Diário do Alentejo

Joana Palma Lucas: Uma menina alentejana na seleção nacional de futebol de praia

17 de novembro 2023 - 11:26
Persistente e lutadora
Foto| Firmino PaixãoFoto| Firmino Paixão

Portugal conquistou recentemente a medalha de prata na Superfinal da Liga Europeia de Futebol de Praia, disputada na Sardenha (Itália) e assegurou o segundo lugar no Mundialito, realizado em Isla Canela, Ayamonte (Espanha). Em ambos os casos só cedeu perante a seleção de Espanha.

Texto Firmino Paixão

O que terá isto a ver connosco? Tem tudo! É que entre o lote de 12 jogadoras convocadas pelo selecionador Alan Cavalcanti também se falou em bom alentejano. A camisola com o n.º 20 foi pertença da bejense Joana Palma Lucas, ocasionalmente nascida em Lisboa há 23 anos, mas a viver na cidade de Beja desde os 10 meses. “Vim viver para Beja muito nova, mas todas as  minhas memórias são no Alentejo e considero-me alentejana”, garantiu a atual jogadora da AD Nazaré 2022 (futebol de praia) e do A-dos- -Francos, no concelho de Caldas da Rainha, (futebol de 11) e treinadora da equipa de benjamins da Associação Beneditense de  Cultura e Desporto, que já tem no seu palmarés sete internacionalizações pela seleção nacional de futebol de praia.

Mas, afinal, quem é Joana Lucas? “Sou uma menina persistente e lutadora, que procuro alcançar os meus objetivos e faço  o que estiver ao meu alcance para os conseguir conquistar”, garantiu a jogadora, já licenciada e a frequentar o mestrado em Treino Desportivo (futebol) na Escola Superior de Desporto de  Rio Maior. O desporto e a música são, desde a infância, as suas grandes paixões. O desporto, aliás, entrou precocemente no seu dia a dia. “Desde muito nova que pratico desporto, salvo erro, desde os meus dois anos. Pratiquei  várias modalidades até chegar ao futebol. Passei pela natação, ginástica artística e  acrobática, patinagem artística, basquetebol, futsal e, por fim, o futebol”.

Filha e irmã de jogadores de hóquei em patins, certamente que, no seu quotidiano, as conversas cruzavam-se sobre esta modalidade. “Claro que sim. O hóquei em patins é a modalidade da casa. O meu pai joga hóquei  desde sempre, começou a praticar a modalidade com seis anos e ainda hoje o faz. Neste  momento já é mais por lazer e para matar o ‘bichinho’ dos patins. Quanto ao meu  irmão, o André, ele ia buscar-me, com a minha mãe, à patinagem. A seguir aos meus treinos  havia treino de hóquei e ele ficava ‘colado’ às tabelas, ‘vidrado’ no treino mas, principalmente, nos guarda-redes. Começou na iniciação de patinagem com dois anos e o hóquei foi, desde logo, a sua paixão. Hoje é um excelente guarda-redes e tenho um orgulho gigante nele e no seu percurso até aqui”.

Porém, foi o futebol que projetou Joana e o Clube Desportivo de Beja, o emblema que lhe abriu as portas. “Desde criança que jogava futebol com os rapazes na escola. Enquanto as meninas  brincavam com bonecas, ou com outros brinquedos, eu ia jogar à bola com os meninos. E a paixão pelo futebol foi crescendo”. Mais adiante, a carreira começou a ganhar outros contornos. “Depois de termos sido campeãs pelo Desportivo,  muitas de nós fomos chamadas à seleção distrital sub/16 de futebol e, após essa  competição, recebi o convite para ir jogar para a equipa do Futebol Clube Castrense, que  era orientada pelo mister Ruben Lança, que foi também o nosso treinador na seleção. Foi uma grande surpresa”. Terminado o ensino secundário do Alentejo, candidatou-se à faculdade de Rio Maior. “Tive um convite para jogar no Clube Atlético Ouriense, o que acabou por ser bastante bom, na altura, pois, uma vez  que ia para Rio Maior e havia transporte para Ourém, permitiu que conseguisse aceitar a proposta e pudesse jogar na 1.ª divisão. Estive em Ourém duas épocas, sendo  que uma delas, devido à pandemia, acabou por não se concluir e, na época seguinte, fui convidada a jogar em A-dos--Francos”. Entretanto, aconteceu esse momento mágico que foi a convocatória para a seleção de futebol de praia. “São sentimentos inexplicáveis. Senti que nem estava a acreditar naquilo que o  mister me estava a dizer e depois começaram a cair-me lágrimas de emoção. Depois de falar com o mister, liguei logo à minha família para lhes dar a notícia”.  E qual o peso de sentir a camisola das quinas e os acordes da “Portuguesa”? “Ouvir o hino, e cantá-lo, é uma sensação única e inesquecível”.

Joana Lucas, jogadora que se define como “uma atleta empenhada, aguerrida, persistente, rápida e inteligente”, admitiu que “chegar à seleção é o sonho de qualquer jogadora, mas ter sido vice-campeã da Europa ainda tornou o sonho mais real. Embora fique sempre aquele sabor agridoce da derrota na final com a Espanha”. 

No Mundialito (na foto), nas areias escuras e tórridas da Isla Canela, a história repetiu-se. “Voltámos a cair na final e contra a Espanha, mas a evolução que temos tido é notória e continuamos a trabalhar para sermos cada vez melhores. Um dia iremos chegar ao lugar onde merecemos estar e conquistaremos o ‘ouro’ para Portugal, pois todas nós acreditamos no processo e no caminho que estamos a  percorrer”. Conquistar um título europeu é um sonho que Joana ainda persegue, até porque a jogadora admite que, “por todo o caminho que foi percorrido até aqui, acho que o futuro será risonho”. Com o apoio da família, como realçou: “O apoio da família é sempre fundamental e eu tenho a sorte de ter o  apoio deles. Neste ano abdiquei de passar o verão com a família para  poder conquistar o sonho de estar na seleção nacional e alcancei esse objetivo.  Quando disse aos meus pais que não iria passar as férias com eles, claro que ficaram  tristes, mas perceberam e apoiaram a minha decisão. E quando lhes contei que tinha  sido convocada, a felicidade deles foi enorme e notória. Sou bastante grata por tê-los  comigo e têm sido um apoio incansável”. 

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