Diário do Alentejo

João Santos, o maratonista bejense que recentemente disputou a Maratona de Chicago

06 de janeiro 2024 - 08:00
Foto | Paulo MendesFoto | Paulo Mendes

“Comecei a correr tarde. Quando descobri que tinha alguma apetência para isto já tinha 50 anos. Sou um atleta com grande resistência, alguma capacidade física e muito resiliente. Sempre fiz desporto, depois, estou bastante motivado para isto. Tento superar-me em cada prova que faço e nunca vou apenas com a ideia de a concluir. Vou para me tentar superar em termos de registo horário ou de classificação”, garantiu o bejense João Santos, de 59 anos, que, recentemente, correu a Maratona de Chicago.

 

Texto | Firmino Paixão

 

“Não corro para mostrar nada a ninguém, nem em disputa com quem quer que seja. Faço a minha corrida, tenho os meus objetivos e procuro atingi-los”. Uma ideia repetida por João Santos, atleta da equipa Irmãos Luzias. Um fundista com grandes corridas já no seu palmarés e com a ambição de, neste ano, estar entre a grande multidão que disputará a Maratona de Nova Iorque, outra, a maior, das seis “World Marathons Major” (Chicago, Londres, Boston, Nova York, Berlim e Tóquio).

O passado desportivo de João Santos é multidisciplinar. “Sempre estive muito ligado ao desporto. Pratico desde os meus 15 anos. Comecei no andebol, na Zona Azul, mais tarde, entre os 30 e os 49 anos, andei a jogar ténis e só depois é que comecei a correr. Comecei a fazer umas provas e ganhei gosto por isto. É um desporto individual, que não implica confronto físico, é um bocado diferente”. Por isso, fidelizou-se às corridas pedestres. “Comecei com os trails e depois comecei a correr em estrada, porque também gosto muito. Ainda hoje faço mais estrada do que trail, digamos que faço quase todo o tipo de provas, corridas curtas, meias-maratonas, ultimamente maratonas, depois dos 50 anos já fiz seis e também já corri em areia, estive em duas ultra maratonas. Portanto, tenho seis maratonas de estrada, duas em Portugal e quatro no estrangeiro, na areia tenho uma Ultra Melides-Troia e outra nos Açores, um trail de 43 quilómetros”. Porém, nunca esteve federado, corre de uma forma livre e informal. “Reunimos um grupo de amigos em que estava o Manuel Carrasqueira, da empresa Irmãos Luzias, que também corre connosco e nos desafiou a formar uma equipa. Nós concordámos. Cheguei a ser convidado a correr pelo Beja Atlético Clube e, também, mais recentemente, pelo ADN Mértola, mas, pronto, somos um grupo de amigos que corre para desfrutar da atividade física. Nem estamos inscritos na associação da modalidade, se calhar, teríamos algumas vantagens, mas, não, corro quando quero, quando me apetece e quando tenho disponibilidade, apesar de fazer vinte e tal provas por ano. Umas vezes vou sozinho, outras vezes vamos em grupo. Nunca quis grandes compromissos com clubes e agora, se calhar, também já não valerá a pena”.

Mas o que fará correr João Santos, para além da constatação de que faz bem à saúde? “O benefício para a saúde é um dos principais motivos porque corro. Sinto-me muito bem.Quando começo a correr nem doente dou por estar, nem gripes costumo ter. Esse é o fator primordial. A corrida é uma coisa inexplicável, porque quando começamos a correr, cada vez gostamos mais e sentimo-nos melhor. Depois, o ambiente social, as amizades que fazemos”. E, naturalmente, as vivências: “É um ambiente muito puro. As pessoas são espetaculares, competimos com o nosso amigo mais próximo, a brincar e a sério, mas somos amigos. Aqui não existem aquelas coisas que, às vezes, se veem nos desportos coletivos, principalmente, no futebol”.

Outra das atrações do atleta é a paixão pela natureza. “Também sou caçador e adoro a natureza. Outra coisa para a qual me começaram a convidar são as maratonas internacionais, que, de facto, são provas em que juntamos um grupo de amigos, passamos um fim de semana, convivemos e divertimo-nos a fazer aquilo de que gostamos”.

A presença na Maratona de Chicago ainda está muito fresca na sua memória? Foi a última prova internacional que disputou. “Sim, sem dúvida. A Maratona de Chicago é uma major, faz parte das seis maiores maratonas mundiais, eu ainda não tinha feito nenhuma, ao contrário do meu colega, amigo e companheiro de treinos José Vilhena, que já tem quatro e vai a caminho das seis. Fiz a primeira e estou a pensar que, em 2024, farei a segunda, provavelmente, a de Nova Iorque”. O objetivo, pelo que se vê, está traçado. “Não sei se irei ainda fazer a sexta, brevemente vou entrar nos 60 [anos] e não sei como será o futuro. Gostava de ir a Nova Iorque e queria fazer mais duas ou três maratonas, incluindo a de Lisboa. Queria fazer também a de Munique, já não aspiro fazer a de Tóquio nem a de Boston, enfim, ficarei por cá a fazer provas mais curtas. A idade vai sendo outra e as maratonas são muito trabalhosas. É levantar às sete da manhã todos os dias, incluindo férias, fazer cinco ou seis treinos semanais. Um grande compromisso”, admitiu. Porém, é a este vínculo, esta assiduidade, que João Santos chama de “fazer o trabalho de casa”. “Tenho um contrato assinado comigo próprio e tenho que o cumprir”. Por essa razão, a prestação em Chicago surpreendeu-o: “Fiz 62.º no escalão e fiz 2980.º na geral, entre 48 500 atletas, com o tempo de 2h58’54”.

Rosa Mota venceu duas edições da Maratona de Chicago e Aurora Cunha ganhou outra. Sente-se ali um orgulho lusitano? “É uma prova espetacular e com um público maravilhoso. Já fiz algumas maratonas em Espanha, como Valência e Sevilha, por exemplo, mas esta foi fantástica, temos sempre público que nos aplaude e incentiva ao longo dos 42 quilómetros. Fazem festas, têm bandas de música, um ambiente fabuloso, que fica na nossa memória, por isso, gostava de fazer ainda mais uma ou duas, principalmente, a de Nova Iorque, que é o topo das maratonas mundiais”, vaticinou.

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