O passe, o lançamento, o jogo aéreo, a escolha do pé, a profundidade do jogo, enfim, toda uma aprendizagem das técnicas e da magia do jogo da bola estive em destaque durante um período de duas semanas que hoje termina com a presença de 90 jovens, através do projeto “Foot Academy” que, sob pretexto do desporto, valorizou a componente social.
Textoe foto Firmino Paixão
Carlos Miguel Estebaínha, de 45 anos, desenhou uma longa e prestigiada carreira de futebolista, tendo vestido as camisolas do Mineiro Aljustrelense, emblema da sua terra natal ao qual teve a ligação mais prolongada, mas também as do Clube Desportivo de Beja, do Vasco da Gama de Sines e do União da Madeira. De há oito anos a esta parte começou a devolver ao futebol todo esse capital de prestígio granjeado enquanto jogador e treinador. Juntou um grupo de amigos, também ligados à modalidade – em alguns casos seus colegas de carreira – e, através do projeto “Foot Academy”, tem vindo a partilhar a sua experiência com meninos e meninas, jogadores e jogadoras, de diferentes clubes do Sul, nesse magnífico palco de aprendizagem do jogo da bola, e da sua mística, que é o Estádio Municipal de Aljustrel.
O que é a “Foot Academy”?
É um projeto de formação na área do futebol que iniciámos há oito anos com uma atividade desenvolvida em duas ou três semanas, sempre nos meses de julho ou agosto. Cada vez temos tido maior participação. Temos recebido jovens de todo o distrito de Beja e também do Algarve. É um projeto interessante, porque nós só trabalhamos a parte técnica mais específica, algo que, hoje em dia, nos clubes, é mais difícil de ensinar, não porque os treinadores não tenham qualidade, nada disso, só que o tempo de treino os limita. Se quiserem fazer este trabalho com os miúdos, dificilmente conseguirão fazer um treino. Nós dedicamo-nos a esta prática, a estas aprendizagens e, felizmente, temos tido muito sucesso.
O Carlos lidera o projeto, mas tem outros formadores ao seu lado?
Temos uma equipa que já trabalha junta há algum tempo. Desde que iniciei este projeto já tive comigo vários colegas. Presentemente, tenho o Duarte Patrício e o Nuno Martins, amigos que jogaram futebol comigo, mas temos também o José Bernardino, o Miguel Coelho, o José Soares e o Pedro Bastos. São pessoas da minha confiança e com vocação para partilharem os seus conhecimentos com estes jovens. O que pretendemos é partilhar, com todos eles, aquilo que nós aprendemos no futebol.
Devolvem ao futebol aquilo que o futebol vos proporcionou…
Pode dizer-se que sim. Joguei futebol mais de 30 anos, estou muito agradecido ao futebol por tudo o que me proporcionou, por isso, andamos aqui com muito gosto, com muita dedicação. Não queremos que os jovens venham para cá só por vir, queremos que venham com muita disponibilidade para aprender. Claro que não estamos aqui a formar “Cristianos Ronaldos”. Sabemos que sem trabalho e sem dedicação nada se consegue, e essas são as ideias que também lhes procuramos transmitir.
A academia tem como lema o aperfeiçoamento técnico. Que competências ganharam estes jovens atletas?
Uma vez por outra fizemos um ou outro jogo, porque eles gostam de jogar futebol. Mas a base da formação não é essa, não trabalhamos táctica, isso faz-se nos clubes e a minha opinião é que ela deve ser trabalhada apenas para lá dos 13 ou 14 anos. Os miúdos têm de se divertir com o futebol. O que nos interessa aqui é diferente. Por exemplo, um miúdo que joga apenas com o pé direito, tentamos que jogue também com o esquerdo. Muitos atletas têm dificuldade em fazer um passe, não sabem, por exemplo, cabecear uma bola ou efetuar um lançamento. Esse é o nosso trabalho, é difícil, é verdade, mas saímos daqui felizes com a evolução deles.
Neste oito anos já passaram por cá alguns talentos?
Claro! Por exemplo, o filho do Duarte Patrício, e a Teresa Estebaínha, que passaram por esta academia e que hoje são atletas do Benfica. Perdoem-me se esqueço alguém, mas sabemos de muitos miúdos que por cá passaram que estão no Algarve, nas academias do Sporting, do Benfica e do Porto. Evidentemente que nós não descobrimos nada, mas quando esses jogadores se evidenciam e são notícia orgulhamo-nos da sua evolução e do facto de terem passado por cá.
O prolongamento do aperfeiçoamento técnico é a componente social, onde reforçam o espírito de grupo…
Na verdade, temos outras parcerias, para que o tempo não se esgote com o futebol. Na parte da manhã trabalhamos, realmente, o aperfeiçoamento técnico do futebol, à tarde proporcionamos-lhes outras actividades. Temos, por exemplo, uma parceria com o ginásio da Vera Costa, onde eles têm assistido a algumas palestras, nomeadamente, sobre nutrição e superação. Também vamos às piscinas e temos tido a presença dos Bombeiros Voluntários de Aljustrel com as suas viaturas de socorro, de combate a incêndios, de desencarceramento e suporte básico de vida, demonstrações que são muito úteis para a sua vida futura.
Têm sido necessários apoios e parcerias?
O apoio do município de Aljustrel tem sido fundamental ao longo destes anos. Mas existe um aspeto importante, que é o facto de nós, enquanto treinadores, também crescermos com estes momentos que os miúdos e miúdas nos proporcionam. Cada um tem a sua personalidade, cada um tem o seu caráter, e tudo isso são experiências pelas quais vamos passando e nos fazem crescer. Entendemos este processo de partilha das nossas vivências no futebol como uma missão.