Diário do Alentejo

Futebol: Polémica no arranque do Distrital de Beja

16 de outubro 2020 - 17:00

O Campeonato Distrital da I Divisão da Associação de Futebol de Beja tem o seu início marcado para o próximo domingo, 18 de outubro, pelas 16:00 horas, com um calendário inicial composto por meia dúzia de jogos. Alguns poderão não se realizar.

 

Texto Firmino Paixão

 

No próximo domingo, assim que os ponteiros baterem nas quatro da tarde, saber-se-á em que campos se irá, efetivamente, iniciar o campeonato, outrora designado de ‘distritalão’, por ser grande na emoção e na competitividade e, agora, igualmente bem dimensionado na confusão. Os jogos marcados para a primeira jornada são os seguintes: Sporting de Cuba-Milfontes; Odemirense-Penedo Gordo; Aldenovense-União Serpense; Serpa-Piense; Despertar-Vasco da Gama e Guadiana-Almodôvar. Mas vamos às estórias que podem fazer história no futebol transtagano, neste ano de graça, de todas as desgraças.

 

Sete clubes deste campeonato subscreveram, no dia 9 de outubro (véspera dos sorteios), um documento que enviaram à Associação de Futebol de Beja, enumerando um conjunto de questões de caráter sanitário, onde se sublinha “a facilidade de transmissão (contágio) do vírus e as consequências letais ou sequelas que daí advém, quer para os atletas e participantes nestes eventos desportivos, quer para as famílias” evidenciando mais adiante que “o caráter amador da competição, não se coaduna com o risco inerente do contágio e suas consequências”.

 

O documento, subscrito pelo Despertar Sporting Clube, Clube de Futebol Guadiana (Mértola), Sport Clube Odemirense, Clube Atlético Aldenovense, Clube Desportivo Praia de, Sporting Clube de Cuba e União Serpense Sport Clube transpõe de forma exaustiva, em sete páginas, a maioria das considerações que a Direção-Geral da Saúde incluiu na Orientação nº 36/2020, datada de 25 de agosto último, sobre a retoma das competições desportivas.

 

No referido manifesto, os sete clubes subscritores informam que “declinam qualquer responsabilidade no que se refere à disseminação e propagação comunitária da infeção covid-19, que possa vir a associar-se à realização de qualquer evento competitivo por si organizado, dados os múltiplos e reiterados alertas que têm vindo a manifestar…”.

 

Não obstante os alertas aqui contidos, é pertinente referir que durante a realização dos sorteios que ocorreram no pretérito dia 10 de setembro, no auditório da Biblioteca Municipal José Saramago, em Beja, nenhum dos clubes presentes, entre eles alguns dos subscritores do manifesto, teceu qualquer considerando, oposição, ou pedido de diferimento da prova para uma data posterior.

 

No entanto, no documento enviado ao organismo que tutela o futebol regional, sugere-se que “parece óbvia a inexistência de qualquer aspeto positivo, num início apressado e não consensual das referidas competições, pelo que sugerimos o adiamento da decisão para o início e formato das provas, para o final do presente mês de setembro, assim como a abertura de um ciclo de reuniões/audições com os clubes, para que se percebam, em definitivo, as dificuldades sentidas e a realidade local em que vivem”.

 

Por outras palavras, em bom português, defendem o adiamento do Campeonato Distrital da I Divisão ficando, entre linhas, inclusive, algumas alterações ao seu próprio formato competitivo. Contudo, alguns dos clubes comprometidos com o manifesto, ou já se desvincularam da ideia ali expressa, ou têm mesmo realizado jogos particulares de preparação ou, no caso do Praia de Milfontes, a vinda ao Estádio Municipal de Aljustrel para disputa de uma eliminatória da Taça de Portugal.

 

A Associação de Futebol de Beja, não obstante o processo de diálogo, com regras, que encetou com os clubes seus filiados, que numa primeira etapa até culminou com o adiamento da data dos sorteios, vê-se perante a contingência de iniciar os respetivos campeonatos, como já aconteceu nas provas sob tutela das associações do Algarve, Évora e Portalegre, apenas para citar as de maior proximidade geográfica e até o Campeonato Distrital da II Divisão arrancou, no último fim de semana, de uma forma pacifica, apenas com o adiamento de dois jogos por razões óbvias.

 

Ou seja, os pressupostos contidos no “Manifesto dos 7”, sendo compreendidos, não puderam merecer concordância. Pedro Xavier, presidente da Associação de Futebol de Beja, garantiu ao “Diário do Alentejo” que o campeonato irá começar no próximo domingo, assegurando que “o movimento já conta apenas com seis clubes, porque um deles pôs-se do lado da associação, por achar que o processo estava a seguir por outros caminhos”.

 

Segundo o dirigente, “os clubes contestatários, o que estão a fazer é a tentar adiar os jogos (evitando a falta de comparência) e nós temos aceitado, porque as regras permitem que isso aconteça, desde que o outro clube dê o seu acordo”.

 

“Estamos aqui para colaborar com toda a gente, para ajudar os clubes, porque andamos aqui há muitos anos e conhecemos as dificuldades que os nossos filiados sentem, mas ficam muitos ofendidos quando eu digo isto, mas é verdade - quem quiser jogar nestas condições difíceis, que apareça e jogue, quem não quiser, não venha. Os que quiserem jogar, estão primeiro, porque nós estamos cá para eles”, diz Pedro Xavier, lembrando que os 22 clubes da II Divisão “com menos condições, já começaram o seu campeonato, naturalmente com as mesmas dificuldades, mas nós estamos cá, prontos para ajudar no que for preciso”.

 

Um pouco à distância do início da prova é possível perceber que o recurso dos contestatários é acordar com os adversários o adiamento das partidas: o Guadiana procurou negociar com o Almodôvar, o Milfontes já adiou o jogo, com o Cuba, para 27/12 e o Odemirense pode não ir a jogo por desacordo de datas com o Penedo Gordo. O União Serpense jogará, se o Aldenovense o receber nos seu próprio campo e o Despertar, primeiro subscritor do manifesto, também estará pronto para receber o Vasco da Gama de Vidigueira. Só recordar, por fim, que a não realização de jogos por falta de comparência de uma das equipas será considerada falta injustificada, algo previsto no regulamento disciplinar, com uma moldura penal que implica a derrota, multa pecuniária, pagamento das despesas de arbitragem e organização, descida de divisão e, eventualmente, a suspensão temporária da atividade.

 

Resta esperarmos pelas quatro da tarde de domingo para sabermos onde os árbitros farão soar os apitos de início de jogo ou se soarão campainhas de alarme para uma inédita ‘greve’, ‘bluff’ ou ‘fuga para a frente’, no futebol distrital. Se existir bom senso, a “montanha deverá parir um rato”, mas ficarão fendas’ nas encostas e no sopé’ da confiança entre algumas instituições.

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