Diário do Alentejo

Ana Cabecinha e Etson Barros venceram a Corrida de São Silvestre, em Beja

06 de janeiro 2023 - 09:00
Um regresso mágico...
Foto | Firmino PaixãosFoto | Firmino Paixãos

Sem surpresas! Ana Cabecinha, do Clube Oriental de Pechão (CO Pechão), e Etson Barros, do Sport Lisboa e Benfica (SLB), dois atletas formados no CO Pechão e ambos treinados por Paulo Murta, venceram a Corrida de São Silvestre Cidade de Beja 2022.

 

Texto Firmino Paixão

 

Foram pouco mais de 340 (das mais de quatro centenas inicialmente previstas) os atletas que ouviram o tiro de partida para os 10 quilómetros da prova de São Silvestre Cidade de Beja. Ainda assim, uma participação elevada na reposição, muitos anos depois da última organização de uma corrida com estas características, numa cidade onde não existe esta tradição.

 

O painel de favoritos, uns mais do que outros, que se identificaram à partida, não tardou a afirmar-se, isolando-se logo na primeira das quatro voltas de 2,5 quilómetros desenhadas para o percurso.

 

Na dianteira da corrida formou-se um grupo onde se viram Daniel Martins (Areias de São João), Etson Barros (SLB), Carlos Papacinza (Núcleo Desportivo e Cultural de Odemira), Bruno Paixão (Beja Atlético Clube), João Baiôa (Casa do Benfica de Reguengos de Monsaraz) e Cláudio Pica (Fuseta).

 

Era desta constelação que haveria de sair (e saiu) a estrela mais cintilante, aquela que iria brilhar no lugar mais alto do pódio, numa noite amena, embora húmida, e com boa presença de público. Na segunda volta, o grupo já era mais restrito, ainda mais apurado na terceira passagem pela meta e, no final, só Daniel Martins e Bruno Paixão perseguiram Etson Barros no sprinte vitorioso.

 

No setor feminino, Ana Cabecinha disse, muito cedo, ao que vinha. Ganhar e festejar com o seu público, com as gentes do seu concelho, porque foi Baleizão quem “a viu nascer” e nós apenas (e foi uma grande honra) a vimos correr para uma vitória que considerou mágica: “Sim, este foi um momento mágico na minha carreira. Corri aqui, há cerca de 25 anos, em outra corrida de São Silvestre, mas tinha apenas 14 anos. Com essa idade, nós não temos a perceção de quanto esta cidade é importante para nós. Nesta altura, a sensação foi outra, foi muito superior e mesmo emotiva, até abdiquei da São Silvestre da Amadora para estar hoje em Beja, porque é a minha cidade. Foi mesmo mágico, estou muito feliz e nem me custou correr aqui. Fi-lo com imenso gosto”.

 

Sobre o anunciado favoritismo, Ana adiantou o óbvio. “Chego a todas as provas sempre com o intuito de dar o meu melhor e chegar entre as primeiras. Claro que competir na minha cidade e poder cortar a linha de meta em 1.º lugar é uma dupla sensação de vitória e é disso que eu gosto, da sensação de missão cumprida e, então, saio daqui muito bem, muito feliz”.

 

Sobre a corrida, propriamente dita, a atleta comentou: “A prova tem um bom percurso, nas provas de marcha estou habituada a este tipo de distâncias parciais, depois também faz com que o público esteja mais próximo de nós, nos acarinhe. Se fossem 10 quilómetros em linha isso não aconteceria, certamente. É mais motivador sentirmos o público sempre perto dos atletas, por isso, fez todo o sentido terem feito a prova neste molde e espero que ela se realize durante muitos mais anos. Senti que as pessoas sabiam quem eu era, que era a Ana Cabecinha, de Baleizão, acarinharam-me e isso então deu-me vontade de correr ainda mais rápido”.

 

Olhando para o futuro deixou a nota de que: “Depois dos Jogos Olímpicos Tóquio 2020, pensei em terminar a carreira, mas vou continuar a lutar, quero revalidar os títulos nacionais, também tenho o objetivo do Campeonato do Mundo, em Budapeste, e claro, que o meu objetivo principal será estar em Paris 2024, sem dúvida”.

 

Multimédia0Foto | Ana Cabecinha Correr a São Silvestre de Beja, 25 anos depois, foi “mágico”

 

Um triunfo que deixou feliz até o seu antigo companheiro de equipa, Etson Barros. “Fiquei muito contente com a vitória da Ana Cabecinha, porque há muitos anos que treinamos juntos no mesmo clube. Saí do Clube Oriental de Pechão para o Benfica, mas o nosso treinador é o mesmo, por isso, a vitória da Ana Cabecinha tem tanto significado para mim, como a minha própria vitória, estou bastante feliz com o sucesso de ambos”.

 

O atleta do Benfica, principal favorito à partida, confessou também que o seu objetivo era, “de facto, ganhar esta prova, controlar o máximo nos quilómetros iniciais, com o menor desgaste físico possível, mas sempre com o foco no triunfo”.

 

“Gostei do percurso, essencialmente urbano, com alguns troços mais estreitos, mas com alguma beleza e com muitas pessoas a aplaudirem os atletas, o que nos dá sempre um bocadinho mais de força e de motivação. Senti o carinho do público que estava em diferentes pontos do percurso”.

 

Depois, explicou: “A primeira volta foi muito competitiva, senti que alguns atletas se colaram a mim com a intenção de não me deixarem fugir. Conseguiram-no, pelo menos até que a sua condição física o permitiu, mas, quando faltavam cerca de três quilómetros para o final, consegui destacar-me e chegar em 1.º”.

 

Quanto ao futuro, deixou claro que: “Passará essencialmente por participar noutras provas em que o meu treinador entender que devo competir, acreditando sempre nos melhores resultados e nunca desistir deles, porque se acreditarmos estaremos um passo à frente e andaremos sempre mais perto do sucesso”.

 

A saída do CO Pechão para o Benfica foi a concretização de um sonho. Mas, e os outros? “Um atleta tem sempre muitos sonhos, mas vou continuar no Benfica. Estou bem, tenho muitos deveres para com este emblema que trago ao peito, por isso, só penso em dar sempre o meu melhor para representar o Benfica ao mais alto nível”, rematou o jovem atleta que nos habituou a vê-lo subir aos pódios do Crosse dos Cavaleiros de Vale de Santiago (Odemira).

 

Uma curiosidade é que os dois vencedores absolutos são treinados por Paulo Murta, o técnico do CO Pechão que, desde sempre, tem acompanhado Ana Cabecinha e que Etson Barros fez questão de manter na sua transferência para o Benfica.

 

Paulo Murta disse ao “Diário do Alentejo” que: “Quando verificámos que esta prova se encaixava no programa de preparação da Ana Cabecinha, decidimos vir. Estamos próximos de Baleizão que é a terra dela. Ultimamente, temos cá vindo mais amiudadamente, porque a irmã da Ana se estabeleceu ali em Baleizão, voltou às origens, o que é sempre um sinal positivo, e eu próprio fiz questão de a Ana aqui vir competir”.

 

Acrescentou ainda que “a Ana tem um prazer enorme em competir em Beja, embora esteja no Algarve há cerca de 31 anos. As origens dela são daqui, nunca as renega, sempre que tem oportunidade está presente e refere sempre que nasceu aqui. Já não tem os pais, mas ela quer sempre estar cá”.

 

Multimédia1Foto | Paulo Murta Deixou sugestões para melhorar a prova

 

DE PECHÃO PARA O BENFICA

Sobre Etson Barros, Paulo Murta revelou: “Nós não pretendemos que ele faça muitas provas destas, ele tem muito para dar nos 3000 obstáculos, que é a especialidade dele. Mas, como gosta de corta-mato, aproveitamos para fazer algumas provas dessas e uma ou duas de estrada”. Na avaliação à Corrida de São Silvestre de Beja, o experiente Paulo Murta deixou alguns reparos, que disse não serem críticas, mas contributos para melhor a qualidade da prova.

 

“Esta São Silvestre pode melhorar muito. Para já, há duas situações: o atletismo de competição e o atletismo de massas. É possível os dois coabitarem no mesmo espaço, sou apologista de que toda a gente deve poder participar. Só que teve um inconveniente, que foi estas voltas de 2,5 quilómetros. Significa que, à segunda volta, os primeiros já estavam a dar uma volta de avanço aos restantes e isso é normal para gente do running. O running é importante para o bem-estar e para a saúde, mas será importante alargar as voltas, duas ou três voltas mais largas, para que não aconteça isto, porque os da frente, logo a partir da segunda volta, andavam a ziguezaguear para tentarem ultrapassar os mais atrasados e é difícil, porque quem vai na frente escolhe sempre o seu percurso e acha que é o dele, mesmo sabendo que vem alguém mais rápido atrás”.

 

No entanto, considerou: “Isto é normal, não foi exclusivo aqui, não é uma crítica. A prova foi boa e pode ser antecipada em uma hora ou hora e meia, para que as pessoas regressem a casa mais cedo”. Por outro lado, lembrou também: “Nesta altura do ano, Beja é uma cidade fria e húmida e quanto mais tarde, mais o percurso aumenta a sua perigosidade, porque tem muita calçada e curvas muito perigosas”, considerou o treinador.

 

Multimédia2Foto | Etson Barros Destacou-se nos últimos três quilómetros da prova

 

O REGRESSO DO SAPADOR

Outra nota relevante foi o regresso do vila-novense Ricardo Paixão às competições na sua região de origem. Oriundo do Vitória de Setúbal, Ricardo, elemento do Regimento de Sapadores Bombeiros de Lisboa, vestiu nesta época, e pela primeira vez, a camisola do Beja Atlético Clube e foi nessa condição que veio a Beja reforçar a sua nova equipa.Conseguiu o 11.º lugar absoluto, 4.º no escalão masters 35 e foi o segundo melhor da equipa, superado apenas pelo “chefe de fila”, Bruno Paixão.

 

“Este regresso a Beja aconteceu, se calhar, passados cerca de 20 anos sobre a última vez que aqui competi”, recordou Ricardo Paixão, adiantando: “Gostava de ter chegado aqui em melhor forma, tal como me apresentei há um mês no nacional de corta-mato, onde me sagrei campeão nacional, mas tenho estado doente e não consegui melhor. Contudo, fiquei satisfeito por este regresso a Beja. Senti o apoio das pessoas, ainda me conhecem e deixaram-me muito feliz”.

 

Sobre o seu ingresso no Beja Atlético Clube, garantiu: “O clube decidiu apoiar-me para os campeonatos de veteranos, que é o meu interesse neste momento, os campeonatos europeus e do mundo, competições para as quais estou mais virado neste momento”.

 

Assegurou, contudo: “Não terei muitas aspirações nas provas de seniores mas, como veterano, consigo ser dos melhores do mundo, e, então, vou apostar aí, sabendo que também se pratica a um nível muito alto, mas é onde quero apostar”.

 

Vocacionado para a pista, provas de 1500 e 3000 metros, Ricardo assegurou que “estas provas mais longas servem de preparação para as competições de pista que se adivinham já em fevereiro e março”, onde vai estar no Campeonato do Mundo de pista coberta. “Espero aí estar ao mais alto nível, é para isso que estou a trabalhar e espero dar essa alegria ao Beja Atlético Clube”.

 

Resultados Absolutos Femininos: 

  • 1.ª Ana Cabecinha (CO Pechão), 35’22;
  • 2.ª Rita Ribeiro (EA Pedro Pessoa), 37’03;
  • 3.ª Laura Grilo (Praças Armada), 37’31;
  • 4.ª Patrícia Marques (Areias São João), 8’09;
  • 5.ª Sara Inácio (ADRAP), 38’26;
  • 6.ª Valerija Curikova (SS Arkadija), 38’31;
  • 7.ª Rita Coelho (Salesianos Manique), 38’55;
  • 8.ª Ana Lourenço (NDC Odemira), 9’51;
  • 9.ª Mirina Silva (Vasco Gama Sines), 41’30;
  • 10.ª Albertina Ferreira (Areias São João), 43’37;

 

Resultados Absolutos Masculinos:

  • 1.º Etson Barros (SL Benfica), 30’54;
  • 2.º Daniel Martins (Areias São João), 31’06;
  • 3.º Bruno Paixão (Beja Atlético Clube), 31’29;
  • 4.º Roberto Reigado (Areias São João), 31’44;
  • 5.º João Baiôa (CB Reguengos Monsaraz), 31’52;
  • 6.º Cláudio Pica (SL Fuseta), 32’06;
  • 7.º Carlos Papacinza (NDC Odemira), 32’06;
  • 8.º Matheus Borges (CO Pechão),32’36;
  • 9.º Edgar Matias (São Francisco Serra), 32’37;
  • 10.º Filipe Rebelo (Run Tejo), 32’50;
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