Diário do Alentejo

Crónica de Florival Baiôa: Uma autoescada para os Bombeiros de Beja

15 de abril 2023 - 15:00
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Das poucas coisas que gostamos na nossa cidade é estarmos bem sentados com amigos a beber o nosso café ou a nossa imperial – coisa que se vê, felizmente, em cada sombra de esplanada. É um momento e um hábito, salutares e únicos, no nosso quotidiano, que persistem há muito e esperamos que continuem. Nesses encontros fala-se de variados temas próprios de uma pequena cidade, com conversas sobre pessoas com vidas mais “apimentadas”, elogiando, de quando em vez, rasgada mas timidamente, uma ou outra (temos, tristemente, alguma dificuldade em elogiar os demais). Mas as conversas que mais povoam as mentes e a língua dos cidadãos é sobre a sua cidade.

 

Principalmente o que está mal e menos bem. Mas raramente se fala sobre aquilo que cada um de nós, em prol da cidadania, pode fazer. Isto tudo para falar da decisão de meia dúzia de cidadãos, que à “sua” mesa de café, na sua tradicional bica social, decidiu empreender. Uma mesa que parece uma universidade do trabalho, onde se debatem o labor diário do campo, as notícias de última da hora, com o episódio mais atual da guerra da Ucrânia, os altos e baixos dos negócios, as muitas anedotas que se contam e o quotidiano da cidade.

 

Uma das últimas preocupações que rondaram pelas cabeças daquela tertúlia, por motivos de simpatia e afeto pela instituição, foi a avaria da autoescada dos Bombeiros de Beja, única no distrito, aparentemente sem resolução. Porque é que havia de estar avariada uma ferramenta essencial para o combate aos incêndios, podendo ser necessária, de forma urgente, a sua utilização para impedir uma possível catástrofe? Na dita mesa foi logo dado um sinal de alerta vermelho quanto a uma certa inoperância das instituições oficiais e resolvemos lançar mãos à obra, questionando-nos a nós próprios: “Quanto custa o arranjo? Quem poderá contribuir para os gastos? O que é preciso fazer para perceber tudo isto?”.

 

Estas dúvidas começaram a “partir” a cabeça de dois ou três carolas – parvos como alguns nos chamam – que arranjaram mais uns quantos carolas iguais. E ZÁS: aí está a dita arranjada, pronta a fazer o seu trabalho, a salvar vidas e a contribuir para a nossa segurança. Claro que para isto acontecer foi preciso “arrancar” em primeira e de seguida engrenar as outras mudanças todas, já com o apoio das instituições locais e nacionais, todos juntos a contribuírem para a reparação da autoescada – as contribuições até deram para a aquisição de outra viatura.

 

Foi este um trabalho de cidadãos ativos, amantes da sua terra, que perderam um bocadinho do costume do sossego da sua bica social, mas que ganharam prestígio e orgulho, por lutar pelo bem da sua região. Se valeu a pena? Valeu!

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