Diário do Alentejo

Um desafio aos limites

07 de junho 2024 - 12:00
37.ª Escalada do Mendro, em Vidigueira, reuniu 460 participantes na corrida e na caminhadaFoto| Firmino Paixão

Kcénia Bougrova, de 29 anos, atleta da Associação Run Tejo, e Nuno Lopes, de 36, fundista do Vitória Futebol Clube, de Setúbal, conquistaram as vitórias absolutas na 37.ª Escalada do Mendro. Uma prova já consagrada no calendário nacional, com organização do município de Vidigueira.

 

Texto e Fotos Firmino Paixão

 

A Escalada do Mendro reúne, anualmente, cerca de meio milhar de participantes, entre eles, atletas com grandes palmarés desportivos, de que são exemplo os vencedores absolutos da última edição, e outros que, não conseguindo o almejado cetro, se classificaram nos lugares mais imediatos, nomeadamente, entre os 10 primeiros a cortar a meta.

São 12 exigentes quilómetros para cumprir, com ida e regresso ao ponto mais alto da vizinha serra do Mendro. Um percurso que, nesta edição, teve uma ligeira, e muito feliz, alteração nos locais de partida e chegada: o recente Parque Verde Urbano, um espaço elogiado, em uníssono, pelos participantes.

Outra estreia foi a do vencedor masculino, Nuno Lopes, nascido em Castro D’Aire, atleta do Vitória de Setúbal, que confessou: “Não conhecia esta prova, nem o percurso. Vim, simplesmente, ‘enganado’ pelo diretor do meu clube, que me disse que esta era uma prova super fácil e, afinal, foi o que se viu. Cheguei a certo ponto, comecei a disfrutar do percurso. Gostei, porque sou do meio rural e comecei a andar tal como fazia entre os meus montes. A prova é muito dura, exige muito mais força psicológica do que de pernas, mas desfrutei, e quando cheguei às antenas [do Mendro] deixei-me vir até ao final”.

Pouco depois cortou a meta Kcénia Bougrova, nascida em Minsk (Bielorrússia), mas radicada em Portugal desde os cinco meses de idade. Uma atleta amadora (frequenta o último ano do doutoramento em Neurociências na Fundação Champalimaud) com um invejável palmarés, tripla vencedora e recordista da Corrida Atlântica Comporta-Troia, que pôs em evidência as exigências da Escalada do Mendro: “Este ano foi mais difícil, mas a classificação foi melhor do que em edições anteriores, porque ganhei e só tenho que estar muito feliz. Gosto mesmo desta prova, pela exigência que tem e pelo desafio que é competir aqui. É diferente, tem uma componente ambiental elevada, é muito bela e porque tem esse contacto com a natureza. Foi mais uma vitória na minha carreira, mas esta foi especial porque nunca aqui tinha ganho e isso tem sempre um sabor e um significado diferentes”.

À margem da corrida, o “Diário do Alentejo” ouviu Rui Raposo, o presidente da câmara local, justificar: “Neste ano efetuámos alterações ligeiras relativamente àquilo que era o percurso habitual para podermos receber as pessoas num novo espaço, que é o Parque Verde Urbano. Uma obra muito recente, inaugurada há cerca de quatro semanas, um espaço que permite às pessoas uma vida com maior qualidade e acrescenta valor às nossas iniciativas”. Faz todo o sentido que a corrida se inicie e conclua no novo pulmão da vila: “Este espaço representa isso mesmo, um novo pulmão, representa vida, representa saúde, bem-estar e é dessa forma que nós queremos, também, promover este espaço. Por isso, no futuro, todas estas provas que acabam por ser iniciativas promotoras de atividade física, fará todo o sentido que elas se associem a este novo espaço que, neste ano, recebeu a 37.ª edição da Escalada do Mendro”.

Um parque em que a réplica da nau de São Gabriel, embarcação com que Vasco da Gama navegou por esses mares, acaba por inspirar os atletas a descobrirem este território: “O Vasco da Gama fez isso mesmo. Foi um pioneiro na descoberta de caminhos e, principalmente, no caminho marítimo até à Índia. Foi conde de Vidigueira, e nós não esquecemos essa figura icónica que está aqui representada de uma forma que os miúdos também não o esqueçam, que saibam que ele faz parte das nossas raízes, da nossa tradição e da nossa história, e queremos que isso vá passando de geração em geração. Muitas vezes, a brincar, acabarão por perceber que a nau de São Gabriel foi a caravela com que Vasco da Gama descobriu o caminho marítimo para a Índia, o que acaba, de alguma forma, por ser pedagógico. Aliás, foi essa a nossa intenção, com o processo de transformação do espaço, criarmos aquela nau que ali está, com 12 metros de comprimento, enquadrada por um espaço infantil. Para além de brincarmos, aprendermos a brincar com aquilo que é a nossa história e a nunca esquecermos aquilo que nos orgulha muito. Podemos dizer, e não serão muitos os territórios que o farão, que Vasco da Gama foi conde de Vidigueira”.

Uma terra com memória, acrescentou o autarca: “E não só de Vasco da Gama, mas de outros factos e personalidades muito icónicas, porque também falamos do vinho de talha, falamos da presença dos romanos em São Cucufate, de Fialho de Almeida, de Bento Espinosa. Temos muitas personalidades que nasceram ou passaram por cá e que se destacaram no mundo. Nunca esquecemos, porque faz parte da nossa história, faz parte daquilo que foi a construção, desenvolvimento e a notoriedade deste território. Então, em todas as nossas decisões, tudo aquilo que nós queremos para este território, trazemos sempre a nossa história, para não nos esquecermos nunca de onde viemos, olhando sempre para aquilo que nós queremos e para onde vamos”.

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