Diário do Alentejo

'Torneio Clube Escolhas Alentejo' reúne projetos em Beja

16 de março 2022 - 14:55
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

“Tenho aprendido muito! A minha mentalidade mudou, sinto-me uma pessoa melhor e uma pessoa mais responsável”, a afirmação é de Aquiles Silva, o jovem capitão da equipa do ‘Clube Shavers’, criada em Beja pelo ‘Projeto Shave E8G’, desenvolvido no âmbito do Programa Escolhas.

 

Texto Firmino Paixão

 

Um programa de iniciativa pública, criado em 2001, e sucessivamente renovado, com a missão de promover a inclusão social de crianças e jovens provenientes de contextos mais vulneráveis.

 

“Estou feliz”, garantiu Aquiles, também músico e animador do projeto, assumindo, sem complexos, que tem “aprendido muito com o nosso treinador e com as nossas diretoras, através das reuniões que fazemos e das conversas que vamos tendo”. Ao mesmo tempo que confessa que sente “um grande orgulho por ser jogador da equipa ‘Shavers’”.

 

 “Sou o capitão da equipa, tenho o apoio do mister Saiming e sei que este é um processo complicado mas, passo a passo, nós vamos conquistando etapas e sentindo-nos mais confiantes, por isso, sinto um enorme orgulho em representar o nosso clube e a nossa cidade”. O jovem afirmou ainda que tem partilhado com outros amigos as virtudes destes projetos, contudo, disse, “alguns são preguiçosos e não querem vir mas, ainda assim, eu puxo por eles e divulgo o projeto”.

 

Um diálogo franco mantido à margem da fase regional do Alentejo do Torneio Clube Escolhas, que reuniu, no Pavilhão de Desportos da Escola de Santa Maria, na cidade de Beja, as equipas representativas dos Projetos Shave E8G (Beja), Projeto ST E8G (Odemira), Integrar E8G (Campo Maior) e Entre Nós E8G (Sines), clubes criados pelos jovens das comunidades onde o Programa Escolhas intervém.

Deolinda Zacarias, uma das responsáveis pelo do ‘Projeto Shave E8G’, que intervém ativamente junto das comunidades jovens dos aglomerados populacionais onde residem comunidades claramente vulneráveis, disse ao “Diário do Alentejo” que “a nossa equipa representa o ‘Projeto Shave’, ou o ‘Shavers’, como lhe chamámos agora para este torneio”, e lembrou que “o Projeto Escolhas já existiu em Beja há uns anos, voltámos a fazer uma candidatura em 2021 e desde abril do ano passado que estamos a trabalhar junto das comunidades do Bairro da Esperança e do Bairro das Pedreiras”.

 

Os resultados desportivos, os golos marcados, ou aqueles remates que passam ao lado da baliza importam pouco, ainda assim lembrou Saiming Fonta, o treinador e dinamizador da equipa: “Segundo o regulamento da competição, serão aqui qualificadas duas equipas e a seguir haverá uma segunda fase nacional, com as duas equipas apuradas em casa fase regional, que, em princípio, será realizada em Lisboa”. Sobre a mobilização de jovens para integrarem estas ações, assumiu o também guarda-redes da ACRD Penedo Gordo:

 

“Sinceramente, não tem sido fácil mobilizar os jovens para estas iniciativas. Atualmente estamos a trabalhar com dois bairros, Esperança e Pedreiras, e temos as portas abertas para outros jovens da comunidade, aliás temos na nossa equipa jovens que não habitam em nenhum desses locais”. Mas, repetiu: “Não é fácil, porque, no início, existe sempre alguma desconfiança e pouca motivação mas, a partir do momento em que sabem que proporcionamos outras atividades além do desporto, como música, dança, teatro, futebol de rua, treino de competências e, pela forma como o fazemos, com dinâmicas e atividades lúdicas, a partir daí conquistamos uma parte dos jovens, que depois passam a palavra a outros, e hoje temos que nos sentir gratos por termos conseguido recrutar mais jovens, porque o projeto está mais divulgado”.

 

Uma convicção assumida também por Deolinda Zacarias, recordando que a Oficina de Futebol de Rua, uma das atividades do projeto cujo monitor é Saiming, tem, atualmente, cerca de meia centena de jovens, entre rapazes e raparigas. Acrescentou a dirigente que “quando recebemos a informação que existiria este torneio nacional do Clube Escolhas, decidimos inscrever-nos e vir com os nossos jovens participar, porque entendemos que também é importante eles saírem do meio onde se inserem e onde estão habituados a treinar, para terem outras oportunidades. No fundo, é muito isso que nós hoje estamos aqui a fazer. Estamos a receber os outros projetos e, de alguma forma, também a mostrar aquilo que tem sido o nosso trabalho ao longo destes meses e, acima de tudo, o que queremos mesmo é proporcionar aos nossos jovens a possibilidade de poderem vivenciar outras experiências”.

 

Quanto aos resultados obtidos, no presente, como em ações do passado, Deolinda Zacarias reportou que “a ideia que temos, embora não estivéssemos cá em projetos anteriores, mas pelo que ouvimos de jovens participantes noutros programas e também de algumas técnicas que os acompanharam nessa altura, é que temos conseguido envolver muitos jovens”.

 

Mas sublinhou que “como o Saiming afirmou, não é fácil, porque trabalhamos em dois bairros com as especificidades que se conhecem, mas não podíamos estar mais gratos pela forma como temos conseguido desenvolver esse trabalho. Não é fácil, não, não é, mas é um passinho de cada vez e achamos que, com todos os passinhos que temos dado ao longo destes meses, já conseguimos conquistar algumas coisas. Mas a nossa maior conquista é acabarmos por ser uma referência para esses jovens, porque eles sabem que podem contar connosco e que nós estamos cá para os ajudar”, porque, justificou ainda a dirigente “mais do que proporcionar-lhes atividades, queremos que, connosco, percebam que, apesar da realidade onde vivem, porque, infelizmente, ainda existem alguns estigmas nesses locais, a mentalidade deles tem que saltar para fora do bairro onde vivem e, daí a nossa vontade de eles experienciarem coisas novas e perceberem que, independentemente do local onde moram, podem ser o que desejarem, podem fazer o que sonharem, basta que queiram e que lutem por isso”. Infelizmente, reforçou Deolinda Zacarias, “a inserção não existe só para as comunidades vulneráveis, a inserção e a inclusão terão que ser muito mais abrangentes e de existir em ambas as partes. Este grupo tem que querer estar inserido e incluído e ser aceite do outro lado”, concluiu.

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