Os Campeonatos Distritais da I e da II Divisão e o de Sub/23, em futebol, e o Campeonato Distrital de Futsal, em seniores masculinos, foram dados por concluídos pela Associação de Futebol de Beja, com base na situação epidemiológica que se vive em alguns dos concelhos do distrito de Beja.
Texto Firmino Paixão
Os comunicados oficiais números 35, 36, 37 e 38 emitidos pela Associação de Futebol de Beja (AFBeja) no passado dia 1 de abril referiam que, tendo em conta as medidas contidas na Resolução 19/2021, de 13 de março, do Governo português, versando as regras de levantamento de medidas de confinamento, algo que permitiria a retoma das atividades desportivas em modalidades de risco médio, os campeonatos por si organizados (I e II Divisão, Sub/23 e seniores masculinos de futsal) seriam retomados nos dias 7, 8 e 9 de maio, estando mesmo agendada para o dia de amanhã, 1 de maio, a realização dos jogos em atraso de jornadas anteriores.
Volvidos 20 dias e já com algumas, senão todas, equipas de regresso aos treinos, o executivo da AFBeja voltou a reunir com os clubes “com o objetivo de analisar a retoma desportiva, à luz da situação epidemiológica que vivemos e dos condicionalismos legais inerentes, em especial no nosso distrito” e decidiu que, “ponderados e discutidos todos os fatores conexos a esta questão, os clubes foram sensíveis, e a maioria disponíveis, a considerar o término do campeonato na presente data”, lê-se nos comunicados oficiais números 41 a 44, datados de 21 de abril.
Recuemos pois, ao dia 27 do mês de novembro do ano transato e ao teor do comunicado oficial número 23 sobre o tema “Qualificação em caso de conclusão de provas”, cujo conteúdo era o seguinte: “Caso, por força de legislação aprovada para o efeito ou por decisão do Governo, nomeadamente atentas razões de saúde pública, não seja possível a realização de jogos e, em consequência, seja dado por concluído o campeonato em momento anterior ao seu término, verificar-se-á: a) a qualificação para a competição superior far-se-á em função da melhor pontuação e a relegação para competição inferior far-se-á em função das piores pontuações na tabela classificativa, à data da conclusão da prova. Se as equipas não tiverem o mesmo número de jogos, será aplicado o cálculo de coeficiente de pontos por jogo; b) na competição que for dividida por séries, a qualificação para a competição superior será feita pelo maior número de pontos de todas as equipas em competição. Se as equipas não tiverem o mesmo número de jogos, será aplicado o cálculo de coeficiente de pontos por jogo”.
O que mudou então entre o dia 1 de abril, em que foi anunciam a retoma da atividade desportiva e o dia 21, data em que as competições são dadas por concluídas? Primeiro: os concelhos de Barrancos, Moura e Odemira mantiveram-se em regime de confinamento, face à existência de rácios com elevado risco de incidência cumulativa por 100 mil habitantes. Segundo: o Campeonato Distrital da II Divisão era disputado por 22 equipas entre as quais uma do concelho de Barrancos (Barrancos), uma do concelho de Moura (Amarelejense) e quatro do concelho de Odemira (Renascente, Naverredondense, Amoreiras Gare e Pereirense), facto que não permitiria o normal desenvolvimento da prova. Terceiro: o Campeonato Distrital da I Divisão estava a ser disputado, apenas, por nove clubes (Serpa, Vasco da Gama, Penedo Gordo, Despertar, Almodôvar, União Serpense, Piense, Castrense e Cuba), nenhum deles oriundo de concelhos com elevada incidência de risco nessa data.
Não se entende, por isso, a decisão de concluir este campeonato, a não ser por estarem disputadas poucas jornadas, ou pela presunção de que os concelhos dos clubes envolvidos podiam recuar para situações de confinamento (veja-se o de Beja). Ainda assim já estava decidido que a prova seria disputada apenas a uma volta, o que abreviava, consideravelmente, a sua duração.
Não sendo concluídos os campeonatos, não serão atribuídos títulos e, no caso de promoções ao escalão superior (Campeonato de Portugal) e participação na Taça de Portugal, caberá à AFBeja indicar quais os seus representantes, sendo que, à luz do teor do comunicado oficial número 23, os coeficientes resultantes da divisão dos pontos conquistados nos jogos disputados são os seguintes, por ordem de grandeza: Penedo Gordo, 3.00, Serpa, 2.50, Vasco da Gama, 2.33, União Serpense, 1.50, Piense, 1.50, Castrense, 0,00 e Cuba, 0.00 (este potencialmente despromovido).
Não surpreenderá, por isso, que o Penedo Gordo venha a ser indicado para disputar o próximo Campeonato de Portugal. A Associação de Futebol de Beja ainda não o divulgou publicamente, contudo, essa confirmação, justificada pelos números aqui apresentados, já escapou para o exterior do organismo. Não será difícil, também, perceber que os clubes que participarão na próxima edição da Taça de Portugal, mantendo o critério em uso nas últimas edições, sejam o Penedo Gordo, o Serpa e, porventura, como não se realizou a Taça Distrito de Beja, possa ser indicado o atual detentor do troféu: o Milfontes.
O que aqui surpreende não é a provável indicação do Penedo Gordo para o Campeonato de Portugal, porquanto as regras estavam definidas desde novembro de 2020. Surpreende é a aceitação pelos clubes, por maioria, não por unanimidade, do cancelamento do campeonato.
A classificação real, ou seja, em função dos pontos conquistados, era a seguinte: 1.º Serpa (4 jogos) 10 pontos; 2.º Vasco da Gama (3) 7; 3.º Penedo Gordo (2) 6; 4.º Despertar (3) 3; 5.º Almodôvar (2) 3; 6.º União Serpense (2) 3; 7.º Piense (2) 3; 8.º Castrense (1) 0; 9.º Cuba (5) 0.
Na divisão secundária, as três séries eram lideradas pelo Albernoense (7 jogos) 14 pontos, São Marcos (5) 11 pontos e Renascente (6) 15 pontos. Com a aplicação do coeficiente, o Salvadense passará a ser o clube mais pontuado da Série A (2,16) em detrimento do Albernoense; já na Série B, o São Marcos (2,2) manterá o primeiro lugar, o mesmo acontecendo com a liderança, confirmada, do Renascente (2,5), na Série C. Isto significa que, sendo convidadas duas equipas para ascenderem à divisão principal, na próxima época, a vantagem está do lado do São Marcos e do Renascente. Mas isto, são meras projeções matemáticas à luz dos critérios oficiais, contudo, no futebol, “o que ontem era verdade, amanhã pode ser mentira”.