Diário do Alentejo

PSD: "Não posso estar tranquilo vendo o aeroporto como garagem"

06 de setembro 2019 - 11:25

Aposta de Rui Rio para cabeça de lista por Beja, Henrique Silvestre Ferreira diz ter entrado na política devido a um "certo sentimento de abandono" do Baixo Alentejo

 

Texto Luís Godinho

 

Filho e neto de agricultores, Henrique Silvestre Ferreira, 30 anos, cresceu sob as uvas sem grainha de Vale da Rosa, é engenheiro agrónomo, formado pela Universidade de Évora, e foi um das escolhas mais inesperadas do presidente do PSD, Rui Rio, para candidato às legislativas de outubro. A distrital do PSD reuniu-se e enviou uma lista para Lisboa. Rio tinha outra opção. "Quando falei com o presidente do partido já estava decidido a aceitar este desafio, devido à existência de um certo sentimento de abandono por esta região", diz o candidato, apostado em aproveitar a campanha para "demonstrar todo o potencial" do Baixo Alentejo. "A minha vida sempre foi a agricultura, venho do mundo empresarial e entendo esta participação na política como um contributo ao Baixo Alentejo".

 

Não por acaso, foi na Feira de Atividades Culturais e Económicas do Concelho de Odemira (Faceco) que arrancou a pré-campanha social-democrata no distrito. "Fiquei com a real noção do grande potencial daquela região do Litoral Alentejano, seja ao nível do turismo ou da agricultura". A ideia, diz o candidato, é fazer uma campanha "tão próxima das pessoas quanto possível" para "tentar demonstrar que o PSD pode fazer melhor pela nossa região". "Vendo bem, isso até nem é tarefa difícil", refere Henrique Silvestre Ferreira, considerando que nos últimos quatro anos "houve um retrocesso" no investimento público realizado no Alentejo. Como exemplo recorre, uma vez mais, à agricultura: "No Governo de Pedro Passos Coelho foram dadas ordens para que o Alqueva acontecesse, para que as obras se concluíssem, e agora com o PS não houve qualquer investimento no Alqueva. Não estão a acreditar no potencial do Alentejo".

 

Segundo diz, o ministro da Agricultura, Capoulas Santos, optou pelo "populismo" ao acabar com os apoios à instalação de novos olivais superintensivos. Reconhece que é perigoso apostar "todas as fichas" numa só cultura - "as regras de mercado podem alterar-se e a cultura deixar de ser rentável, como sucedeu com o milho que estava a um preço espetacular e hoje já vale pouco" -, mas considera que ainda "há margem" para plantar mais olivais ou amendoais no perímetro de Alqueva. "Claro que o agricultor tem de ter o bom senso para num dia de vento, junto a uma escola, não tratar as suas culturas (com produtos fitossanitários). É preciso bom senso e é para isso que existe a supervisão".

 

Existindo Alqueva passou a existir disponibilidade de água. E confrontados com as dificuldades "cada vez maiores, por causa das alterações climáticas em fazer culturas de sequeiro, os agricultores optaram por investir no regadio”. Até porque, sublinha o cabeça de lista do PSD, "quem fica parado acaba por morrer". As culturas intensivas surgiram assim como "solução" para muitas explorações, mas também para o País. "Os solos só são mexidos uma vez a cada 20 anos, há mais matéria orgânica nos solos, pagamos impostos, exportamos, o PIB aumenta e damos mais dinheiro ao Estado do que se estivéssemos a fazer trigo ou culturais tradicionais".

 

Não sendo um entusiasta da regionalização - "acho que devemos pensar bem se será uma ideia a favor do Baixo Alentejo" - Henrique Silvestre Ferreira diz-se defensor da ideia de descentralização defendida por Rui Rio: "Está tudo concentrado em Évora e, sobretudo, em Lisboa. Estão lá todos os serviços. Descentralizar vai ser uma luta muito grande, mas os serviços públicos, a começar pelos do setor agrícola, têm de vir para Beja".

 

Ao contrário do deputado socialista Pedro do Carmo, que em entrevista ao "Diário do Alentejo" disse estar de "consciência tranquila" pelo trabalho feito nos últimos quatro anos, o candidato social-democrata diz-se "intranquilo" quando olha para o "desinvestimento na saúde" ou nas infraestruturas ferroviárias. "Não posso estar de consciência tranquila vendo o aeroporto de Beja sem destino, transformado numa garagem de aviões, ou quando vejo a ampliação do perímetro de rega de Alqueva completamente parada".

 

"O meu objetivo é puxar mais pelo nosso distrito", assegura Henrique Silvestre Ferreira, garantindo que não vem ao debate político "para dizer que está tudo mal". A cedência de terreno pela Câmara de Beja à Farfruit para construção de uma unidade de transformação de fruta e outra de embalamento é um dos casos que faz questão de elogiar, partindo deste exemplo para defender a necessidade de "mais apoios" à instalação de empresas agroindustriais. "Não faz sentido um agricultor alentejano estar a produzir brócolos e ter de pagar um transporte de 200 quilómetros até Santarém, onde existe uma fábrica de transformação". Também aqui, refere, os olivais e amendoais dão o exemplo: "Basta ver os lagares que foram construídos, gerando novos postos de trabalho".

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