Diário do Alentejo

Hospital privado

19 de setembro 2025 - 08:00
Com os trabalhos preparatórios já no terreno, nova unidade hospitalar vai ser apresentada no dia 22

No próximo dia 22, segunda-feira, será apresentado o projeto do novo cluster de saúde privada que vai nascer em Beja. Segundo o comunicado enviado à redação do “Diário do Alentejo” (“DA”), a “BBT Investimentos, proprietária da rede hospitalar Sanfil Medicina [com três hospitais e seis clínicas em Coimbra, Leiria, Alcobaça, Cantanhede, Lousã e Pombal], das unidades de cuidados assistenciais GEHC [Global Health Company] e de outros interesses na área imobiliária, vai apresentar o seu Plano de Desenvolvimento 2025-2028 num evento nacional que ligará, em direto, via streaming, Lisboa a Beja, Coimbra e Leiria”.

 

Texto Marco Monteiro Cândido Foto Ricardo Zambujo

 

Segundo o documento, o complexo de saúde privado que vai nascer em Beja terá “mais de 8820 metros quadrados de construção, inserido num terreno de 23 500 metros quadrados”. Refere ainda que o projeto a implementar contempla unidade hospitalar, unidade de cuidados continuados (UCC) e unidade de cuidados paliativos (UCP); bloco operatório com duas salas; 100 camas – 30 médico-cirúrgicas e 80 de UCC/UCP; 48 consultórios e salas de exame; 19 boxes de fisioterapia; 204 lugares de estacionamento. “Este investimento representa um marco estratégico na cobertura de cuidados de saúde no interior do País e dota a região do Baixo Alentejo com a primeira unidade hospitalar de âmbito privado”.

No momento em que o espaço de implementação do projeto, junto ao Complexo Desportivo do Bairro da Conceição, em Beja, está a ser limpo e preparado para a instalação do estaleiro da obra, o evento de apresentação é o culminar de um processo de alguns anos, que, finalmente, começa a conhecer desenvolvimentos no terreno.

 

As fases do processo

 

Em declarações ao “DA”, o presidente da Câmara Municipal de Beja (CMB), Paulo Arsénio, começa por lembrar que o primeiro contacto com a autarquia para a construção do, na ocasião, Hospital Privado do Alentejo terá sido no verão de 2018. “Este processo começou na primeira metade do primeiro mandato, com um interesse demonstrado por um promotor em criar e instalar uma unidade com estas características no município de Beja. O que nós fizemos foi procurar um terreno que o município pudesse disponibilizar para efeitos de concurso público para que unidades com essas características, a que manifestou o interesse ou outra, pudessem desenvolver uma atividade de média dimensão no ramo privado da área da saúde. Dentro dessa lógica, encontrámos um terreno que cumpria os requisitos necessários (…) – também não foi muito fácil, mas conseguiu-se – e lançámos um concurso público para efeitos de atribuição desse lote”.

No ano seguinte, a 4 de fevereiro de 2019, a CMB assinaria o contrato-promessa de compra e venda do referido terreno. Na ocasião estimava-se que o investimento seria na ordem dos 20 milhões de euros e que a infraestrutura criasse, aproximadamente, 200 postos de trabalho, prevendo-se a sua entrada em funcionamento no ano de 2022.

Um ano passou e a 14 de fevereiro de 2020 a autarquia assinaria a escritura pública de compra e venda do referido lote de terreno com o Hospital Privado do Alentejo, por 301 mil euros (já havia recebido 10 por cento do valor anteriormente). Nessa altura, o grupo promotor do hospital teria 365 dias para apresentar os projetos de arquitetura e de especialidades dos edifícios previstos.

“Digamos que a primeira data marcante acaba por ser o dia 14 de fevereiro de 2020, quando foi escriturado, com o consórcio vencedor do concurso, o lote para efeito de instalação da unidade. Do ponto de vista cronológico, feita toda a fase prévia, digamos que o tempo oficial começa a contar em fevereiro de 2020. A partir daí, o principal promotor do grupo vencedor do concurso, por estar a desenvolver um projeto no arquipélago dos Açores que não teve o devido financiamento esperado, acabou por fazer a transmissão do grupo proprietário a um segundo grupo, que, por sua vez, procurou também soluções de financiamento para construir a unidade durante alguns anos e não foi bem-sucedido nesse desidrato. Não só não o foi, como nunca chegou a apresentar junto da CMB qualquer projeto de arquitetura ou de especialidades. Entretanto, houve a transmissão a terceiros promotores. Aí é que as coisas, de facto, marcaram passo durante algum tempo e foi uma altura em que a CMB, e o executivo em permanência, ponderou seriamente poder reverter o terreno aquando da desistência do segundo grupo e de passagem a um terceiro grupo de promotores face aos concorrentes iniciais”.

A certa altura, segundo Paulo Arsénio, o executivo em permanência da autarquia ficou, “naturalmente, na dúvida se havia capacidade ou não de instalar uma unidade de saúde privada de média dimensão em Beja”, até porque o segundo grupo, “durante vários anos, procurou financiamento (…)”, não o tendo conseguido, “nem na banca, nem junto dos promotores estrangeiros que consultou”. “Não havendo [a capacidade de instalação], só teria de haver o assumir por parte dos promotores (…) de dizerem ao município que não conseguiriam (…), que nós procederíamos à reversão imediata do terreno”, disponibilizando-o “para outros efeitos necessários no município de Beja, não necessariamente uma unidade de saúde privada”.

 

Os promotores atuais

 

Ao longo deste processo de transmissão entre promotores do projeto, a autarquia ia tendo conhecimento disso mesmo, segundo Paulo Arsénio, até que o grupo Sanfil Medicina, a “face visível”, na área da saúde, da BBT Investimentos, “apresentou primeiro um esboço, depois os respetivos projetos e, no dia 1 de agosto de 2025 (…), pagou todas as taxas que eram devidas ao município de Beja e procedeu ao levantamento das respetivas licenças. Objetivamente, desde o dia 1 de agosto está autorizado a iniciar a construção, uma vez que todos os projetos que apresentou foram aprovados pelo município”.

Segundo a informação disponibilizada pela própria entidade, “a BBT Investimentos é uma holding nacional de referência no setor da saúde, detentora de diversas marcas e subholdings, entre as quais a rede hospitalar Sanfil Medicina e as unidades de cuidados assistenciais GEHC, com foco na inovação em saúde, proximidade às comunidades e soluções clínicas e assistenciais de excelência”. Acrescenta ainda que, “paralelamente, a BBT incorpora também a GPI – Gestão de Ativos, holding dedicada à gestão e implementação de ativos imobiliários na área da saúde. É através desta estrutura que a empresa está a concretizar a implementação das novas unidades”, nomeadamente, em Coimbra e Leiria, para além de Beja.

No que diz respeito ao projeto em si, o atual promotor, mas também o anterior, teria em mente uma ligação direta da rotunda de Serpa à unidade de saúde. No entanto, refere Paulo Arsénio, tal não foi autorizado pela Infraestruturas de Portugal (IP). “Aquela rotunda está, digamos, sobrecarregada, com a unidade comercial, o acesso ao bairro da Esperança, a saída para Serpa, a continuação ao longo da Estada Nacional (EN) 260 em direção à rotunda da Força Aérea Portuguesa e também a entrada em Beja pela rua Dom Afonso III. E, portanto, a IP entende que a rotunda não tem dimensão, nem capacidade, para absorver e ser ali construída mais uma entrada/saída”. Assim, a entrada da unidade será feita junto ao Complexo Desportivo do Bairro da Conceição, exatamente no lado oposto ao pretendido inicialmente. O que não invalida uma outra solução no futuro. “O que também está previsto a médio prazo – e a CMB tem vindo a trabalhar com a IP nesse sentido – é a requalificação profunda da EN260 e quando a mesma for feita, em direção a Serpa e a Ficalho, e a Espanha, eventualmente, aquela rotunda poder ter uma configuração diferente da atual, [para] que possa ou não incluir novas entradas na mesma”.

 

A importância para o território

 

Refere o presidente da CMB que o surgimento de um hospital privado na cidade é “muito importante”, sublinhado, no entanto, a “importância extrema” para o território e para a população do Serviço Nacional de Saúde (SNS), nomeadamente, do Hospital José Joaquim Fernandes. “Ao não termos qualquer unidade privada, ter uma que possa complementar em termos de serviço o serviço público, pode eventualmente – são apenas possibilidades e expectativas, não são certezas – atrair médicos especialistas que até agora não concorriam para Beja. Com uma unidade destas características podem concorrer para o SNS, para Beja, para o hospital, mas também fazer privado. O nosso problema não é o excesso, o nosso problema era não termos – e não temos ainda – qualquer unidade com estas características”.

Paralelamente, Paulo Arsénio refere que a possibilidade de muitos utentes do concelho, mas também dos concelhos limítrofes, poderem fazer exames protocolados em Beja, ao invés de se deslocarem a outros sítios, poderá significar uma poupança em termos de distância e tempo para os mesmos. Em simultâneo, refere que “poderá também aliviar serviços sobrecarregados, aliviar um pouco o SNS, que, em Beja, neste momento, é a única resposta existente”.

O “DA” tentou obter mais esclarecimentos e pormenores sobre o projeto do novo hospital privado junto dos promotores, não obtendo resposta até ao fecho da presente edição.

 

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