Diário do Alentejo

O amor ao cantar alentejano na voz de Bernardo Emídio

28 de março 2025 - 08:00
O músico está, neste domingo, na final do “Got Talent Portugal”
Foto | Ricardo ZambujoFoto | Ricardo Zambujo

Músico dos Adiafa e de Os Vocalistas, Bernardo Emídio encontra-se no grupo restrito de 10 finalistas que atuarão no próximo domingo no concurso televisivo “Got Talent Portugal”, transmitido pela “RTP”. Independentemente da classificação que vier a obter, o cantor sublinha que a sua atuação será feita de “amor e verdade”, homenageando, de forma sentida, o “cante alentejano”.

 

Texto José Serrano

 

Bernardo Emídio, natural de Santa Clara do Louredo, aldeia comummente conhecida por Boavista, freguesia do município de Beja, é um dos 10 finalistas do concurso “Got Talent Portugal”, tendo chegado à derradeira fase do programa através de duas atuações, em ambas acompanhado à viola campaniça pelo seu pai, José Emídio.

Na primeira atuação o músico alentejano apresentou o tema “Ó águia que vais tão alta”, pertencente ao cancioneiro popular alentejano, moda que lhe deu de imediato o “passaporte”, entregue pelo júri, para a meia-final do concurso, na qual apresentou uma versão do tema “Hino dos mineiros”, canção identitária do Grupo Coral do Sindicato Mineiro de Aljustrel, acompanhado de um coro masculino constituído por seis cantadores. Bernardo Emídio, elemento dos Adiafa desde 2010 e de Os Vocalistas desde 2015, levou, nesta fase, aos jurados, e a muitos lares portugueses, pela sua comovida atuação, a emotividade do cantar alentejano, que lhe permitirá estar, com mais nove finalistas, neste domingo, no derradeiro dia desta edição do certame, com início às 21:00 horas, na “RTP1”.

Se vencer, o cantor dedicará o prémio, “em partes iguais”, à sua família, ao cante alentejano e ao Alentejo, a sua “terra amada”, sublinha. Terra amada que lhe proporcionou, desde o berço, o amor pelo cante alentejano, declarado, em 2014, pela Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e Cultura (Unesco), Património Cultural Imaterial da Humanidade.

“A paixão pela música, em geral (ouvia-se em minha casa muito jazz e ainda fiz parte de uma banda rock), e pelo cante, em particular, foi-me transmitida, muito cedo, pelo meu pai e tem perdurado ao longo das várias fases da minha vida. Quando era adolescente, eu e um grupo de amigos apanhávamos o comboio para Cuba (Beja) e visitávamos as tabernas da vila, para ouvir os homens em coro, ao pé das talhas, cantando espontaneamente. Íamos pela vontade que tínhamos de o escutar, de saber mais. O que nós mais queríamos era aprender a fazer aquilo, a cantar como eles cantavam. Era absolutamente fascinante”.

A confessada paixão induz o cantor a interpretar, “sempre”, a música popular alentejana “com amor”, facto que poderá levar a quem o ouve, acredita, a sentir “essa verdade” e a com ele criar empatia. “O público entende facilmente, seja qual for o género musical, se cantamos com amor e com verdade, e isso é uma das coisas que eu mais prezo no cante alentejano, que ao ser cantado mostra a sua pureza. O cante toca todos, em todo o lado… é uma força difícil de explicar”.

Independentemente do resultado que possa vir a obter nesta final, Bernardo Emídio considera ter já ganho “com esta participação (que sinto com enorme responsabilidade sobre os meus ombros)”, refere, pois proporcionou mais um momento de divulgação do cante, através da sua passagem em horário televisivo nobre. “Naqueles momentos em que estou a atuar a minha voz está a chegar a muita gente e está a transmitir aquilo que é o cantar alentejano. E é, para mim, muito importante existir um número crescente de pessoas atraídas por esta forma de expressão musical, que querem saber mais sobre este património, que se queiram deslocar ao Alentejo para a escutar. De maneira a que o cante esteja presente cada vez mais, e mereça um lugar condigno no panorama musical português, de norte a sul, e internacional. Através da sua presença, assídua, nas salas de espetáculos, nos cartazes das festas das localidades e dos festivais europeus de world music. O cante alentejano merece esse lugar de distinção”.

A canção que o finalista da Boavista levará domingo à final está já escolhida, adiantando o músico, sem divulgar qual será, que é, também, “muito comovente”, à semelhança das duas anteriores que apresentou. “O cante alentejano é, no seu todo, muito emotivo, mas este tema é-o em particular, nomeadamente, para mim, pois foi o primeiro tema que, em pequenino, eu aprendi e cantei, do início ao fim”, elucida. Relativamente às expectativas que tem para a “gala” de domingo, Bernardo Emídio diz, que independentemente da classificação, quer “estar muito presente” em palco, de forma a transmitir a todos que o vejam o sentimento que, está certo, o levará a desfrutar. “E se se emocionarem que votem em mim…”. Uma coisa é certa, frisa, independentemente de o “caneco” vir ou não para terras bejenses: “A minha atuação será, isso posso garantir, uma homenagem sentida ao cante alentejano”.

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