Diário do Alentejo

Nuno Barnabé é o novo treinador do Bairro da Conceição

01 de fevereiro 2022 - 15:55
Foto | Firmino PaixãoFoto | Firmino Paixão

Não está fácil. O Bairro da Conceição ocupa e penúltima posição da Série A da II Divisão da Associação de Futebol de Beja, aquando desta entrevista. Um plantel curto e a dificuldade em fixar jogadores talentosos no clube podem justificar a época menos conseguida, não obstante a qualidade das infraestruturas.

 

Texto Firmino Paixão

 

Nuno Barnabé sucedeu, recentemente, a João Parreira no comando técnico do Bairro da Conceição, mas pede tempo e paciência para estruturar a equipa e preparar o futuro, não no imediato, porque, para já, não está focado nos resultados. Ideias que foram deixadas pelo jovem treinador, assegurando que conta com a cumplicidade e compreensão dos dirigentes do clube. “Penso que sim”, adiantou Nuno Barnabé, “até porque os dirigentes sabiam, melhor do que ninguém, o que possuíam quando me foram convidar. Todos sabemos, eu, os atletas e a direção, as dificuldades que enfrentamos e o deserto que teremos que atravessar até encontrarmos o nosso oásis”.

 

Esperava encontrar tantas dificuldades?

O Bairro da Conceição trocou recentemente de treinadores e ainda estamos num processo de ajustamento. O número de elementos que compõem o grupo não é muito grande. Entre confinamentos e ausências no treino, têm existido muitas dificuldades. Aqui, como, se calhar, por todo o lado. A conceção da equipa não é aquilo que eu estava à espera, mas o trabalho, daqui até ao final, será tentarmos estruturar aquilo que temos, para percebermos com o que é que podemos contar no futuro, para construirmos uma equipa diferente, um conjunto que almeje outros resultados.

 

Assumir esta equipa, na posição em que se encontra na tabela, foi um ato de coragem?

Sim! Vou ser sincero… à primeira chamada não mostrei interesse. Estava num ano em que não queria treinar, apesar de ter tido convites para o fazer. Posteriormente sublinharam-me as dificuldades por que estavam a passar e eu disse-lhes que viria com espírito de missão e preparado para fazer todos os jogos até ao final, mas acho que este clube da cidade de Beja merece mais. Estas pessoas merecem mais. Com uma infraestrutura destas, temos que ter, na nossa cidade, outro tipo de clubes e os clubes da cidade terão que começar a ter outro tipo de representatividade. Vim com esse propósito, com o propósito de estruturar, de tentar agregar vontades e gente à volta de um projeto que seja diferente daquele que vive- mos neste momento.

 

Quando fala em agregar está a pensar em algum tipo de articulação com os outros clubes da cidade que, eventualmente possam ceder alguns atletas?

Isso levava-me para outra questão que eu não sei se será oportuno falar nela e que tem a ver como, neste momento, os outros clubes interpretam a formação. Nós temos mais dois clubes na cidade, que têm equipa principal e equipas bê e cê, mas se surgir aqui algum miúdo com algum talento eles vêm buscá- lo. Temos que perceber aquilo que estamos a construir. Outros querem construir coisas que não conseguem alcançar, daí não se conseguir manter a qualidade que existiu no passado. O que eu me proponho é tentar transformar, agregando e tentando criar equipas para o Bairro poder ter, a partir das suas representações mais jovens, uma equipa sénior que, um dia, queira chegar mais além. Para isso, claro, tem que criar condições para ter equipas, desde benjamins até aos escalões etários mais elevados.

 

Os índices motivacionais dos jogadores devem estar muito em baixo. Tem sentido isso?

Isso tem um pouco a ver com a maneira como enchemos o balão, com o ar que lhe metemos dentro. Vejo as coisas nessa perspetiva. Eu podia ter chegado aqui e ter começado a vender ilusão. Fazendo isso com os jogadores, estamos a tentar que eles se superem quando, na realidade, sabemos que não é algo sustentável. Mas vejo que os nossos jogadores deixam tudo em campo. O meu discurso tem sido mais estruturante, no sentido de percebermos a dificuldade que temos, colocando objetivos para crescermos passo a passo. Eu não estou apenas focado nos resultados, infelizmente, o processo tem que ser idêntico ao que é nos escalões de formação, porque esta realidade a isso nos obriga. Não estaria a ser leal com os atletas se lhes pedisse algo para os enganar, tenho que lhes pedir é trabalho durante a semana, para chegarmos aos jogos e tentarmos superar-nos e crescer jogo a jogo. Esta fase continuará a ser difícil, a diferença pontual é muito grande e as restantes equipas têm realidades completamente diferentes do nosso grupo. Nós só temos que nos focar em princípios de jogo, em micro objetivos, para conseguirmos recompensar-nos a nós próprios. O nosso trabalho não se esgota nos resultados.

 

O clube, apesar de possuir infraestruturas atrativas, não consegue fixar aqui os mesmos jogadores durante épocas consecutivas?

Claro. Temos que perceber aquilo que podemos fazer com os jogadores que temos, porque cada vez que algum atleta se revela aqui além do padrão habitual, oferecem-lhe outras condições e levam-no. Nós não temos condições para concorrer com esses clubes, mas temos outro tipo de condições que, no futuro, podem seduzir jogadores, porque temos a experiência de outros clubes que, sem pagar, conseguem ter equipas competitivas e na I Divisão, como o Penedo Gordo. O Bairro da Conceição pode criar uma estrutura, e aqui falamos em atletas que nos possam dar outras garantias futuras. É nisso que vamos trabalhar.

 

Tem toda a oportunidade citar aquele velho provérbio de que “sem ovos, não se fazem omeletas”?

 Sim, “sem ovos não há omeletas”, então “temos que arranjar galinhas para porem mais ovos”… essa responsabilidade é minha, porque tenho que potenciar aquilo que possuo, e eu, a isso, não me escuso. Os jogadores sabem, desde o primeiro dia, que estou aqui para isso, para potenciar os jogadores que aqui estão. No futuro tentaremos ter outra estrutura para fazermos o nosso caminho.

 

(Artigo publicado na edição nº 2073 a 14 de janeiro 2022)

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