Diário do Alentejo

João Portela, técnico do Aldenovense, pede aos árbitros um pouco de ética

15 de abril 2023 - 09:00
Um caso ou um "casinho"?
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

O jogo entre o Mértola United e o Aldenovense durou apenas 21 minutos. João Sousa, árbitro que o dirigiu, suspendeu a partida por alegada indisponibilidade do Aldenovense em prosseguir, mas João Portela, o treinador, assume que, apesar da indignação, a sua equipa iria continuar. 

 

Texto Firmino Paixão

 

O treinador admite que os resultados da segunda fase não estão em consonância com o percurso inicial na prova, mas destaca a diferença de qualidade das equipas, rejeitando a ideia de já ter desistido dos objetivos iniciais, que eram a subida de divisão. O caso de Mértola, garantiu João Portela, “já é passado”, reconhecendo “ter dito o que muita gente pensa, uma ideia suportada pelas mensagens de apoio de outros clubes”.

 

O percurso do Aldenovense na primeira fase do campeonato antecipou a projeção de que seriam candidatos ao título ou à subida de divisão?

Para ser sincero, direi que todos nós queremos muito ganhar, mesmo sabendo que numa fase final com seis equipas quase todas elas são muito semelhantes. Destaco aqui o Mértola United, acho que é um pouco superior às restantes equipas, mas nós não conseguimos melhores resultados nesta fase final, por culpa nossa, porque não temos sido tão eficazes como antes. Já estivemos mais fortes, é verdade, mas não deixa de ser uma época positiva para nós. Temos que perceber que a grande vitória da época é termos conseguido mudar algumas mentalidades, principalmente trazermos tanta gente de volta para o clube. Se não conseguirmos este ano, para o ano estaremos cá novamente para o tentarmos.

 

O objetivo era subir de divisão? Já “atirou a toalha ao chão”?

Sim, claro. Toda a gente quer vencer. Se ficarmos pelo caminho será por culpa nossa. Mas não “atirámos a toalha ao chão”, mesmo com as dificuldades porque temos passado. Como veio a público, o caso que aconteceu em Mértola, já passou, é passado, faz parte do futebol, não devia fazer, mas, se calhar, ainda bem que falámos nisso, porque muitas pessoas tinham vontade de o fazer, mas tinham receio. As mensagens e o apoio que recebemos de outros clubes, se calhar, mostram que os clubes são mais unidos do que as pessoas possam pensar. Só por isso também foi positivo. Mas não desistiremos.

 

Na segunda fase já sofreram três derrotas, a última em Mértola. Um jogo marcado por um caso ou por um “casinho”?

Se calhar “um casão”. São coisas que, infelizmente, acontecem e, se calhar, ainda bem que aconteceu. As pessoas têm que estar melhor preparadas e atentas ao que o jogo pode proporcionar. Naquele momento em que houve uma má decisão do árbitro, fizemos o que tínhamos que fazer. Estávamos completamente indignados com o que se estava a passar. O árbitro achou que estávamos em protesto, o que escreveu no relatório foi completamente ao contrário. Temos imagens disso.

 

A falta de preparação é dos árbitros?

Nós temos que perceber uma coisa. Há poucas pessoas na região, tanto para praticar futebol, como para seguirem a arbitragem e acredito que o recrutamento seja muito difícil. Mas se calhar uma melhor preparação seria melhor para toda a gente e para a evolução dessa atividade, sabendo que isso envolve o esforço e o brio de cada um, tal como com os jogadores e treinadores. Cada um tem que ter o brio de ser cada vez melhor. Se andarem só a tentar fazer o melhor possível será muito curto.

 

Indignaram-se com a expulsão de um vosso jogador após uma falta, presumivelmente, grosseira. Se fosse ao contrário, o João Portela não reclamaria a falta e semelhante ação disciplinar?

A falta não foi suficientemente grosseira para justificar a expulsão. Isso depende da opinião de cada pessoa. São formas de ver as coisas, mas aquilo que também nos indignou foi termos já dois amarelos aos 20 minutos de jogo e o lance do golo deles ter sido precedido de uma mão na bola. Não temos nada contra o Mértola United, que fique claro. Mas temos o direito a protestar, embora as pessoas prefiram muitas vezes ir pela ofensa barata e simples, depois levam multas e são expulsos. Esse não é o caminho. Nós só tentámos chamar os jogadores ao banco para os organizar. O que o árbitro alegou foi problema dele.

 

A equipa não reatou imediatamente o jogo. Os jogadores cruzaram os braços?

Isso é o que dizem as pessoas e o que diz o árbitro. As imagens mostram uma coisa completamente diferente. Mas o que nós fazemos num jogo é problema meu e da equipa. Se quisermos estar todos de braços cruzados, podemos fazê-lo. Ele só tinha que seguir com o jogo e o que acontecesse, dali para frente, era problema meu e da equipa.

 

Quanto tempo decorreu entre a chamada dos jogadores ao banco e a decisão do árbitro em acabar com o jogo? O árbitro comunicou-vos essa decisão?

Se passou de um minuto foi muito. O jogador viu o cartão vermelho, o jogo não foi logo reiniciado, e é nesse momento que ele viu que estávamos ali junto ao banco. Mas essa dos braços cruzados, enfim, são opiniões, valem o que valem, e depois ele alegou que aquilo era uma forma de protesto. Foi a opinião dele. O árbitro não nos comunicou e alegou, no relatório, que não foi possível falar com o capitão, nem com o delegado, nem com o treinador, mas não foi possível porque também não o solicitou. O que ele tinha que fazer era prosseguir com o jogo.

 

Qual a decisão que espera do conselho de disciplina? Para já abriu um processo disciplinar ao clube…

A decisão será muito fácil de tomar. Será a mais fácil, que é atribuir-nos a derrota e uma multa. E esta equipa de arbitragem voltará a apitar jogos, porque isso é o mais fácil para toda a gente, mesmo sendo um erro deles. Mas isso é ao que estamos habituados. É o sistema, como eles dizem.

 

Durante a primeira fase, que foi brilhante, não se queixaram dos árbitros. Agora, após três derrotas, surgiram essas queixas…

Qualquer leitura é correta. Qualquer pessoa tem liberdade para dizer aquilo que pensa. Nós, enquanto clube, só teremos voz quando as pessoas nos derem oportunidade para falarmos nisso. Mas não é o caminho mais correto estarmos a toda a hora a falar dos árbitros. Não é esse o meu caminho, agora, isso não é desculpa nenhuma para algum insucesso que tenhamos. Tudo o que não conseguirmos dentro de campo, a culpa é dos jogadores e minha, enquanto treinador. Não é de mais ninguém. Mas o que nós fizemos, é o que toda a gente, se calhar, teria vontade de já ter feito, principalmente pela atitude e pela falta de classe que os árbitros mostram ter, e a falta de respeito na comunicação com as pessoas. Se calhar, nos cursos, terão que reforçar esses conceitos de ética e de boas práticas, porque o jogo é feito por pessoas e as pessoas têm sentimentos.

 

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