Diário do Alentejo

A ACR Zona Azul é um clube de formação mas com horizontes limitados

22 de julho 2022 - 16:00
Carlos Guerreiro continuará, pelo menos, por mais uma época como treinador da equipa sénior da Zona Azul de Beja, mantendo os seus objetivos moderados e condicionados por diferentes variantes.
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Texto Firmino Paixão

 

Não vai longe a época em que, após uma campanha brilhante na 2.ª divisão nacional de andebol, o clube renunciou àquele patamar competitivo e mesmo a participação no 3.º escalão esteve em risco, ainda que tivesse acabado por acontecer.

 

Os objetivos para a próxima época permanecem inalterados, receber os atletas que vêm da formação, capacitá-los para jogar na equipa sénior, mas com a ambição limitada, porque o clube não quer (porque não pode) projetar-se para um desafio maior e mais ambicioso.

 

Carlos Guerreiro (na foto à direita, com Hugo Estanque), o treinador que ficará ao leme da equipa, recordou que “este problema não é exclusivo da Zona Azul. É um problema da região, estamos numa cidade que não pensa, que não tem ideias, não tem perspetivas para o desporto de rendimento, para o desporto de competição. Nós não fazemos absolutamente nada para colocar e valorizar uma equipa num patamar nacional e para dar continuidade a esse trabalho”.

 

Quais são as principais razões que identifica?

Vivemos de boas vontades, vivemos de voluntariado e de um ou outro milagre que vai fazendo com que o andebol, num determinado momento, aparecesse na 2.ª divisão e com qualidade, o hóquei em patins num determinado momento, também surgiu na 2.ª divisão e se calhar estou a esquecer outras modalidades, mas estas são as que me lembro. O desporto de competição, na nossa cidade, é visto apenas como algo onde se gasta dinheiro. Tratamos o desporto apenas nas vertentes de formação e de recreação. O que nós fazemos, neste momento, é recreação e esperar que aconteçam milagres. Preocupamo-nos apenas em distribuir horários e distribuir instalações. Não existe uma perspetiva de que, através do desporto, possamos ter um papel ativo e de relevo nesta ou noutra modalidade.

 

Contudo, manteve o compromisso com a Zona Azul para treinar na próxima época...

Sim, na próxima época desportiva vamos manter-nos ao comando da equipa sénior. Existe uma ligação, mais do que tudo, sentimental. Obviamente que existe aqui uma espécie de último fôlego, porque já não estava nos meus horizontes voltar a treinar a equipa sénior, mas proporcionou-se, foi, no fundo, a única forma de mantermos, quer os juvenis, porque não tínhamos condições para os manter em atividade e, fundamentalmente, para o clube manter a equipa sénior, e então, acabámos por aceitar o desafio, com este compromisso de ser um desafio de dois anos e o próximo ainda está dentro desse acordo.

 

E já se planeia a próxima época desportiva?

Claro, a intenção é disputarmos o campeonato nacional da 3.ª divisão, até porque é a minha convicção, e convicção do clube, que, neste momento, não temos condições para competir a outro nível e sim, as coisas estão a evoluir. Aliás, acabámos a época com as situações mais ou menos preparadas em termos daquilo que seria a próxima que, de grosso modo, será de continuidade. O grupo será muito idêntico ao da última temporada.

 

As metas estarão definidas: 3.ª Divisão e Taça de Portugal sempre com a classificação mais honrosa?

Sem dúvida, podemos dizer, com algum à vontade, porque já andamos nisto há alguns anos e já andámos noutros campeonatos e, se calhar, dizê-lo com alguma tristeza, mas a realidade do clube e a realidade da cidade não nos permite outro olhar. Para se competir por outros objetivos temos que trabalhar sério e nós não temos condições para o fazer. Com um terço do grupo fora da cidade, ninguém acredita que, chegando à sexta-feira e fazendo um treino muitas vezes de uma hora, se conseguiria, no dia seguinte, competir num campeonato como o da 2.ª divisão.

 

Deve ser pouco estimulante, para um treinador, abraçar um desafio sabendo, previamente, que o horizonte está tão limitado?

Sabe, esta última época foi uma época de adaptação para todos nós, inclusive para mim. Reconheço que a motivação não é a mesma. Há pouco tempo atrás, estávamos a discutir uma 2.ª divisão, treinando quatro vezes por semana, com um trabalho estruturado, com uma equipa técnica que incluía um preparador físico e um fisioterapeuta, e, com o contributo dos atletas, estruturámos esse trabalho que nos permitiu bater de igual para igual com as restantes equipas do campeonato. Hoje, obviamente que a motivação não poderá ser a mesma. Mas já temos experiência suficiente para, a cada momento, nos adaptarmos à realidade. E sentimos isso também nos atletas que competiram a esse nível.

 

Ainda assim, é gratificante trabalhar com atletas que concluem o seu período de formação e que iniciam um novo processo de crescimento?

Sempre tivemos essa perspetiva, mesmo noutros períodos. Sendo nós um clube de formação, sempre fizemos esse trabalho com os atletas que nos chegavam da formação. É um trabalho de continuidade para darmos depois esse tal salto, aumentando-lhes a exigência e a intensidade. Sim, é um trabalho interessante. Tivemos, durante muito tempo, um grupo forte, coeso, que fazia também essa ligação com os mais jovens e com aquilo que era o trabalho do treinador. E, eles próprios, quase que impunham aos mais novos uma forma de trabalhar à qual já estavam ajustados. E a preocupação continua a ser a mesma.

 

A última época teve dois momentos diferentes, na primeira fase a Zona Azul esteve em destaque, na segunda, nem por isso. Podia ter feito algo mais?

Seria difícil termos feito melhor. Na segunda fase, temos a noção de que, num jogo ou outro, podíamos ter feito melhor. A primeira fase foi quase irrepreensível, se calhar até, honestamente, melhor do que estávamos à espera, porque começámos a época um bocadinho à pressa, mas foi boa. Perdemos apenas um jogo e, ao fim de poucas semanas, reestruturámos os objetivos e conseguimos um dos dois primeiros lugares. Depois, estivemos três semanas entre uma e outra fase, tivemos problemas de covid-19, treinámos pouco e, por outro lado, no primeiro jogo com o Naval Setubalense fomos claramente atropelados e isso deixou-nos marcados para o resto da competição, com equipas muitos fortes e com outros recursos que tivemos muita dificuldade em ultrapassar. Mas construímos a nossa identidade e os jovens cresceram muitíssimo.

 

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