Diário do Alentejo

Meios aéreos de combate aos incêndios: PS e PSD continuam a trocar acusações

04 de julho 2025 - 16:00
Ourique conta já, ainda que de forma temporária, com um helicóptero bombardeiro pesado Foto | CMMoura

PS e PSD continuam a trocar acusações relativamente ao atraso na colocação de dois meios aéreos para combate aos incêndios rurais nos concelhos de Moura e Ourique. Os autarcas dos 13 municípios que integram a Cimbal também já se manifestaram e reivindicam a disponibilização dos dois helicópteros bombardeiros ligeiros “o mais urgente possível”.

 

Texto | Nélia Pedrosa

A falta de meios aéreos para combate aos incêndios rurais nos concelhos de Moura e Ourique tem motivado, nas duas últimas semanas, uma troca de acusações entre o PS e o PSD. Recorde-se que, conforme noticiou o “Diário do Alentejo” na edição passada, a colocação de dois helicópteros bombardeiros ligeiros nos centros de meios aéreos (CMA) dos referidos concelhos estava prevista para o dia 1 de junho, no âmbito do Dispositivo Especial de Combate a Incêndios Rurais (Decir) de 2025. O atraso, segundo a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil (Anepc), deveu-se ao facto de o concurso ter ficado deserto. A Força Aérea (FAP) já abriu um novo concurso internacional.

Entretanto, no sábado, 28 de junho, foi colocado no CMA de Ourique um helicóptero bombardeiro pesado que, “embora esteja apenas de forma temporária”, representa, segundo o presidente da câmara municipal, “um reforço importante na resposta aos incêndios florestais, num período particularmente sensível”. Numa nota publicada nesse dia nas suas redes sociais, Marcelo Guerreiro sublinhou que “a vinda” do helicóptero “resulta do conjunto de diligências feitas pelo município de Ourique em conjunto com os Bombeiros Voluntários de Ourique e os comandos regional e sub-regional junto da Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil, exigindo respostas, mas estando sempre ao lado das soluções”. E concluía: “Sabemos que não é a aeronave ideal – precisávamos de um helicóptero ligeiro ou médio mais ágil e mais rápido, preparado para o ataque inicial, essencial para conter os incêndios nos primeiros momentos. Ainda assim, é melhor do que nada”.

Ainda nesse dia, o deputado do PSD eleito pelo círculo de Beja, Gonçalo Valente, também numa nota publicada nas suas redes sociais, sublinhava que “foram vários dias de muito trabalho e de entrega para que fosse encontrada uma solução para um problema que não foi criado pelo Governo”. “Ficámos com um meio aéreo dotado de maior capacidade de combate, um Kamov, e de forma permanente durante todo o período crítico de verão. O trabalho vale a pena”.

Entretanto, a Federação do Partido Socialista, em resposta às declarações do deputado, em nota de imprensa enviada na segunda-feira, repudia “a soberba do posicionamento do porta-voz da distrital do PSD e deputado eleito pela AD em torno das questões relacionadas com os meios aéreos de combate inicial a incêndios”. Os socialistas consideram que “é confrangedor” assistir “a um vídeo e aos vários escritos” em que Gonçalo Valente “surge como o salvador disto tudo, relatando que foi a sua exclusiva ação que determinou a disponibilização, ainda que tardia, de um meio aéreo em Ourique, ignorando o papel reivindicativo dos autarcas, das corporações de bombeiros e da proteção civil”. E frisa que, em “nenhum momento”, o deputado “explica o atraso neste processo” e, em “nenhum momento”, faz “referência à ausência de um segundo meio aéreo que deveria estar disponível e em prontidão absoluta na margem esquerda da região, nomeadamente, em Moura”.

“Aquilo que urge saber, a acreditar que a solução para Ourique só foi encontrada com a intervenção e o empenho do senhor porta-voz e deputado, será: por que motivo não se empenhou também na exigência de um segundo meio para Moura? Será que o senhor porta-voz e deputado está verdadeiramente empenhado na defesa do Baixo Alentejo ou será que já está a preparar-se para outra missão política no âmbito autárquico, ‘jogando às urtigas’ o seu compromisso para com os eleitores da região?”, conclui.

 

Deputado do PSD refuta acusações Já na terça-feira, dia 1, também em comunicado de imprensa, o deputado do PSD afirma que “os socialistas ainda não se habituaram ao ritmo que este Governo imprimiu na resolução dos problemas que eles causaram” e que já perceberam, pela AD, “que o Baixo Alentejo pode ser muito mais do que a estrada para o Algarve”. Refuta, ainda, que tenha dito que foi a sua “exclusiva ação que determinou a disponibilização do meio aéreo [em Ourique]” e garante que foi eleito “para pugnar pelos interesses” da região, não “para ser subserviente” ao seu partido.

Gonçalo Valente afirma, também, que não tem qualquer dúvida de que “as corporações de bombeiros e a proteção civil mostraram as suas preocupações” e lembra que explicou, tanto nas redes sociais, como nos meios de comunicação, as razões da inexistência de meios aéreos em Ourique e Moura. “Nos últimos anos, por várias vezes, os governos socialistas, por opção política, não quiseram colocar aqui meios aéreos. O Governo socialista simplesmente entendeu roubar-nos os meios para os colocar noutros lados. Agora foi por não haver interessados”, reforça, assegurando que se empenhou de “igual forma em Ourique e Moura, contudo, porque nesta fase só podíamos recolocar um meio nesta região, ouvidas as autoridades todas, por uma questão de centralidade, foi considerado que Ourique era onde fazia mais sentido”.

E a concluir, respondendo às acusações do PS relativamente às Autárquicas, afirma: “Sou de Ourique, amo Ourique e estarei sempre disponível para os ouriquenses, seja em que função ou circunstância for”.

 

Autarcas do distrito de Bejareivindicam colocação de helicópteros

Também na segunda-feira, dia 1, os autarcas dos 13 municípios que integram a Comunidade Intermunicipal do Baixo Alentejo (Cimbal) reivindicaram a colocação dos helicópteros bombardeiros ligeiros em Moura e Ourique. Em nota de imprensa, a Cimbal adianta que “considerando a área geográfica de abrangência, as consideráveis distâncias entre os corpos de bombeiros voluntários, as áreas florestais/rurais do território, com especial incidência nas de proteção especial em termos ambientais e de preservação de biodiversidade, e também o facto da acumulação de muita matéria combustível, devido às chuvas tardias do corrente ano, a designada primeira intervenção torna-se absolutamente fundamental para precaver a propagação dos incêndios, de forma a evitar o colocar em perigo pessoas e bens”. E é “precisamente nesta primeira intervenção”, acrescenta, “que estes helicópteros ligeiros são essenciais, devido à célere mobilização, à facilidade da sua operação e à rapidez com que podem chegar à ocorrência”.  Os autarcas sublinham, ainda, que o bombardeiro pesado posicionado, provisoriamente, em Ourique, “tem características e operacionalização totalmente distintas”, e que os helicópteros ligeiros “funcionam, de forma eficaz, como meios de ataque inicial evitando a propagação dos incêndios, quando ativados de forma célere e chegando ao evento, ainda numa fase inicial do mesmo”. “O bombardeiro pesado necessita de um considerável período de tempo (entre 30 a 40 minutos) para poder levantar voo e é também importante, mas numa fase posterior do ataque ao incêndio”, consideram. Referindo que, “comparativamente, com os anos anteriores o número de ocorrências não conheceu grande aumento”, a Cimbal sublinha, contudo, que “a área ardida nos 13 concelhos do Baixo Alentejo já ultrapassa os 700 hectares, muito superior ao mesmo período dos últimos anos” [neste número não estarão contabilizados os 1000 hectares ardidos, na segunda-feira passada, no concelho de Aljustrel]. E considerando “que é a Autoridade Nacional de Emergência e Proteção Civil a entidade responsável pela distribuição dos meios no território e perante os argumentos aduzidos”, os autarcas “exortam os seus responsáveis máximos a disponibilizarem os dois helicópteros bombardeiros ligeiros (…) o mais urgente possível”.

Comentários