Em 2024 manteve-se a tendência para o aumento da área ocupada pelas culturas permanentes nos cerca de 130 mil hectares de regadio no Empreendimento de Fins Múltiplos de Alqueva (EFMA). A conclusão é da Empresa de Desenvolvimento e Infraestruturas do Alqueva (EDIA) e vem relatado na 10.ª edição do anuário agrícola divulgado recentemente.
Texto | Aníbal FernandesFoto | Ricardo Zambujo
Nos últimos oito anos a área ocupada por culturas anuais no EFMA manteve-se praticamente ao mesmo nível (19 504 hectares em 2017, 19 508 em 2024). Já o território ocupado pelas culturas permanentes mais do que duplicou, de 42 837 para 97 053 hectares, no mesmo período. Em termos percentuais, o peso das culturas permanentes é, agora, de 83 por cento, e, o das anuais de 17 por cento, quando em 2017 eram de 69 e 31 por cento, respetivamente.
Segundo o Anuário Agrícola do Alqueva, nas culturas permanentes destaca-se “o aumento da área de olival e a estagnação/ligeira diminuição da área do amendoal”, em consequência do aumento de preços no mercado mundial do azeite, o que tem levado a uma “substituição de áreas ocupadas por amendoal para olival, muitas vezes sem a amortização completa dos investimentos”.
No caso do olival, a área ocupada passou dos 39 403 hectares, em 2017, para 74 059, em 2024, sendo 62 por cento investimento português e 32 por cento espanhol; já no amendoal assistiu-se a uma pequena retração, passando dos 23 859 hectares para 23 563, sendo o investimento repartido por Portugal (42 por cento), Espanha (30 por cento) e EUA (11 por cento).O olival continua, assim, a ser “a cultura mais representativa e reconhecida na região, consolidando o Alentejo como um dos principais produtores de azeite a nível mundial”. Apesar deste cenário, a EDIA afirma que “o perímetro de rega de Alqueva tem vindo a diversificar-se”, uma vez que “as condições de solo e clima favorecem a produção de outras culturas permanentes, como o amendoal, a vinha e outros frutos secos, bem como a introdução de fruticultura intensiva, nomeadamente, citrinos e romãzeiras”.
A opção pelas culturas permanentes deve-se, “em grande parte, à estabilidade económica (…) que apresentam maior rentabilidade a longo prazo e menor volatilidade de preços”, para além destas culturas serem “mais eficientes na utilização da água, um recurso essencial e limitado na região”, lê-se no anuário.
Esta tendência não invalida que as culturas anuais continuem a desempenhar um papel importante na rotação de culturas, “contribuindo para a sustentabilidade do solo e para a diversificação do risco agrícola”. É o caso de culturas como “o milho, o trigo duro, as hortícolas e as leguminosas que se mantem como escolhas viáveis para muitos agricultores”.
A primeira fase do EFMA foi concluída em 2017 e abrange cerca de 120 mil hectares de regadio. A segunda fase, atualmente a avançar, disponibilizará mais 35 mil hectares – 10 mil dos quais já estão em exploração – e inclui os perímetros de rega de Évora e Cuba-Odivelas, inaugurados em 2021, e de Viana do Alentejo, que entrou em funcionamento em 2022. O EFMA abrange uma área de influência direta que se estende por 20 concelhos nos distritos de Beja, Évora, Setúbal e Portalegre.
Culturas intercalares No ano passado, a Política Agrícola Comum (PAC) introduziu uma nova tipologia de cultura anual, cujo objetivo passa por garantir “a sustentabilidade ambiental, a segurança alimentar e o desenvolvimento rural, estabelecendo um novo paradigma na gestão agrícola”.
Segundo o anuário, esta prática agrícola visa “melhorar a gestão do solo, reduzir a erosão, aumentar a biodiversidade e contribuir para a mitigação das alterações climáticas. Ao promover a ocupação contínua do solo, as culturas intercalares evitam períodos de pousio prolongados, que podem levar à degradação do solo e à perda de nutrientes essenciais”.
“Estas culturas consistem na produção de plantas entre duas culturas principais, maximizando a utilização do solo ao longo do ano. A sua implementação envolve a utilização de leguminosas, gramíneas ou outras plantas de cobertura, que protegem o solo da erosão causada pelo vento e pela água. Além disso, ajudam a reduzir o uso de fertilizantes sintéticos, uma vez que fixam azoto de forma natural, melhorando a saúde e a estrutura do solo”, explica o documento. Nos perímetros de rega de Alqueva, foram inscritos, em 2024, cerca de 350 hectares de culturas intercalares.
Menos searas Ao contrário do olival, a área dedicada aos cereais continua a diminuir na última década. No Alentejo a área semeada é de 67 mil hectares, no total, o que representa uma redução de 80 mil hectares neste período. Segundo o Anuário Agrícola do Alqueva, “esta queda acentuada pode ser atribuída a vários fatores, incluindo a baixa rentabilidade económica das culturas cerealíferas face a outras culturas de maior valor acrescentado, como o olival, o amendoal e as frutícolas intensivas, que se têm expandido rapidamente na área de influência de Alqueva”.
Apesar disso, os cereais de regadio “continuam a manter alguma relevância na região, com destaque para o milho, que ocupa atualmente uma posição relevante – apesar da redução de área no EFMA que passou de 7012 hectares, em 2023, para 4862, no ano passado. “O milho, enquanto cultura anual mais importante, beneficia da disponibilidade de água e das condições climáticas favoráveis proporcionadas pelo projeto Alqueva, continuando a ser uma escolha estratégica para muitos agricultores do EFMA”, conclui a EDIA.
No que diz respeito às diferentes espécies de cereais (excluindo o milho), em 2024 ocupavam 3521 hectares assim repartidos: aveia (237), cevada (1738), trigo duro (459), trigo mole (744) e triticale (373), um aumento de 6,5 por cento em relação a 2023.
Frutícolas Também a cultura de frutícolas assistiu a um ligeiro, mas consistente, aumento da área ocupada. Em 2017 eram 1390 os hectares ocupados; em 2023, 2222 hectares; em 2024, 2303 hectares.
Este desempenho fica a dever-se à “garantia de água de Alqueva”, uma vez que “a região ganha características ótimas para a sua produção, enquanto suprir as necessidades nacionais de fruta se torna numa oportunidade para os produtores/investidores da nossa região”.
É o caso da FairFruit (produção de prunóideas, e detentora da central frutícola em Beja); Vergers du Soleil (uva de mesa, central frutícola em Serpa); Vale da Rosa (uva de mesa); Herdade do Penique Grupo Luís Vicente (pomóideas e prunóideas); Grupo Gerónimo Martins (uva de mesa); Marmoagro (citrinos); Investimento francês (citrinos). No entanto, o desafio está no desenvolvimento da exportação que, “no caso de frutos frescos, depende em larga medida da existência de redes logísticas estabelecidas”. Para fazer face à concorrência estrangeira, o caminho passa “pela produção de produtos diferenciados ou fora da época normal de mercado, por forma a proceder à sua valorização”.
Vinha desce Após um longo período de crescimento da área de vinha, entre 2013 e 2023 – com pequenos recuos em 2017 –, neste ano voltou a verificar-se “uma redução de aproximadamente 370 hectares”, que “poderá estar associada a diversos fatores, como alterações nas dinâmicas de mercado ou a preferência por culturas mais rentáveis, como o olival e amendoal”.