Em 2024 havia 354 linces-ibéricos no Vale do Guadiana, mais 63 exemplares do que no ano anterior. Em 2019, ano em que se começa a fazer o seguimento das suas populações, eram 107 exemplares. O lince-ibérico deixou de ser considerado, em 2024, uma espécie “em perigo” de extinção a nível ibérico, passando a ter uma classificação de “vulnerável”.
Texto Nélia Pedrosa
Em 2024 foram recenseados 2401 exemplares de lince-ibérico (Lynx pardinus), 354 dos quais em território nacional, no único núcleo de reprodução situado no sudoeste do País, no Vale do Guadiana (14,7 por cento) – subdividido em dois subnúcleos, um no Baixo Alentejo e outro no Algarve –, e 2047 (85,3 por cento) em Espanha. Destes 2401, 1557 são adultos ou subadultos e 844 são crias nascidas em liberdade.
No que ao Vale do Guadiana diz respeito, dos 354 exemplares, 244 foram identificados como tratando-se de indivíduos adultos ou subadultos (sendo 67 fêmeas reprodutoras) e 110 crias nascidas no referido ano. Comparativamente a 2023, o Vale do Guadiana registou um aumento de 63 exemplares (+ 21,6 por cento), dos quais 53 adultos e imaturos (sendo 14 fêmeas reprodutoras) e 10 crias.
No total da Península Ibérica, em relação a 2023, registaram-se mais 380 exemplares, o que representa um aumento de 18,8 por cento.
Os dados são avançados pelo Censo de Lince-Ibérico 2024, que adianta, ainda, que em comparação com 2019, “desde que se realiza um seguimento das suas populações”, se registou um aumento de 280 por cento na Península Ibérica, o que representa “um novo máximo”. No caso do Vale do Guadiana, esse aumento, em cinco anos, foi de 230 por cento – passou de 107 exemplares em 2019 para 354 em 2024.
De acordo com o mesmo documento, que foi elaborado pelo Grupo de Trabalho do Lince- -Ibérico, que coordena este tema no âmbito do ministério espanhol para a Transição Ecológica e o Desafio Demográfico (Miteco), “o número de fêmeas reprodutoras ou territoriais em 2024 ascende a 470, mais 64 do que em 2023, mantendo assim a tendência de aproximação às 750 fêmeas reprodutoras que se estabeleceu como um dos objetivos demográficos a alcançar para considerar que o lince se encontrará num estado de conservação favorável”. Os números fornecidos pelos censos determinaram uma produtividade de crias nascidas/fêmea territorial de 1,8 no cômputo global de Espanha, enquanto dos resultados de Portugal se cifram em 1,6 crias/fêmea territorial. A proporção entre machos/fêmeas, adulto(a)s e imaturo(a)s, no seu conjunto, recenseados e com sexo identificado, resultou no valor de 1,0 aproximadamente, com um ligeiro acréscimo de machos (708 machos/706 fêmeas).
A “expansão territorial do lince também prosseguiu em 2024, com um total de 17 núcleos com reprodução confirmada e 22 núcleos com presença estável”. Já a reprodução em cativeiro “permitiu a libertação de 403 linces nascidos em cativeiro desde 2011 até 2024. Em 2025 soltaram-se mais 21 linces nascidos ainda em 2024, elevando para 424 o total de linces nascidos em cativeiro e libertados na Península Ibérica”.
Os responsáveis sublinham que os resultados “mostram que a recuperação da população de lince-ibérico na Península Ibérica constitui um dos melhores exemplos de ações de conservação de espécie ameaçadas no mundo, só possível graças aos esforços continuados das administrações públicas competentes, de entidades setoriais interessadas, proprietários e gestores de herdades privadas e pela sociedade em geral” e que a “contribuição financeira das administrações espanholas e portuguesa e da União Europeia, através do programa LIFE, constituíram condições chave para a execução dos trabalhos de seguimento e investigação e para a melhoria das taxas de sobrevivência, reprodução e reabilitação do habitat”.
O lince-ibérico deixou de ser considerado, em 2024, uma espécie “Em perigo” de extinção a nível ibérico pela União Internacional para a Conservação da Natureza (UICN), passando a ter uma classificação de “Vulnerável” na Lista Vermelha de Espécies Ameaçadas.
O referido Grupo de Trabalho do Lince-Ibérico é composto por representantes das comunidades autónomas de Espanha e do Instituto da Conservação da Natureza e das Florestas (ICNF) de Portugal, que gere o centro português de reprodução situado em Silves.
Em 2024 morreram 12 linces, mais três do que em 2023
Os dados avançados pelo Censo de Lince-Ibérico 2024 indicam, ainda, que durante o referido ano registaram-se 12 mortes de exemplares de lince-ibérico no Vale do Guadiana, 10 por atropelamentos em estradas/vias e dois por outras causas. Comparativamente a 2023, morreram mais três exemplares. Em termos da Península Ibérica, registou-se, no ano passado, um total de 214 mortes, das quais 75,7 por cento (162) foram causadas por atropelamento em estradas e outras vias rodoviárias, 7,9 por cento (17) por doenças/patologias como a leucemia felina ou parvovírus felino e 16,3 por cento (35) devido a outras causas. De entre o conjunto de outras causas de morte, é de salientar “o registo de uma maior incidência devida a disparos ou perseguição ilegal”, seguida dos traumatismos. Em 2023 tinham sido registadas 189 mortes na Península Ibérica, sendo 144 por atropelamento em autoestradas, vias rápidas e estradas, 10 por doença e 35 por outras causas (aqui com destaque para “lutas com outros linces”.