Diário do Alentejo

“Klara e o Sol”

12 de junho 2021 - 00:00

No meu último aniversário, ofereceram-me este romance diferente, que mal comecei a ler logo me prendeu a atenção. Quem é Rosa? Quem é Klara? Quem é o rapaz que a interpela do outro lado da loja?

 

“Klara e o Sol”, um livro do escritor Kazuo Ishiguro, um japonês residente no Reino Unido e que foi galardoado com o Prémio Nobel da Literatura em 2017, traz-nos uma história especial, mas que de alguma forma nos transporta para outros livros ou filmes, em que interrogações filosóficas semelhantes se colocam. Afinal, o que faz de nós, seres humanos, seres especiais?

 

Num mundo tecnológico um pouco mais à frente do nosso, existem androides (um misto entre boneca e ‘robot’, criado à semelhança humana) produzidos para serem “amigos artificiais” (AA) de crianças de famílias com posses, e que as acompanham durante a fase de crescimento.

 

Klara e Rosa, duas dessas bonecas/’robots’, estão na loja, juntamente com outros androides, à espera de serem escolhidos. Alimentam-se de sol, por isso o rapaz, outro androide da loja, interpela Klara para que não queira os raios de sol só para ela. Rosa é escolhida por uma criança, o rapaz por outra, mas Klara, apesar de ter ficado algum tempo na montra, de onde podia observar a rua circundante, os prédios altos, os táxis que passavam, os peões que cruzavam a rua em passeio ou apressados, a máquina que causava poluição e escondia o sol, o mendigo e o seu cão, continuava apenas a olhar a rua, à espera.

 

Até que um dia uma menina de passo hesitante veio falar-lhe, através da montra, e sussurrar-lhe que um dia a mãe havia de concordar e Klara tornar-se-ia a sua “melhor amiga”. Mas os dias passaram, Klara saiu da montra para um espaço intermédio, depois para um canto mais afastado da loja, e a menina não voltava. Klara esperava-a, e a dona da loja, que considerava Klara especial, e com uma enorme capacidade de observação e de aprendizagem, deixou-a ir ficando. Até que, um dia, a menina regressou e, apesar de a mãe a aconselhar com um androide tecnologicamente mais evoluído, preferiu ficar com Klara, a “amiga” a quem, ainda na montra, tinha prometido voltar para a levar consigo para a sua casa grande, e de onde, desde a janela do quarto, poderia, todos os dias, deleitar-se com a grandiosidade do por do sol.

 

Klara vai acompanhando o crescimento de Josie, a menina doente de passo hesitante, apercebendo-se das dificuldades que os humanos têm para lidar com os sentimentos, da vida nem sempre fácil, da realidade por vezes dura que têm de enfrentar. Klara, com a sua natural curiosidade e enormes capacidades, reflete sobre o que nos torna, a nós humanos, especiais.

 

Mas, afinal, o que torna os seres humanos tão especiais?

 

Deixo para a vossa curiosidade, para o prazer de o descobrirem ao longo da leitura do livro. O verão avizinha-se, e podemos ler na praia, no jardim, à sombra de uma árvore. Usem máscara e boas leituras.

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