Já vai ficando distante a época 2020/2021, a última temporada em que o Sport Clube Mineiro Aljustrelense competiu no Campeonato de Portugal. Um clube que habituou os seus adeptos a “levantar-se” logo após uma “queda”. Mas os tempos são outros e os contextos também são diferentes.
Texto e Foto | Firmino Paixão
Carlos Piteira fez uma análise ao percurso do Mineiro, quando estamos a cinco jornadas do final do campeonato distrital da 1.ª divisão, com a equipa colocada no quinto lugar e a nove pontos do líder. O treinador afirmou que ainda acredita na eventualidade de chegar ao título. “Sem dúvida. Acredito! Enquanto for matematicamente possível, tenho de acreditar. No futebol tudo é possível, de repente as coisas podem virar-se ao contrário. Vamos acreditar até ao fim”.
Que avaliação faz do percurso do Aljustrelense?Temos feito um percurso muito interessante. Sentimos algumas dificuldades em dois jogos, devido a lesões e castigos e, de certa forma, ficámos mais limitados mas, globalmente, temos tido uma boa postura. Somos uma equipa que entra em campo a criar sempre muitas oportunidades, embora nem sempre façamos os golos que pretendemos, mas temo-las criado em todos os jogos e isso é sinal de que existe trabalho. Sinal de que, mais tarde ou mais cedo, acabarão por acontecer. Mas o futebol é assim mesmo. Estamos a seis pontos do segundo lugar, a nove do primeiro, daremos tudo para manter este campeonato ao rubro porque estamos conscientes de que ele tem sido muito competitivo e será disputado até à última jornada.
A equipa perdeu sete pontos em casa. Não era isto que pretendia…Sem tirar mérito aos adversários, nem fugir da realidade, devo lembrar que iniciámos a época com dois jogadores que, neste campeonato, fazem a diferença, e que se lesionaram, tendo mesmo de ser operados. Perdemo-los, praticamente, para o resto da época. Agora, na verdade, queremos sempre mais, estamos na luta, praticamos um futebol com boa dinâmica, um futebol espetáculo, e perseguimos sempre as vitórias. Doravante, cada jornada será uma final, não está nada ganho, mas também não está nada perdido. Acreditaremos até ao último jogo, porque tudo ainda será possível.
Os jogos perdidos em casa, com o Castrense e com o Vasco da Gama, foram determinantes?O futebol tem sempre estas situações em que os nossos adversários são mais felizes, são iluminados por uma estrela. Mas, nas últimas jornadas, o Mineiro tem trabalhado muito bem e não têm acontecido esses percalços. No futebol existe sempre uma bola que bate na barra, uma bola que não entra, bate no poste e vai para fora e parece que a exibição já não foi tão boa. O futebol é a paixão de toda a gente, toda a gente percebe de futebol. Mas volto a dizer, vamos acreditar até ao fim com o mesmo espírito, e sairemos deste campeonato com seriedade, com dignidade e respeito pelo nosso clube, pelo nosso símbolo. Estamos no Mineiro com muita paixão e o importante não é só vencer, é também deixarmos uma boa imagem, uma boa postura, deixarmos o nosso compromisso e a nossa marca. O que faz tudo bem feito e nunca falha ainda não nasceu. Os jogadores e os treinadores também falham. Temos de aproveitar aquilo que de melhor tem o futebol, trabalhar, lutar, jogar e acreditar sempre que podemos ganhar todos os domingos.
Ainda é cedo para “jogar a toalha ao chão”?O futebol é uma caixinha de surpresas e é por isso que mobiliza tanto as pessoas e as leva a todo o lado. Temos de louvar e respeitar o esforço destes jogadores que trabalham 12 horas, chegam ao campo e ainda dão tudo o que têm e o que não têm em prol da equipa. Estamos a fazer um trabalho tremendo. Pegámos no Mineiro há dois anos, não tínhamos jogadores, formámos esta equipa, neste ano temos três ou quatro atletas da equipa base do ano passado, os restantes entraram de novo. É um trabalho de base, com alguma formação, temos alguns jogadores da terra, outros do distrito, temos aqui um leque de jogadores criados dentro daquilo que é a nossa patente.
Mudou o paradigma: quando aqui chegou falou em potenciar os jogadores da terra. Hoje, mais de metade do plantel não cumpre esse requisito…É uma realidade que atinge toda a gente. É difícil ternos só jogadores da terra. A nossa formação tem como limite os 18 anos, altura em que os miúdos saem para as universidades. Passam as semanas fora da nossa terra. Se forem para o Algarve, arranjam lá um clube para jogar, se forem para Lisboa, será igual. Como é que se pode contar com um jogador assim? É difícil! Antigamente era fácil. Pois era! Nem todos os pais tinham a possibilidade de pôr os filhos a estudar no ensino superior. O contexto atual é este, os miúdos chegam aos juniores e vão embora. Mais de metade das equipas do nosso distrito dificilmente terá um jogador da terra. Nós ainda conseguimos manter aqui alguns formados no clube e outros que são do distrito. O trabalho que estamos a fazer até está muito acima daquilo que é o contexto e a realidade do futebol neste distrito.
O campeonato está muito equilibrado. Além dos candidatos crónicos têm surgido outras equipas a surpreender pela positiva?Sim, repare, por exemplo, que o Ferreirense tem uma grande equipa, mas tem muitos jogadores de fora da terra. Tem ali alguns miúdos da terra, mas a base são jogadores que vieram de outras terras para jogar no Ferreirense. O Aldenovense terá, porventura, um jogador da terra, mais nenhum. No Almodôvar não conheço nenhum jogador que seja da terra. E, perante isto, eu até me sinto orgulhoso, porque ainda tenho jogadores que têm aqui as suas raízes. Temos atletas formados no nosso clube, temos seis ou sete jogadores do nosso distrito, que foram formados nas equipas da região. E eu só posso estar orgulhoso. Portanto, cada vez mais o caminho leva-nos a perder jogadores na transição de juniores para os seniores. Quando falamos de formação, temos que admitir que, atualmente, a formação só será bem-sucedida nas academias dos grandes clubes, aqui não temos hipóteses de sucesso. Seguramos os miúdos como? E os que temos não são profissionais, trabalham duro todos os dias e ainda se dedicam ao clube pela paixão que têm pelo futebol. Hoje sou treinador, mas se pudesse trocar esta função pela de jogador fá-lo-ia, sem dúvida. Joguei uma vida inteira, essa é a minha maior paixão.