Diário do Alentejo

Milfontes quer adiar distrital: "Uma questão de confiança"

15 de outubro 2020 - 10:00

O Clube Desportivo Praia de Milfontes ainda não prepara a próxima temporada desportiva. O calendário de jogos coloca a equipa a jogar no terreno do Sporting Clube de Cuba, mas o jogo pode até não se realizar.

 

Texto e Foto Firmino Paixão

 

O Milfontes está entre os sete clubes que propuseram à Associação de Futebol de Beja (AF Beja) o adiamento do Campeonato da I Divisão, algo que os responsáveis associativos consideram improvável. Uma eventual desistência da prova fará o clube tombar para o escalão inferior. Ainda assim, o treinador Fernando Candeias garante que “não será essa hipotética despromoção” que condicionará o clube. “Pensamos pela nossa cabeça, somos um clube muito respeitado no distrito e respeitamos os nossos parceiros, Conseguimos construir esta imagem e sempre tentámos cooperar com a AF Beja”.

 

Se forem a jogo, e porque vivemos um tempo diferente, esta época, teremos também um Milfontes diferente, a lutar pelo título distrital?

Nós, ao longo destes anos, habituámo-nos a lutar pelos lugares cimeiros, mas a nossa realidade não nos permite chegar e dizer que somos candidatados ao título, porque, num campeonato de escalão superior, nem poderíamos jogar no nosso campo. Mas, se queremos ser sempre uma equipa protagonista, uma equipa audaz, ambiciosa na luta pelos lugares cimeiros? Obviamente que sim! Ao longo dos anos temos tentado dar um cunho pessoal ao campeonato, mostrando a nossa identidade, e até pensamos que isso não tem sido valorizado ou, pelo menos, não nos tem chegado esse retorno. Acreditamos que, para vencer, existem vários caminhos, mas nós acreditamos que o nosso é praticarmos bom futebol.

 

Pode entender-se que preferem andar nos lugares de topo no campeonato distrital, do que no rodapé do nacional?

Desde que eu entrei neste clube que alimento o sonho de ser campeão. Sonho mesmo que o clube seja campeão, comigo, ou sem mim, porque o trabalho que tem sido feito, não só nos seniores, como na formação, faz-nos acreditar que já isso era merecido. Mas para isso acontecer precisamos de reunir uma série de requisitos que nós, neste momento, não temos, sem querer dizer que não os consigamos. Neste momento, a subida não é uma obsessão. Naturalmente que há de chegar esse momento.

 

Já ficaram pelo caminho nesta edição da Taça de Portugal, eliminados pelo Aljustrelense…

Quando fomos a jogo, conhecíamos as dificuldades por que íamos passar. Devido a esta pandemia o clube tomou uma opção, que já comunicou à AF Beja, porque nos parece que teremos de ser coerentes não havendo condições para iniciar o campeonato. Entendemos que devíamos ir a jogo em Aljustrel por uma questão de representatividade. Foi essa a razão pela qual jogámos, depois de fazermos apenas quatro unidades de treino e após uma paragem de seis meses. Por isso, esse jogo foi uma prova cabal da qualidade dos jogadores e do trabalho que temos feito nos últimos anos, e que nos encheu de orgulho, por tudo aquilo que lá fizemos.

 

O clube revelou que jogaria em Aljustrel por respeito ao adversário e à Taça de Portugal. O campeonato distrital e os clubes que o disputam, não vos merecem o mesmo respeito?

Obviamente que merecem. As palavras podem não ter sido bem entendidas. Na minha perspetiva foi uma questão de respeito à competição, ao adversário e, sobretudo, uma questão de representatividade, não só do clube, mas da vila, do concelho e da AF Beja que também estávamos a representar. A questão é que a Taça de Portugal é uma prova completamente diferente do distrital, é uma prova a eliminar em que, teoricamente, havia uma altíssima probabilidade de sermos eliminados e, por essa questão de representatividade, fomos a jogo. O campeonato é uma competição diferente, com treinos semanais e jogos domingo a domingo. Esperamos não ter sido mal entendidos, porque temos o maior respeito pelos clubes do nosso campeonato e pela nossa associação.

 

O calendário do distrital coloca-vos a jogar em Cuba no próximo dia 18. Irão a jogo?

Essa é uma questão da responsabilidade da direção do clube, que tornará a sua posição oficial. Mas, neste momento, não estamos a treinar, para mantermos a coerência com aquilo que defendemos, que é a inexistência de condições para regressarmos à competição e eu, sinceramente, hoje, acho impossível que possamos ir jogar, porque todo o nosso plantel, equipa técnica e direção, está unido nessa ideia de tentarmos sensibilizar a estrutura associativa de que não existem condições para começar a prova. Pretendemos que seja adiada para uma altura em que tenhamos confiança de jogar sem corrermos riscos e, sem esse nível de confiança, toda a prova está inquinada. A nossa vontade é o adiamento.

 

Quando regressarem, voltarão com um plantel bastante rotinado nos automatismos e meia dúzia de reforços da vossa formação?

O nosso plantel, que já vem junto desde há dois ou três anos, é formado por um grupo de pessoas fantásticas. Temos ali uma mescla de jogadores experientes, que aprenderam a gostar do clube e de juventude que já nasceu a gostar do clube. Esta simbiose forma um grupo espetacular em termos pessoais e de atletas com muita qualidade. É uma alegria trabalhar com eles, somos uma autêntica família.

 

Num contexto de tantas indecisões, que mensagem deixa aos adeptos do Milfontes?

Que compreendam a nossa situação. O que está em cima da mesa é uma possibilidade de descermos de divisão. Mas, da mesma forma que este grupo de trabalho não está disponível, nem acredita, que haja condições para competir nesta altura, da mesma forma, tanto a equipa técnica, como muitos jogadores, já se disponibilizou para, em caso de o clube vir a ser despromovido, continuar no clube a custo zero. Sabemos a nossas responsabilidades, temos noção de estarmos entre os poucos clubes que têm todos os escalões de formação, mas estamos altamente convictos de que é preciso adiar o campeonato para nos restituir a confiança, a nós e a todos os outros, e depois, sim, iremos para um campeonato em que a verdade desportiva prevaleça.

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