Diário do Alentejo

Crónica de Florival Baiôa: O ninho de alguns papalvos

13 de fevereiro 2023 - 09:00
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Vivemos todos, ou quase todos, numa fase muito complicada, a nível económico. Os juros das habitações dispararam para valores celestiais, sendo difícil pagar rendas e empréstimos, vamos ao hipermercado e um molho de salsa custa mais de um euro, a carne quase nem a conseguimos ver às nossas mesas (lá se vai comprando um franganito de aviário) e o preço do pão, que já não é de quilo, mas sim de 800 gramas, faz-nos reflectir sobre se as nossas sopas de feijão branco, migas e açordas continuarão a chegar ao nosso prato.

 

Dizem os economistas deste nosso sistema político que a culpa é de um fenómeno chamado inflação, algo perigoso quando atinge determinado valor. Daí que aumentem os juros, para que os consumidores comprem e gastem menos. Tudo isto do outro lado do espelho em que a nossa sociedade se transformou, pois parece que as pessoas têm vergonha de falar das suas necessidades financeiras.

 

Todos nós caímos em dois fenómenos: no consumismo, desmedido e estúpido, e na globalização, que na Europa teve aspectos altamente prejudiciais, embora neste caso o nosso país se tenha vindo a “safar”, dada a nossa pequenez e os nossos saberes técnico e produtivo, em algumas áreas.

 

Mesmo percebendo que o mundo atravessa esta fase difícil, quer pela subida de juros, quer pelo aumento dos preços nos produtores, nomeadamente nos sectores agrícola e das novas tecnologias, também é verdade que assistimos ao aparecimento, aqui e ali, de uns papalvos que se aproveitam da situação, que a dilatam até à exaustão para arrecadar mais do que aquilo que deveria ser razoável, sem qualquer sentido de solidariedade e de sociabilidade.

 

Basta lembrar que o número de ricos tem aumentado substancialmente. E que o número de pobres também, até mesmo aqueles que têm o seu trabalho.

 

E o que acontece no nosso concelho e na nossa cidade? Na quinta-feira fui comprar um pão, de 800 gramas. Informaram-me que, relativamente ao preço anterior, teve um aumento de 20 cêntimos e passou a custar 2,40 euros (fico meio louco quando os transformo em 480 escudos). Teve, portanto, uma subida de quase 10 por cento, quando há bem pouco tinha sofrido o mesmo aumento. Mas noutra padaria o mesmo tipo de pão, de qualidade semelhante, custa 1,40 euros. Este aumento é, no contexto económico, inexplicável. Quando devemos acompanhar os estados sociais e as dificuldades, parece que há sempre quem queira aproveitar-se da situação e enterrar-nos ainda mais. E parece que a água também subiu sete por cento.

 

Não poderão os intervenientes económicos, consumidores, produtores e comerciantes, pensar um pouco mais na sua intervenção e equilibrar, sem prejuízo, as suas práticas? Ainda há poucos dias, um lojista, na cidade, quis-me vender um produto, na montra há mais de três anos, com um novo preço mais “moderno”, 30 por cento mais alto. Claro que levou uma nega.

 

Beja poderia tornar-se, também neste aspecto, se todos assim o entendessem, numa cidade sustentável, praticando preços que fizessem frente a outras cidades, mais que não fosse para trazer mais gente às nossas ruas e para ser reconhecida como “a cidade dos preços justos”. Por que não fazer umas sessões de sensibilização pelas associações da classe e criar, em conjunto com outras instituições, uma estratégia de promoção do comércio de Beja. Alertando, simultaneamente, os consumidores a olharem um pouco mais para os preços e para a qualidade dos produtos, porque temos caminho para fazer e pouco tempo para mudarmos a nossa atenção, face ao que adquirimos.

 

O autor escreve de acordo com a antiga ortografia

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