Diário do Alentejo

“Sem limões não há limonada…”

28 de dezembro 2024 - 08:00
Jesus Neca, treinador dos seniores do Despertar, põe a nu as fragilidades da equipa e do clubeFoto| Firmino Paixão

O Despertar Sporting Clube está na penúltima posição da tabela de pontos do “Distritalão”, em igualdade de pontos com o “lanterna vermelha”. Trocando por miúdos, em risco de uma possível despromoção.

 

Texto e Foto |  Firmino Paixão

 

Essa é a razão para o técnico Jesus Neca esperar o milagre e assumir: “Todos os pontos serão fundamentais para a nossa caminhada. Temos que começar já a pontuar no início do ano e nos confrontos diretos com as equipas cá de baixo”. O treinador bejense deixou mesmo o seu voto: “Que 2025 seja melhor do que 2024, não só para nós, desportivamente, mas também nas vidas familiares, sociais e profissionais. São os votos que estendo a toda a comunidade, desportiva ou não, da nossa região”. Já agora, acrescentamos nós: que o Despertar se safe depressa desta “enrascada” onde está metido. O momento é difícil, Jesus sabe-o bem. Já colocou o lugar à disposição mas garante que prefere estar do lado da solução do que ao lado do problema.

 

Um terço do campeonato e a avaliação que se faz deste percurso não pode ser positiva. Não deve estar satisfeito…Claro! Ninguém está satisfeito. Desde a equipa técnica, o presidente, a direção e os jogadores. Quando me convidaram para assumir o cargo de treinador da equipa, o que me pediram foi a manutenção neste patamar. Disseram-me que era um “ano zero”, com um novo presidente, uma nova direção, mas tinham saído muitos jogadores, porque as coisas estavam complicadas e o orçamento era baixo. Dessa maneira, o objetivo que me propuseram foi a manutenção, e eu aceitei. Saíram 12 jogadores, o que se compreende, porque foram ganhar mais dinheiro em equipas que tinham objetivos de subir de divisão. Saíram jogadores que eram a espinha dorsal da equipa e que nós não conseguimos segurar. Tivemos de reforçar a equipa com jogadores da segunda divisão, ficámos com um plantel curto, mas conscientes das dificuldades que iriamos encontrar.

 

 

O problema da falta de rendimento da equipa está identificado? Pouca qualidade, falta de soluções e de equilíbrio?É um pouco de tudo isso. Vamos jogar fora e levamos 14 ou 15 jogadores. Já jogámos com cinco juniores, depois de terem jogado no dia anterior no seu escalão. Queremos mexer com os jogos e não temos soluções para o fazer. As outras equipas têm-se reforçado. O Messejanense recebeu um atleta que já jogou na primeira liga, dois vieram do Campeonato de Portugal, o Penedo Gordo também já recebeu novos jogadores, o Sporting de Cuba mudou de treinador, que, certamente, trará novas soluções, e nós temos de o fazer também. Há seis semanas que o problema está identificado. Temos de recrutar jogadores, só que não os há. Queremos jogadores para duas ou três posições, mas que acrescentem qualidade ao grupo. Estamos muito limitados. Alguns atletas, por questões profissionais, nem conseguem estar presentes nos treinos e em jogos. É difícil trabalhar assim. Estamos descontentes, porque precisamos de uma vitória e não a temos conseguido. Já colocámos o lugar à disposição mais do que uma vez. O presidente não aceitou, ele tem estado connosco e não nos tem faltado nada, a não ser soluções de qualidade para o plantel. Nós queremos ser parte da solução e não do problema.

 

Soube sempre ao que ia? Não foi iludido? Mesmo assim aceitou “dar o peito às balas”?Sim! Mas o José Cavaco pediu-me para ir trabalhar com ele, e eu levei comigo o Paulo Pardal para meu adjunto, mas nunca pensámos que iriamos passar por estas dificuldades. As outras equipas estão cada vez mais fortes, têm orçamentos diferentes do que tem o Despertar. Tirando o Penedo Gordo, nós seremos a equipa que menos paga neste campeonato distrital. Não podemos comparar-nos com outras equipas. Mas nós aceitámos este compromisso, sabendo que para ir buscar jogadores de fora teríamos de lhes dar alojamento, alimentação e o vencimento. Mas isso implica uma disponibilidade financeira que o clube não possui. O clube está em fase de reestruturação. Detetámos o problema logo a montante, estamos conscientes disso, técnicos, dirigentes e jogadores estão a par do problema. Somos uma família e sabemos onde está o problema, mas não temos jogadores para trabalharem connosco. Vamos buscá-los onde? Ninguém faz uma limonada sem limões. É elementar…

 

O Despertar tem apostado muito numa formação de qualidade. Era suposto que esses atletas formassem hoje uma equipa sénior com outra robustez?Existiu um fator importante, que foi a saída de muitos dos nossos juniores para o Clube Desportivo de Beja, porque o clube está a disputar o campeonato nacional, e nós ficámos um pouco desarmados. Os miúdos preferem jogar num campeonato nacional, que tem outras dinâmicas, outra intensidade e onde eles crescem mais do que no plano distrital. Temos de trabalhar para resolvermos esta situação o quanto antes.

 

Também houve uma deserção de jogadores que eram nucleares para esta equipa do Despertar, e que não são juniores. Terá alguma coisa a ver com as greves da época passada por falta de pagamento dos subsídios?Não vou falar da época passada, nem desses problemas. Falarei desde o dia em que assumi o meu lugar na estrutura e das minhas responsabilidades enquanto líder do grupo. Mas, sim, saíram jogadores muito importantes no plantel do Despertar. Imagino que saíram para ganharem o dobro, ou o triplo, do que iriam ganhar aqui e porque foram para clubes com objetivos mais ambiciosos. Se foi isso, compreendemos e respeitamos a decisão deles.

 

Está confiante que as coisas podem inverter-se no início do próximo ano?Quero acreditar que sim. Mas temos de encontrar jogadores, se não o conseguirmos as coisas continuarão difíceis. O problema está a arrastar-se porque as outras equipas estão a reforçar-se. O que nós precisamos é de encontrar jogadores que acrescentem qualidade à equipa, para ocuparem posições estratégicas que nos tornem mais competitivos. Não podemos sentir que, em momentos chave do jogo, quando queremos mexer na equipa, olhamos para o banco e não temos como fazê-lo. Temos de adaptar jogadores de outras posições. Acredito que o iremos conseguir. Era importante recuperar o Miguel Romão com quem não temos podido contar, inscrever o Marcos Wagner, que está à espera da sua legalização e que é uma peça importante. Depois, os restantes também estão um pouco acomodados porque, não existindo outras soluções, eles farão sempre parte das nossas escolhas e acomodam-se. Mas nós estamos cá para assumir a responsabilidade.

Comentários