Diário do Alentejo

“Contributos éticos e científicos” em cuidados intensivos de adultos

01 de março 2025 - 08:00
Enfermeiro João Vieira com nota máxima em tese de doutoramento

João Vieira, 41 anos, natural de Vidigueira

 

É professor do Instituto Politécnico de Beja, licenciado em Enfermagem (IPBeja), pós--licenciado em Enfermagem de Reabilitação e mestre em Enfermagem (Universidade de Évora), pós-graduado em Gestão em Saúde (Instituto Politécnico de Portalegre) e investigador do Ethics4Care (Centro de Investigação Interdisciplinar em Saúde).

 

João Vieira concluiu, recentemente, com a nota máxima de 20 valores, o doutoramento na Faculdade de Ciências da Saúde e Enfermagem da Universidade Católica Portuguesa, com a tese “Futilidade terapêutica em enfermagem em cuidados intensivos de adultos”.

 

O que o motivou a realizar este doutoramento que investiga acerca da prática da enfermagem em cuidados intensivos?

Desde a fase inicial da experiência profissional que as questões relacionadas com os cuidados que visam o prolongamento da vida da pessoa em situação crítica se tornaram num foco de interesse. Desde o primeiro contacto com esta problemática, que num entendimento de então se associava exclusivamente à ausência de benefício, que se promoveu o estudo sobre este fenómeno, ainda que só com o doutoramento se tenha iniciado a investigação. Os motivos que justificam este interesse podem incluir-se em vários domínios, embora se saliente o interesse na identificação das intervenções desprovidas de benefício, fúteis, e na repercussão que a sua implementação poderia ter na pessoa e na família.

 

Quais as principais conclusões a que chegou nesta sua tese?

Esta investigação teve três objetivos centrais, particularmente, descrever as perceções que os enfermeiros peritos em cuidados intensivos de adultos têm sobre “futilidade terapêutica em enfermagem”, construir esse conceito e identificar as intervenções terapêuticas fúteis de enfermagem implementadas em cuidados intensivos de adultos na perceção dos enfermeiros. Na fase qualitativa foi possível compreender que mesmo sem um conceito específico e universal, os enfermeiros percecionam a existência deste fenómeno. A fase quantitativa confirmou que os enfermeiros percecionam mais frequentemente a futilidade das intervenções de enfermagem interdependentes, intervenções prescritas por outros profissionais que são implementadas pelos enfermeiros, quando comparada com perceção de futilidade das intervenções de enfermagem autónomas, que são prescritas e implementadas pelos enfermeiros e são da sua exclusiva responsabilidade. As três intervenções menos percecionadas como fúteis incluem o controlo não farmacológico da dor, a transmissão de informações entre profissionais e o suporte terapêutico à pessoa e à família.

 

Pode este estudo vir a influenciar a implementação de novos planos de ação de enfermagem?

Espera-se que este estudo contribua para o conhecimento sobre as intervenções terapêuticas fúteis a pessoas em situação crítica admitidas em cuidados intensivos de adultos, viabilizando uma reflexão antecipada e sistemática sobre a sua implementação. Adicionalmente assume-se o desejo de contribuir para o progresso da ética de enfermagem e de oferecer contributos éticos e científicos para a clarificação dos enfermeiros de cuidados intensivos de adultos sobre a “futilidade terapêutica” das suas intervenções que suportem as suas decisões e que lhes permitam assumir a responsabilidade moral pela sua resolução.

José Serrano

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