Diário do Alentejo

"Chegar à Taça de Portugal é uma questão de prestígio"

07 de setembro 2021 - 09:00

Será no Complexo Desportivo da Nora, em pleno coração do Algarve, que a Associação Cultural e Desportiva do Penedo Gordo e o Futebol Clube de Ferreiras, irão discutir a 1.ª eliminatória da Taça de Portugal.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

Estarão em campo dois emblemas que militam nos campeonatos distritais das respetivas regiões e se o fator casa pode favorecer os algarvios, a ambição, a atitude e a vontade de vencer, serão os trunfos dos alentejanos. O Penedo Gordo, em três épocas, conseguiu duas participações na Taça de Portugal, algo que orgulha o técnico António Calatróia mas, talvez nem tanto, os adeptos do clube.

 

“As pessoas da aldeia terão que ter consciência que não é fácil andar nestes patamares e acho que, às vezes, somos um pouco mal apoiados pela população. Não é uma crítica, mas uma chamada de atenção, porque poucas pessoas não se importam se nós estarmos aqui ou ali… Deus queira que o clube consiga muito mais participações na Taça de Portugal, mas merecíamos mais apoio das pessoas, mais participação, andamos aqui um pouco abandonados. Se não tivessem aparecido alguns diretores da cidade, rapazes que nos quiseram ajudar, se calhar estava aqui sozinho com os jogadores e o presidente”, lamentou António Calatróia.

 

O Ferreiras é uma equipa do distrital do Algarve, que jogará em casa, mas esse é um fator que não ganha jogos…

Vamos lá com muita ambição. Sabemos que o Ferreiras é uma equipa que, normalmente, anda nos campeonatos nacionais. É uma equipa que joga sempre para o título, terá certamente um orçamento elevado, mas os jogos decidem-se dentro do campo e nós vamos lá para discutir o jogo, vamos lá para vencer – isso posso prometer. O Penedo Gordo vai trabalhar para ganhar o jogo, com mais ou menos dificuldades iremos tentar. Os jogadores têm trabalhado bem, temos feito bons treinos, temos uma equipa com jogadores que estão juntos há várias épocas consecutivas e isso pode dar-nos alguma vantagem.

 

Uma participação positiva no plano financeiro, que também faz com que o clube se adiante na preparação, face aos adversários do campeonato?

Sim, chegar a uma eliminatória da Taça de Portugal é uma questão de prestígio, mas também nos dá mais alguma rodagem. Somos uma equipa de aldeia, aqui no concelho de Beja só o “Ferróbico” e o Penedo Gordo terão sido as equipas de aldeia a atingirem este patamar. Mas também é importante financeiramente, somos um clube que não paga nada a ninguém, ainda nem conseguimos chegar ao patamar de dar um pequeno subsídio aos jogadores, mas o clube tem as suas despesas e necessita de arranjar algum dinheiro. A simples participação na eliminatória rende-nos 3000 euros e uma vitória no Algarve, com passagem à segunda eliminatória (mais 4000 euros), seria ouro sobre azul, porque ficaria a época garantida. Isso é muito importante e é nessa área que acho que falta um pouco de participação das pessoas da aldeia. Se não formos atrás deles, a pedir para nos darem uma ajuda, ninguém aparece para participar em coisa nenhuma. Se todos pensássemos assim, o clube ainda estaria no Inatel.

 

Mais adiante virá o campeonato distrital que, esta época será mais competitivo que em anos anteriores?

Os campeonatos mais curtos são, necessariamente, mais exigentes e tornam-se mais competitivos. Existe menos margem de erro. Vamos ver, mas a ideia que se tem vindo a passar de que existem quatro ou cinco equipas competitivas… eu não acredito nisso, todas tem os seus argumentos, todas são competitivas e todas vão lutar pelos melhores lugares. Agora existem os chamados “tubarões”, logicamente que não podemos comparar o Penedo Gordo ou o São Marcos, por exemplo, ao Castrense, ao Moura, ao Mineiro ou ao Vidigueira. Mas dentro das quatro linhas somos todos iguais. Essas equipas terão é mais responsabilidade do que as outras todas. No nosso caso, tudo o que fizermos será positivo, não daremos um jogo por perdido e trabalharemos a semana inteira para ganhar ao domingo. Isso faz parte do nosso ADN.

 

Que metas traçaram?

A primeira meta será passarmos à segunda fase dentro dos primeiros seis classificados, sempre a ombrear com os melhores, estarmos integrados no grupo das equipas mais fortes.

 

E o plantel, que novidades apresenta?

Não há grandes mudanças. Só temos duas novidades, que são dois regressos, o Francisco Alves, que estava no Mineiro, e o Hugo Venâncio, que estava parado. O Hugo está comigo há 10 anos, o Francisco saiu daqui para o Mineiro e agora regressa. Aliás, este clube tem essa característica, formar jogadores que saem para outros clubes. Repare que, se eu excluir três ou quatro trintões que aqui tenho, o Verdades, o Velhinho, o Hugo, o Facaia e o Igor, os outros 17 jogadores têm menos de 25 anos. Agora, nem sempre é fácil termos todos os atletas disponíveis para treinar, uns são estudantes, outros trabalham. Não é fácil…

 

Lamentou a falta de apoio da comunidade local mas, por outro lado, as infraestruturas têm melhorado. Este ano vão ter novos balneários e uma bancada…

Quando falo em falta de apoio é no sentido de que gostava de ter aqui mais pessoas a acarinhar-nos, mais pessoas da terra, mais diretores, não é só vir ao domingo pagar um “eurinho” e assistir aos jogos. Nisso colaboram todos… agora, gostávamos que as pessoas estivessem mais perto da equipa. Estamos há mais de um mês a treinar e ainda não vi aqui um adepto a assistir a um treino. Nem aparecem para nos ver. Saberão que nós existimos? Gostava de ver mais gente no campo.

 

E a questão das infraestruturas?

Sim, temos contado com um forte apoio da Câmara de Beja, têm-nos feito algumas coisas que temos pedido. Uma das nossas exigências era um piso relvado, já o conseguimos, mas é lógico, porque o trabalho que temos vindo a fazer deve merecer respeito das entidades oficiais. E o investimento que aqui foi feito nunca pode ser dado por mal empregue. O que aqui foi feito é justo, tenho pena que não surjam mais espaços como este noutras localidades, como a Salvada ou Albernoa, clubes que, na minha opinião, também já o mereciam, porque num pelado é muito difícil cativar jogadores e assim o futebol não evolui.

 

Que medidas são necessárias para que o desporto possa evoluir?

É fundamental uma boa política desportiva. Gostava de ver, no concelho de Beja, uma política desportiva semelhante à cultural. Dou o exemplo do que fazem com o Pax Júlia, onde todos os anos se realizam inúmeros concertos e no desporto olha-se pouco para os clubes. Não se podem dividir 50 papos-secos por 200 famílias. Fica tudo com fome. Isso tem que mudar um pouco. Os clubes que apresentam trabalho terão que ser mais apoiados, não nos podemos desculpar por o concelho ter muitos clubes… se é assim, então aumentem a verba para o desporto. Não podemos estar a dividir por 50 o que é merecido por 10.

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