Diário do Alentejo

Santo(s) Mauro voltará…

26 de maio 2024 - 12:00
Mauro Santos está comprometido com o Serpa para orientar o clube no próximo Campeonato de PortugalFoto| Firmino Paixão

O Futebol Clube de Serpa competirá, pela quarta temporada consecutiva, no Campeonato de Portugal. A manutenção foi assegurada na última jornada da edição 2023/2024, com um triunfo no reduto do Barreirense.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

Um sucesso ao qual não foi claramente alheio o meritório contributo do treinador Mauro Santos, que pegou na equipa já com o campeonato em curso e numa altura em que o Serpa estava colado ao último lugar da série D, sem pontos, nem golos marcados e com seis sofridos. O “milagre” começou nessa altura a desenhar-se e o percurso até final da temporada, aqui recordado pelo treinador, foi bem-sucedido. “Foi uma conquista difícil. Arrancada a ferros, como diz o nosso amigo João Cofones”, lembrou Mauro Santos, assumindo: “Naturalmente que tenho orgulho no percurso que fizemos e, principalmente, em termos sido a melhor equipa da segunda volta, depois de tudo o que passámos desde a minha chegada ao clube”.

 

Ocorre-me perguntar-lhe se, na próxima época desportiva, se manterá como treinador do Serpa…O convite surgiu duas semanas após o jogo contra o Barreirense e falta apenas formalizar no papel. A minha disponibilidade para continuar num clube que me recebeu como o Serpa o fez é total. Dado o sentimento de gratidão pelo clube, assinarei um novo contrato, assim que for oportuno. Mas agradeço ao Serpa, novamente, pela oportunidade que me deu numa altura em que estava já um pouco distante do futebol. Não estava a contar com o convite na altura, mas ainda bem que decidi arriscar, provavelmente, quando poucos o fariam nas circunstâncias em que a equipa se encontrava.

 

Condicionou a sua continuidade a alguns fatores concretos?Há sempre fatores que condicionam as nossas decisões. Renovar com jogadores determinantes e ter um plantel competitivo é uma prioridade para mim. Tendo a garantia que teremos no plantel uma boa base de jogadores importantes da época que passou e que o plantel será de qualidade, com dois jogadores por posição, evitando-se a necessidade de fazer adaptações permanentes durante a época ou grandes reajustes em janeiro, será importante. Nesta época tivemos que estar permanentemente a colocar jogadores a jogar fora da posição, porque se cometeram alguns erros de planeamento no início, mas a sensação que tenho é que a estrutura do clube quer dar um rumo diferente e fazer melhor do que antes. E isso agrada-me, porque demonstra que estamos todos alinhados.

 

Que impressão levou da organização desportiva com que conviveu alguns meses?Quando as pessoas sentem que podem fazer melhor, e demonstram que querem fazer melhor, fico agradado e entusiasmado em participar nessa mudança. Quando cheguei, a equipa treinava quatro vezes por semana e treinava sempre à noite. Conseguimos incluir o treino de sábado de manhã e, ao longo do tempo, ir mudando os horários dos treinos, tendo uma cultura mais profissional. Os almoços da equipa, em dia de jogos em casa, também foi um fator fundamental. Mas tudo isso só foi possível porque a estrutura do clube compreendeu a necessidade dessas alterações. Obviamente há aspectos que podem e devem ser melhorados no dia a dia do clube e acredito que será feito esse um esforço.

 

Sentiu-se sempre apoiado e compreendido nas suas decisões?Sempre. Houve uma altura, mais difícil, em que eu, inclusive, ponderei colocar o lugar à disposição, mas nem oportunidade tive para o fazer, porque o presidente sempre me disse que sabia onde estava o problema e que tudo se iria resolver em janeiro.

 

Nesse percurso tomou decisões de que hoje se arrependeria?Voltaria a fazer tudo da mesma forma. Não me recordo de qualquer decisão que pudesse ter tomado ou de alguma que tenha tomado e que me arrependa. E a beleza da nossa caminhada está mesmo aí. Algumas vezes tive que ser mais duro com os jogadores, outras tive que ser mais próximo, mas sempre respeitando-os como seres humanos e jogadores. Em relação a elementos da estrutura também não. Quando dizemos o que pensamos e é genuíno não há motivos para arrependimentos. Agora, não controlamos o que as outras pessoas possam eventualmente sentir.

 

Houve um trabalho técnico e táctico diversificado, mas também uma componente motivacional?Um bocado de tudo. Não podemos olhar para o trabalho focados só numa componente. Por vezes, um jogador fica de fora da convocatória ou do 11, devido a uma atitude menos correta, ou a uma falta de compromisso com aquilo que é o mais importante: o coletivo. O modelo de jogo foi sempre o mesmo desde que chegámos. Mudámos o sistema algumas vezes, mas os comportamentos que pretendíamos estiveram sempre lá. A motivação vale o que vale. Mais importante do que a motivação é a disciplina. O grande sucesso deste grupo, que foi limpo em janeiro, foi perceber que a regularidade nos comportamentos e atitudes vale mais do que tudo o resto.

 

Acreditou sempre na manutenção, mesmo quando na última jornada da prova era necessário ganhar no Barreiro?Sempre! Se acreditei quando aceitei o convite, nas circunstâncias em que o Serpa estava no início da época, porque não iria acreditar quando estávamos a uma vitória de conseguir a manutenção? O facto de dependermos de nós, a quatro jornadas do fim, era algo impensável quando chegámos a Serpa. Poderíamos ter resolvido a manutenção de forma total, ou parcial, bem mais cedo, mas tudo ficou resolvido na última jornada, com uma grande exibição da nossa parte. Os jogadores estiveram incríveis. Não é fácil entrar, praticamente, a perder aos cinco minutos e jogar como jogámos. Estiveram incríveis e foi uma satisfação enorme vê-los a festejar no final.

 

O que é preciso melhorar para que os clubes desta região se afirmem no Campeonato de Portugal, a quarta divisão do futebol português? A localização geográfica condiciona muito o recrutamento de jogadores. Não há como fugir desse facto e é algo que não conseguimos alterar, portanto, temos que nos adaptar e tentar encontrar outras opções quando os jogadores que queremos batem com a porta na nossa cara. Só com um investimento forte a nível financeiro e patrocínios dos diversos setores a região poderá aspirar a ter um clube do Baixo Alentejo, por exemplo, na Liga 3. A região tem que se mobilizar em apoio ao clube e o clube tem que dar retorno desportivo. Se assim for, é possível aspirar a mais do que a afirmação no Campeonato de Portugal e promover a região. As pessoas têm que estar cientes do poder do futebol para caminhar nesse sentido.

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