A terra é pequena sim, mas a ambição e o orgulho são enormes. O Grupo Desportivo de Santa Luzia, no concelho de Ourique, abandonou, há duas épocas, o desporto amador, optando pelas competições federadas.
Texto Firmino Paixão
Um campo pelado que, muito em breve, terá iluminação artificial, é o palco de sonho deste grupo de jogadores, que muito quer honrar o emblema que traz ao peito. A população, os adeptos, os simpatizantes, não lhes poupam no carinho em redor das quatro linhas, incentivando-os na conquista de vitórias, que façam o clube crescer e que ponham Santa Luzia no mapa do futebol regional. Luís Leal, o treinador que lidera a equipa no distrital da II Divisão da Associação de Futebol de Beja, garante: “Jogaremos em todos os campos de igual para igual, olhos nos olhos. E depois, no final, veremos quais os resultados que vamos conseguir e qual será a nossa classificação. O Santa Luzia respeitará os adversários, mas não terá medo de equipa nenhuma. Vamos surpreender muita gente”.
Olhos nos olhos, esse será o lema ao longo da temporada?
O lema vai ser mesmo esse, em Santa Luzia vamos formar uma equipa fortíssima. Vou assumir, mesmo, que queremos passar à segunda fase, estamos a criar melhores condições, trabalhamos muito com pouco, mas os resultados irão aparecer. O Santa Luzia está, pelo segundo ano, na II Divisão Distrital, estamos a criar aqui bases e condições para fazermos um excelente campeonato… ainda para mais, os jogadores são quase todos aqui desta zona e do concelho. São jovens com qualidade, que fizeram a sua formação noutros clubes, mas temos aqui matéria-prima para fazermos um campeonato acima da média. De certeza que, quando acabar o campeonato, sentir-me-ei um treinador orgulhoso e feliz, por aquilo que iremos conseguir aqui neste campo pelado, onde será muito difícil perdermos pontos. Tenho a certeza absoluta que, quem vier aqui, terá que vestir o fato-macaco, olhar-nos com os olhos nos olhos, e ver que Santa Luzia é uma aldeia pequena, com gentes fantásticas e humildes, mas com uma grande equipa. E treinamos três vezes por semana com 18 ou 19 jogadores, a ganhar zero [cêntimos].
O que espera deste campeonato é a passagem da equipa à segunda fase? É essa a meta…
Sim, com todo o trabalho que aqui estamos a fazer, e com a qualidade que temos, com certeza que sim. E ficarei ainda mais orgulhoso quando começarmos a conquistar os nossos três pontos, jogo a jogo, porque a equipa ainda crescerá mais do que já cresceu. Uma equipa que está muito bem a nível físico e tático, com capacidade para surpreender muita gente. Tenho a certeza!
Esta série, com os clubes do litoral, foi sempre muito competitiva e, este ano ainda mais, porque estão cá o Odemirense e o Milfontes?
Não vou esperar facilidades, mas isso não nos intimida. Nenhuma equipa me vai assustar. Desde o Milfontes, Odemirense, Nave Redonda, não desprezando os outros, são equipas que todos pensarão que vão ficar no topo. Mas eu vou ser sincero, penso sempre de forma positiva, não vou baixar armas, tenho aqui matéria-prima com qualidade e, de certeza absoluta, que surpreenderemos muita gente, mesmo jogando no nosso campo… mas quando chegarmos à relva, voltaremos a surpreender, porque a nossa equipa tem uma qualidade acima da média. Temos aqui jogadores que poderiam estar noutros clubes, mas preferem jogar perto de casa, e vamos encarar todos os jogos com a mesma personalidade e com a mesma maneira de jogar à bola. Toda a gente poderá dizer que Santa Luzia, sim, joga um futebol muito bom e, no final veremos os resultados.
O plantel é formado por jogadores de Santa Luzia e das terras vizinhas?
Temos cinco jogadores de Panóias, temos alguns de Santa Luzia (o Tonico, por exemplo, que é o mais emblemático), temos o Leandro e o Guito, consegui fazer aqui um plantel muito bom, com pessoal da zona, com um pouco de esforço, andando atrás deles até que aceitassem, porque isto não é fácil. Os jogadores têm as suas profissões e aqui não ganham nada. Iremos bater-nos contra equipas em que os jogadores até podem ter os seus ordenados, mas sou sincero: a humildade, o trabalho e a capacidade de sacrifício, irão vencer. Aposto que vamos surpreender.
Tem uma equipa jovem, com alguns miúdos à volta dessa referência que é o Tonico Sabino, com 47 anos…
O Tonico é uma individualidade. É a nossa referência máxima, toda a gente o conhece por esse distrito fora. É uma referência, chegou a jogar nos nacionais, pelo Mineiro, é uma referência para os jovens, pela sua disponibilidade. Treina como se tivesse agora 19 ou 20 anos, é a alegria do nosso balneário e a alegria do povo desta terra. Pode perder um lance, ou outro, mas tem uma colocação dentro de campo fora do normal, é difícil ganhar-lhe uma bola, está sempre muito bem-disposto e transmite muita confiança aos mais jovens. É dos primeiros a chegar ao treino e o último a abalar, sempre com um sorriso nos lábios. É um prazer vê-lo treinar, porque tem sempre disponibilidade para aprender.
Que trabalho é possível fazer, durante a semana, num campo sem iluminação, apesar de já estarem em curso obras para que isso aconteça?
Trabalhamos com dedicação e empenho, e com muito esforço de todos, principalmente da direção, que tem feito um trabalho espetacular nesta pequena aldeia. Vamos ter iluminação no campo muito em breve, iniciámos os treinos aqui mas, agora, a luz natural, ao fim da tarde, já é pouca, temos treinado em Ourique, a quem agradecemos, por nos disponibilizar o campo à quarta-feira… sempre dá para fazermos um treino mais intenso e com mais qualidade. Temos também que agradecer ao presidente do Panóias, que nos está a disponibilizar o campo às terças e quintas-feiras, e é lá que fazemos o nosso “trabalho de casa”. Mas o pessoal não facilita, porque mesmo em Panóias ou Ourique, tenho sempre 19 ou 20 jogadores no treino. Vivemos no mais puro amadorismo, com gosto e espírito de sacrifício, mas também com muita paixão por representarmos esta pequena terra que é Santa Luzia.