Diário do Alentejo

Ciclista Eduard Prades, de 36 anos, venceu a 41.ª Volta ao Alentejo em Bicicleta “Crédito Agrícola”

29 de março 2024 - 12:00
Velhos são os trapos…

O catalão Eduard Prades iniciou a sua carreira de profissional em 2009 na Volta ao Alentejo. Quinze anos depois, já com alguma veterania, venceu a prova em que se estreou, tornando-se no trigésimo nono vencedor.

 

Texto e Fotos | Firmino Paixão

 

Um final de etapa, e de Volta, apoteótico, na praça do Giraldo, em Évora. Iúri Leitão, o português da “Caja Rural/Seguros RGA”, conquistou a merecida vitória numa etapa, triunfo com o qual confirmou a liderança na classificação por pontos, a melhor regularidade nas chegadas, e o catalão Eduard Prades a afirmar-se como trigésimo nono vencedor da Volta ao Alentejo. Foi assim, entre outras revelações, que se concluíram os 852,7 quilómetros que a “Alentejana” percorreu, durante cinco dias, pelas estradas da grande região, materializando aquele que é, seguramente, o seu maior acontecimento desportivo. Um evento mobilizador, fundamental na valorização da região e na união das suas gentes. Outra revelação, como dizíamos atrás, foi a afirmação de qualidade demonstrada pelo ciclista odemirense Afonso Silva (“Hotels & Resorts/ /Tavira/SC Farense”), um jovem que completou 24 anos durante a corrida e que conseguiu terminar a Volta ao Alentejo num honroso quarto lugar (o melhor português), a escassos 13 segundos do vencedor. Sempre acreditámos, porque a tradição é essa, e, não existindo qualquer etapa no sistema de contrarrelógio individual, essa tradição ainda ganhava mais força, de que a serra de São Mamede iria decidir a prova. A ligação entre Monforte e Castelo de Vide, sobretudo, a partir da cidade de Portalegre, foi uma etapa, sem demérito para a nossa corrida, digna de grandes provas velocipédicas. Foi aí que se impôs o “veterano” Eduard Prades, que carrega a alcunha de “El Platano”, conquistando a etapa, sobre a meta de Castelo de Vide, e abrindo o caminho ao triunfo na Volta, como acabaria por acontecer.

Todas as etapas tiveram a sua história, todas com diferentes protagonistas, com um denominador comum que foi a formação espanhola da “Caja Rural/ /Seguros RGA”, superiormente dirigida por Fernández Reviejo que, tendo à sua disposição um leque de corredores com diferentes características, aptos para diferentes teatros de operações, também mostrou ser um bom estratega, na forma como geriu os vários cenários que foi encontrando. A “Caja Rural/Seguros RGA” levou a camisola amarela de lés-a-lés, conquistou-a, em Beja, no final da tirada inaugural desta edição da prova e manteve-a até à meta final, na magnífica “sala de visitas” da cidade que desde 1986 é reconhecida pela Unesco como Património Mundial. Mas os espanhóis conquistaram quatro das cinco etapas, deixando só escapar a vitória na tirada que terminou em Grândola, onde triunfou o venezuelano Leangel Liñares, corredor da “Tavfer/OM/Mortágua”, conhecido no interior do pelotão por “El Chispas”, repetindo, aliás, uma vitória que tinha obtido na edição de 2009 da Volta ao Alentejo. Coletivamente, a equipa da entidade bancária do país vizinho também comandou a prova durante três dias, lugar de onde caiu em Castelo de Vide, a favor da portuguesa “Efapel Cycling”, comandada pelo antigo ciclista José Azevedo. Outra curiosidade da corrida foi a multinacionalidade dos vencedores das suas etapas: o uruguaio Thomas Silva no primeiro dia, o venezuelano Leangel Liñares no segundo, o checo Daniel Babor no terceiro, o espanhol Eduard Prades no quarto e o português Iúri Leitão no fecho do certame. Iúri Leitão, de 25 anos, ressalve-se, é o ciclista natural de Viana do Castelo que, em 2023, em Glasgow, conquistou a medalha de ouro dos Campeonatos do Mundo de Pista na modalidade de omnium.

O vencedor da Volta ao Alentejo nas edições de 2022 e 2023 foi o venezuelano Orluis Aular, também corredor da “Caja Rural”, que cometeu a proeza de conquistar duas edições consecutivas, diferente do que tinha feito o compatriota Carlos Barbero, que venceu a “Alentejana” em 2014 e 2017. A Volta ao Alentejo em Bicicleta, também conhecida por “Alentejana”, teve a sua primeira edição em 1983. É uma organização da Comunidade Intermunicipal do Alentejo Central (Cimac), com o apoio das autarquias do Alentejo e tem organização técnica da empresa Podium Events.

 

Na berma da estrada…

 

Quem melhor poderia dirigir a Volta ao Alentejo do que um dos seus vencedores e uma figura incontornável do ciclismo português. Joaquim Gomes, para além de duas vitórias na Volta a Portugal, conquistou também o cetro da sexta edição (1988) da “Alentejana”. Quem melhor recordaria os propósitos da corrida e projetá-la para o futuro do que o líder da Cimac, o autarca Carlos Pinto Sá.

 

 

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Joaquim Gomes, diretor de organização

“A Volta encerrou com chave de ouro”

 

“Os grandes eventos de ciclismo de estrada têm uma capacidade de se entrosarem com efemérides como, por exemplo, o facto de estramos a viver o cinquentenário do 25 de Abril e, por isso, a primeira etapa da Volta ao Alentejo atravessou, de forma inédita, a freguesia de Baleizão, e passou bem junto ao memorial de Catarina Eufémia. Foi algo de grande significado e só se consegue com esta capacidade que o ciclismo tem de promover o território. Deixou-me, sinceramente, cheio de orgulho”. Gomes revelou ainda outro detalhe: “Tínhamos planeado as três primeiras etapas para que os ciclistas com características de velocistas pudessem entre eles constituírem-se como os protagonistas da prova, e assim aconteceu. Venceram e discutiram, entre si, os primeiros lugares da geral. Mas a quarta etapa contrariou tudo isto. Uma etapa digna de uma Volta a Portugal, com uma segunda metade extremamente exigente e difícil, que alterou por completo a classificação geral individual, mas conseguindo algo que eu também almejava, não tendo a certeza de que aconteceria ou não. Era que a praça do Giraldo pudesse assistir a uma chegada em que, pelo menos, dois ou três corredores ainda estivessem presos por poucos segundos e assim aconteceu, portanto, cumpriu-se, na íntegra, todo o sucesso que eu desejava e que encerrou mais uma edição da ‘Alentejana’ com chave de ouro”, concluiu.

 

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Carlos Pinto Sá, presidente da Cimac“Uma Volta projetada para o futuro”

 

“Gostaria de dizer que esta ‘Alentejana’ nasceu fruto do 25 de Abril, então, com a Associação de Municípios do Distrito de Évora e com um conjunto de outras câmaras municipais do Alentejo que aderiram. E, com os eleitos e os equipamentos desses municípios, foram montadas as primeiras edições da Volta, que, desde o primeiro momento, suscitaram grande interesse e enorme participação da população do Alentejo, portanto, quero assinalar que, neste tempo de comemorações dos 50 anos do 25 de Abril, foi muito bom podermos ter a 41.ª edição da Volta ao Alentejo na estrada e certamente projetada para o futuro”. O também presidente do município de Évora revelou igualmente: “Ao lançar a ‘Alentejana’ pretendíamos, em primeiro lugar, promover o desporto e o ciclismo de uma forma saudável, atraindo as populações. Essa era uma maneira de o fazer, a bicicleta era um meio muito utilizado para diferentes fins, pelas pessoas com poucos meios, objetivos que foram plenamente atingidos. Para além disso, a Volta tem sido, e queremos que continue a ser, uma forma de promoção da qualidade de vida do Alentejo. Conseguimos internacionalizar a corrida e trazer aqui nomes grandes da modalidade, depois, para todos nós, alentejanos, é um orgulho termos esta Volta no nosso território”, assegurou.

 

41.ª VOLTA AO ALENTEJO

 

Classificação geral individual

  • 1.º | Eduard Prades (Caja Rural/RGA) | 20h22’56’’
  • 2.º | Francisco Peñuela (RP/Boavista) | a 4’’
  • 3.º | Abner González (Efapel Cycling) | a 6’’
  • 4.º | Afonso Silva (Tavira/SC Farense) | a 13’’
  • 5.º | Thomas Silva (Caja Rural/RGA) | a 15’’

 

Equipas

  • 1.º | Efapel Cycling Portugal | 61h10’09
  • 2.º | Caja Rural/Seguros RGA | 61h10’12
  • 3.º | HR Tavira/SC Farense | 61h10’22

 

Classificação

  • Camisola Amarela “Crédito Agrícola” (individual) | Eduard Prades (Caja Rural/RGA)
  • Camisola Verde “Delta Cafés” (pontos) | Iúri Leitão (Caja Rural/RGA)
  • Camisola Azul “Correio da Manhã” (montanha) | Francisco Guerreiro (Kelly/Sim/UDO)
  • Camisola Branca “Turismo do Alentejo” (juventude) | Sérgi Darder (Illes Baleares)

 

Vencedores de etapas

  • Castro Verde/Beja | Thomas Silva (Caja Rural/Seguros RGA) | Média 42,631 quilómetros/hora
  • Vidigueira/Grândola | Leangel Liñares (Tavfer/OM/Mortágua) | Média 41,886 quilómetros/hora
  • Mourão/Reguengos Monsaraz | Daniel Babor (Caja Rural/RGA) | Média 40,535 quilómetros/hora
  • Monforte/Castelo de Vide | Eduard Prades (Caja Rural/RGA) | Média 39,782 quilómetros/hora
  • Nisa/Évora | Iúri Leitão (Caja Rural/Seguros RGA) | Média 44,134 quilómetros/hora

 

Camisola amarela

  • 1.ª Etapa | Thomas Silva (Caja Rural/Seguros RGA)
  • 2.ª Etapa | Thomas Silva (Caja Rural/Seguros RGA)
  • 3.ª Etapa | Iúri Leitão (Caja Rural/Seguros RGA)
  • 4.ª Etapa | Eduard Prades (Caja Rural/Seguros RGA)
  • 5.ª Etapa | Eduard Prades (Caja Rural/Seguros RGA)
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