esqueças, meu filho,

que viver é muito mais do que respirar,

do que dormir e do que acordar,

que não existe Amor sem Respeito

e que as pessoas se distinguem menos entre si,

do que uma pessoa da outra.

Lembra-te que a Vida

é feita de escolhas,

entre a ilusão de ganhar e a realidade de perder,

e que quando escolhemos

fazemo-lo cientes (mesmo que na altura não pareça)

de que começamos e partimos com coisa nenhuma:

Se aprenderes a perder serás decerto mais feliz.

Confia em ti,

mas não deixes de ouvir os outros,

de procurar compreender as diferenças,

o que não significa que as assumas.

Também o Amor pode surgir-te de muitos lados

e com múltiplas formas:

recebe-o e retribui-o de braços abertos,

como dádiva que é.

 

Por fim, compromete-te a dar tempo ao tempo,

crê que poucas são as coisas

que acontecem (apenas) por acaso,

e não tenhas medo do medo:

A vida é tão curta e tão intensa que…

Vive [cada] momento com saudade dele

Já ao vivê-lo . . .

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