Diário do Alentejo

Uma dobradinha algarvia

30 de junho 2024 - 08:00
Patrícia Serafim e Nuno Correia, atletas do Clube Desportivo Areias de São João, venceram Trilhos do Montado e dos EnchidosFoto| Firmino Paixão

Patrícia Serafim e Nuno Correia, atletas do Clube Desportivo Areias de São João, de Albufeira, foram os vencedores absolutos da segunda edição dos Trilhos do Montado e dos Enchidos, uma prova de 10 quilómetros, organizada pela União de Freguesias de Garvão e Santa Luzia, no concelho de Ourique.

Texto e Foto Firmino Paixão

A coincidência de datas entre os campeonatos nacionais de atletismo master terá, porventura, impedido que a segunda edição dos Trilhos do Montado e dos Enchidos tivesse sido mais participada. Contou com 78 atletas. Veio quem quis e foi com estes que se escreveu mais uma história desta prova que, abnegadamente, vem evoluindo, fruto da vontade de pessoas, autarcas locais e voluntários que gostam de fazer acontecer coisas nas suas terras. Poderia existir um organismo que calendarizasse as provas, evitando sobreposições. Se existe, ainda não teve arte, nem engenho, para o fazer com a desejada eficácia. Vieram poucos? Mas eram bons! Vejamos o palmarés dos vencedores, Patrícia Serafim e Nuno Correia, atletas do Clube Desportivo Areias de São João e atestemos da sua qualidade.

Faltariam uns três quartos de hora para se dar início à corrida, desde Garvão a Santa Luzia, com a inevitável passagem pela Funcheira, e já se viam muitos atletas a fazer o seu aquecimento. Junto ao café central da aldeia, à sombra da esplanada, refrescavam-se alguns homens já com a tez enrugada, gente cansada de subir e descer aquelas terras dobradas onde predomina o montado, por aonde pastoreiam os animais que conferem ao concelho o justo epiteto de “Capital do porco alentejano”, que, mais adiante, as indústrias de transformação hão de moldar, enformar e curar, produzindo os magníficos enchidos daquela terra. Mas havia um cheiro intenso e muito apetecível a caracóis. Os orégãos têm esse doce condão, esse apelo irresistível. No escaparate das revistas e jornais do dia, surpreendeu-nos um título: “Jornal de Garvão”, uma publicação anual, dirigida por José Pereira Malveiro, numa edição dedicada às comemorações do 50.º aniversário da Revolução dos Cravos, evoca factos, gentes e famílias que, outrora, sofreram na pele as agressões e as infâmias praticadas pela polícia política, os esbirros alinhados com Salazar e Caetano. Não fossem aquelas terras, Garvão e Funcheira, conhecidas pela forte resistência ao regime ditatorial. Com este pensamento e com um sentimento de revolta ainda latente, ouvimos soar o tiro de partida. Homens e mulheres, de vestes curtas e coloridas, dispostos a superar as dificuldades que os iriam surpreender a cada um dos 10 quilómetros que os levariam ate à meta, riscada no final da rua Direita, em Santa Luzia, a tal a cuja janela se assoma a “Ti Maria da Alagoa”, prestes a completar 90 primaveras, mas sempre ávida de dar uma palavrinha a quem se aproximar da sua janela. A anciã assistiu, por isso, aos triunfos de Patrícia Serafim e de Nuno Correia, os dois fundistas do Clube Desportivo de Areias de São João que concretizaram uma dobradinha à moda do Algarve.

Enquanto aguardava o momento de laurear os vencedores, o autarca Marcelo Guerreiro, presidente do município de Ourique, revelou ao “Diário do Alentejo”: “O objetivo destes eventos é sempre promover a atividade desportiva e, ao mesmo tempo, promover o que temos de melhor, aquilo que são os nossos produtos e o que temos para oferecer”. Neste ano, prosseguiu o autarca, voltaram, “em conjunto com a União de Freguesias de Garvão e Santa Luzia, a promover este evento que é, no fundo um convite à prática desportiva das diferentes faixas etárias, não só dos que vêm competir, mas também dos que vêm com o intuito de desfrutar do percurso entre Garvão e Santa luzia. É essa a lógica, promover o desporto e em simultâneo promover tudo aquilo que são as nossas tradições e tudo aquilo que temos para oferecer”.

Sobre a possibilidade de tornar a prova mais apetecível, nomeadamente, através da oferta de prémios monetários, Marcelo Guerreiro precisou: “Não creio que a lógica seja essa. Os eventos devem afirmar-se pela sua qualidade. O desporto, a este nível, é amador, e o que nós desejamos para o desporto amador é criarmos condições para que os atletas das várias modalidades possam praticar a sua modalidade desportiva preferida, por isso, acho que a aposta terá de passar sempre por valorizar os eventos, melhorar as condições para a prática desportiva e isso, sim, esse é que deve ser o convite para termos mais atletas a participar”. Uma ideia partilhada pelos vencedores. Nuno Coreia começou por dizer: “Gosto desta prova. Somos bem recebidos e fazem gosto em ter-nos cá, por isso, fico com vontade de voltar para o próximo ano. Estive aqui na edição anterior, fiquei em segundo lugar, mas a prova, neste ano, foi mais dura, tem mais subidas, é mais exigente”.

Já a companheira de equipa, Patrícia Serafim, justificou o seu grande momento de forma, afirmando: “Estou mais dedicada ao treino e tenho conseguido muitos bons resultados, dediquei-me mais ao trail, mas tenho feito umas provinhas de estrada ali no Algarve e o trail é mais um complemento. Mas gostei desta prova, não foi fácil, mas correu bem”.

 

Resultados Trilhos do Montado e dos Enchidos

Absolutos femininos 10 quilómetros

1.º Patrícia Serafim (Areias São João) 40’252.º Marisa Machado (Cocheiros & Cª.) 48’003.º Maria de Jesus Sousa (NAR Messejana) 48’24

 

Absolutos masculinos 10 quilómetros

1.º Nuno Correia (Areias São João) 34’482.º João Soares (NDC Odemira) 35’033.º João Silva (NAR Messejana) 35’22

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