Diário do Alentejo

Joana Capelo e Fernando Fraústo subiram ao pódio da Corrida de São Silvestre de Santo Aleixo da Restauração

07 de janeiro 2024 - 08:00
Memória e sofrimentoFoto | Firmino Paixão

Uma noite de estreias na raia alentejana. A atleta Joana Capelo (Núcleo de Atletismo e Recreio de Messejana) e o atleta Fernando Fraústo (Beja Atlético Clube) estrearam-se nos lugares mais altos do pódio da, também estreante, Corrida de São Silvestre de Santo Aleixo da Restauração, no concelho de Moura.

 

Texto | Firmino Paixão

 

Uma terra que tem um relevante legado histórico. Santo Aleixo é, tão só, a aldeia heróica da restauração de Portugal. Na tranquilidade das suas ruas, dobradas, e a convergir para a imponente igreja matriz, sente-se essa dimensão histórica. As gentes locais são, ainda hoje, símbolos dessa perseverança que notabilizou o território onde as lutas pela independência aconteceram. A museológica Casa da Aldeia contém, também ela, registo da etnografia e da memória do povoado raiano. Foi neste cenário que a Associação Desportiva BTT Cocheiros promoveu a primeira edição da São Silvestre, uma corrida que revisitou lugares que estão na memória coletiva daquele povo, como os antigos palcos das batalhas contra os castelhanos, bem como o lugar da “Coitada”, zona mais empobrecida da aldeia, que cresceu na margem da ribeira da Murtigão, afluente do Ardila.

Francisco Almeida preside à BTT Cocheiros, a associação desportiva criada em 2012, essencialmente, para a promoção das provas de bicicleta em todo o terreno. E “Cocheiros, porquê?”, questionámos. “É uma alcunha que foi dada às pessoas de Santo Aleixo”, recordou o dirigente. “Um nome que surgiu porque nós sempre tivemos aqui muitos e bons tiradores de cortiça, a quem os nossos vizinhos espanhóis chamaram de ‘corchoneros’, porque ‘corcho’, em espanhol, é cortiça. Então, eventualmente, por dificuldades de pronúncia, o vocábulo veio sofrendo mutações e acabou em cocheiros. E nós preservamos a tradição”. E continuou: “A associação começou também a participar em trails e corridas de estrada e criámos a equipa ‘Cocheiros & Companhia’, formada a partir da associação que já existia”. A par do Clube de Futebol de Santo Aleixo, criado em 1975, lembrou o dirigente: “A nossa associação é a que mais dinamiza a atividade desportiva na localidade, mas tem-se realizado também o Trail da Tomina, organizado pela Comissão de Festas de Santo Aleixo, com o apoio da comunidade local”. Porém, fez notar: “A São Silvestre que pusemos de pé pela primeira vez é um orgulho para nós. Um acontecimento que temos vindo a viver intensamente desde que a idealizámos. Estamos numa aldeia pequena, no interior do Alentejo, onde sentimos muita necessidade de dinamizar a população. Então, aproveitámos esta época de festividades, entre o Natal e o Ano Novo, uma altura em que se reúnem aqui pessoas que vêm visitar o seus familiares, e quisemos animar a aldeia, proporcionando à população um dia diferente daquilo que é a sua rotina diária”.

O evento contou com a presença de 170 participantes, entre as variantes de caminhada e corrida, número que superou as expectativas, revelou o organizador. “Há sempre uma primeira vez. Estamos satisfeitos com a participação, sabendo, até pela expressão dos prémios que atribuímos, que não podemos concorrer com outras organizações que, nesta altura, acontecem. Nunca pensámos chegar tão longe. Para nós, termos conseguido trazer aqui estas pessoas já é um feito enorme. Superou muito as nossas expectativas e, se Deus quiser, continuaremos com este evento em próximos anos. Estamos cheios de vontade, motivados e orgulhosos, portanto, acredito que no próximo ano teremos a segunda edição desta Corrida de São Silvestre”.

Quanto ao traçado da corrida, que os atletas consideraram duríssimo, Francisco Almeida precisou: “A nossa terra tem muita história. O desenho do percurso não foi ao acaso, fizemos história nas guerras da Restauração da Independência Portuguesa, morreu aqui muita gente, sofreu aqui muita gente, a igreja foi destruída, a aldeia foi devastada, temos aqui muitos marcos históricos, recordações que deixaram este povo com muita fibra, digamos assim, e nós, nesta São Silvestre, tivemos cerca de dois quilómetros do percurso pelo local exacto onde decorreram as batalhas pela restauração”, concluiu.

Na hora de ouvir os vencedores, Joana Capelo apresentou-se: “Sou natural do concelho de Ferreira do Alentejo, namoro com o também atleta Estêvão Janeiro, que também é desta região, e vim correr esta prova”. Mas não fugiu muito na avaliação da corrida. “Muito dura. Foi das provas com maior dureza em que já participei. Uma espécie de trail urbano, mas a terra é mesmo assim, nós somos atletas e temos que sofrer, por isso, a vitória ainda tem mais significado”, admitiu.

Fernando Fraústo, natural de Vila Alva (Cuba), um dos recentes reforços do Beja Atlético Clube, disse ao “Diário do Alentejo”: “Foi uma corrida muito difícil, muitas subidas e descidas, uma escadaria, obstáculos que nos criaram grandes dificuldades, provocando muitas variações no ritmo da corrida, mas foi uma boa experiência, tivemos muito apoio das pessoas durante o percurso. Estou a correr pelo Beja Atlético Clube há cerca de um ano e meio e esta foi a primeira vitória na minha ainda curta carreira. Vim aqui por indicação do meu treinador, prescindi da prova de Beja, porque sabia que aqui teria mais hipóteses de sucesso”.

 

Classificações Corrida de São Silvestre de Santo Aleixo da Restauração

 

Absolutos femininos

  • 1.º Joana Capelo (NAR Messejana) 51’10,14
  • 2.º Ana Ângelo (Barrancos/Biogado) 57’57,04
  • 3.º Cristina Bossa (Barrancos/Biogado) 1h00,50
  • 4.º Rosa Ferro (Trilhos de Ficalho) 1h00,54
  • 5.º Sofia Pereira (CB Moura) 1h09,05
  • 6.º Beatriz Candeias (individual) 1h09,45
  • 7.º Inês Bergano (Barrancos/Biogado) 1h11,44
  • 8.º Lisa Branco (individual) 1h11,51
  • 9.º Ana Fernandes (individual) 1h14,21
  • 10.º Célia Caeiro (Trilhos de Ficalho) 1h15,47

 

Absolutos masculinos

  • 1.º Fernando Fraústo (Beja Atlético Clube) 43’19
  • 2.º Luís Campaniço (DB Reguengos) 43’45
  • 3.º Tiago Candeias (CB Reguengos) 44’33
  • 4.º Flávio Bolrão (Barrancos/Biogado) 45’10
  • 5.º Ricardo Fernandes (NSCP Granja) 47’44
  • 6.º André Seleiro (Barrancos/Biogado) 49’58
  • 7.º Rafael Rodrigues (Barrancos/Biogado) 50’29
  • 8.º Daniel Carvalho (Piense RT) 51’48
  • 9.º Pedro Estebaínha (Trilhos de Ficalho) 54’31
  • 10.º Mário Santos (Trilhos de Ficalho) 55’19
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