Diário do Alentejo

Crónica de Florival Baiôa: Se vale a pena?

19 de fevereiro 2023 - 12:00
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O Baixo Alentejo e Beja alertaram e lutaram, há cerca de 12 anos, pela modernização e eletrificação da sua ferrovia, incluindo o não encerramento das viagens diretas para Lisboa. Se não nos mexêssemos para além do nosso conforto e das cores da televisão estaríamos, aí sim, à beira do abismo. Felizmente conseguiu-se, por insistente manifestação pública por parte da população, ir à Assembleia de República, reunir com todos os grupos partidários e participar em sessões de trabalho, em vários ministérios.

 

Conseguiu-se divulgação, fundamental para qualquer movimento social, alertar os cidadãos e, principalmente, que o comboio para Beja não fosse extinto, já que estava na sebenta “daqueles meninos” acabar com este “ramal de Beja”. Naquela altura, a ideia de nos indignarmos conjuntamente partiu de um bejense nato, o Jorge Serafim, que correu o risco de, em conjunto, organizar uma reunião, com apelo aos cidadãos, em que se transmitisse aquilo que estava a suceder em surdina, através das cabeças ocas e pouco democratas do Ministério das Infraestruturas, da CP e de outras, que eu, agora, não digo quais.

 

Todo o País ficou a conhecer o Beja Merece +, nome muito bem pensado e atribuído por Pedro Vasconcelos. Mas a malfadada história amnésica dos políticos lisboetas continuou a não ter boas ideias para a região, como todos nós bem sabemos. Estávamos fora do mapa de Portugal – “malditos mouros que nos andam a dar ‘fezes’ às nossas cabeças”, devem eles ter pensado –, quando uma década depois entrámos de novo na luta, desta vez com um “exército” de quase 30 mil cidadãos. A petição do Beja Merece + teve 26 101 assinaturas e foi levada, no dia 10 de maio de 2018, à Assembleia da República, por uma excursão inolvidável de baixo-alentejanos, que se deslocaram à capital. Um dia da Espiga em que os deputados saíram do hemiciclo para falarem connosco e receberem a documentação que lhes era destinada.

 

Com uma enorme adesão à causa regional, estava na rua o maior movimento social autóctone de Beja, do último século. Um movimento que nos fez entrar na história cultural e social da nossa região. A população de Beja tomou uma posição forte e começou a reivindicar a concretização de infraestruturas fundamentais para a região do Baixo Alentejo – a eletrificação e modernização da ferrovia (Funcheira – Beja – Casa Branca – Lisboa), da A26 (Sines – Beja – Ficalho) e o aproveitamento integral do aeroporto.

 

Beja esteve em toda a comunicação social. Esteve no Parlamento, com a Comissão de Economia, onde foram aprovadas as nossas reivindicações e das quais saiu um projeto de lei. Esteve com o Presidente da República. Esteve com o ministro do Planeamento, numa reunião de trabalho frutuosa, onde se conseguiu integrar os nossos projetos no Plano Nacional de Infraestruturas. Esteve na União Europeia, onde se reuniu com eurodeputados, aos quais foram expostos os vários problemas regionais. Esteve com associações empresariais e instituições, das áreas industriais e transitárias. Só não conseguimos, infelizmente, juntar as várias autarquias a uma voz, para ir “guerrear” com o Governo. Sabe-se lá porquê.

 

Onde parará o bairrismo ou regionalismo das nossas chefias políticas, que não correspondem às vozes do povo? Será que as infraestruturas, tão necessárias para a região, não são um objetivo coletivo aceite por todos?

 

Mas o mais engraçado – e se calhar poucas pessoas sabem – é que já temos obras a iniciarem-se. O troço de ligação entre o aeroporto de Beja e a linha Beja – Casa Branca está em movimento. No dia 9 deste mês saiu em “Diário da República” mais um projeto de lei que reforça a necessidade de olhar de outro modo o aeroporto de Beja, como uma mais-valia para o País, com aproveitamento integral das suas potencialidades e dimensões, nomeadamente, na carga, parqueamento, manutenção e passageiros. Uma infraestrutura que poderá tornar-se, caso seja bem recebida e sustentada pela comissão de estudo para a construção do novo aeroporto, num importante polo para o desenvolvimento do turismo e da indústria, para o desenvolvimento generalizado da região.

 

“Vamos lá a ver”, como dizia o cego, mas cremos que poderemos afirmar que, pela primeira vez, estamos no bom caminho. Vale a pena lutar pelo Baixo Alentejo e por Beja? Dir-me-ão.

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