Diário do Alentejo

“O som dos Jogos Olímpicos foi concebido em Ficalho”

01 de setembro 2025 - 08:00
Empresa OBS, com laboratório na aldeia alentejana, distinguida com Emmy
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Nuno Caeiro Duarte, 53 anos, natural de Lisboa

 

Com mais de 30 anos de experiência em televisão e, desde 2000, em contexto internacional, liderou equipas em alguns dos maiores eventos desportivos do mundo, incluindo Jogos Olímpicos. Reconhecido pela inovação no som imersivo, conquistou prémios que distinguem o seu percurso. Desenvolve toda a sua atividade a partir de Vila Verde de Ficalho (Serpa), onde tem raízes familiares, mantendo fortes ligações à terra e à comunidade.

 

O Sports Emmy Award, o mais prestigiante prémio atribuído a programas e profissionais de televisão pela Academia Americana de Televisão — considerado o equivalente aos Óscares do cinema — foi entregue a nível mundial, na categoria de “Melhor Som em Evento Livre de Televisão”, a Nuno Caeiro Duarte. O galardão, de caráter individual, distingue o trabalho desenvolvido ao serviço da OBS – Olympic Broadcasting Services, empresa do Comité Olímpico Internacional responsável pela transmissão televisiva dos Jogos Olímpicos para todos os canais do mundo.

 

Foi distinguido nos Emmy, neste ano, pela excelência do som, concebido pela OBS, para os Jogos Olímpicos Paris 2024. Quais as características que permitiram que o som televisivo, “construído” por si e pela sua equipa, fosse distinguido com tão importante galardão?A grande diferença esteve na forma como conseguimos transportar os telespectadores “para dentro” dos Jogos Olímpicos. Criámos um som imersivo em três dimensões, que envolve quem assiste e o faz sentir-se dentro do acontecimento — não só a ouvir a ação principal, mas também o ambiente, o público e as emoções que rodeiam cada momento. Essa experiência única, aliada ao rigor técnico e à inovação, permitiu que o trabalho da OBS, desenvolvido por mim e pela minha equipa, fosse distinguido.

 

Tem laboratório em Vila Verde de Ficalho. Podemos dizer que o som televisivo ouvido por muitos milhões de pessoas é concebido a partir desta vila alentejana? Quando aconteceu o confinamento da covid-19, estávamos em plena preparação dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Com o seu adiamento, fomos obrigados a mais um ano de preparação e ajustes, mas confinados. Nessa altura decidi mudar-me, de malas e bagagens (e laboratório e equipamentos de som), desde Madrid, onde vivia, para a minha casa em Ficalho, onde poderia continuar a minha atividade. A verdade é que o som e as inovações de som para os Jogos Olímpicos de Tóquio, os de Inverno de Pequim e Paris 2024, foram concebidos em Ficalho.

 

Quais as vantagens de ter o seu laboratório sediado em Ficalho e quais as principais dificuldades sentidas?Serpa revelou-se um local de grande potencial. Aqui encontramos condições que permitem desenvolvimento tecnológico com futuro, por motivos socioculturais, geográficos e económicos. É possível ter uma equipa de alta tecnologia em Serpa, oferecendo serviços de elevada qualidade a preços mais acessíveis que nas grandes cidades. As principais dificuldades prendem-se com os serviços de Internet, ainda muito deficientes. Neste momento, estamos há mais de quatro meses à espera da instalação de fibra no novo espaço, em Vila Verde de Ficalho, algo crítico para a nossa atividade. Também sentimos a falta de ligação a entidades como o politécnico [de Beja] e outras instituições locais, que ainda não veem nas tecnologias de informação e media uma opção real para inverter a desertificação e fixar população através de investimentos relativamente baixos. José Serrano

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